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Coluna

Pedro Doria – Jornal Estadão

Uma delas foi o inventor do computador

Alan Turing, condenado em 1952 por ser homossexual, recebeu perdão póstumo em 2013

Um dos raros poderes de verdade que um monarca britânico tem é o do perdão real. Em essência, quem ganha o perdão tem sua sentença comutada. Elizabeth II o usou apenas três vezes. Dois detentos em Gales tiveram a pena diminuída após salvarem um funcionário da penitenciária que havia sido atacado por um javali. A terceira pessoa perdoada foi Alan Turing, o homem sem o qual o computador não existiria.

Esta é uma história inacreditável. Turing inventou o computador em sua cabeça, como modelo teórico, aos 23 anos. Na Segunda Guerra, alistou-se e designaram-no para trabalhar em Bletchley Park, o núcleo de quebra de códigos da inteligência britânica.

Alan Turing, condenado em 1952 por ser homossexual, recebeu perdão póstumo em 2013
Alan Turing, condenado em 1952 por ser homossexual, recebeu perdão póstumo em 2013 Foto: Science Museum, London, SSPL

Àquela altura, os nazistas já usavam Enigma, uma máquina elétrica com rotores, luzes e um teclado. A cada dia, as unidades militares alemãs recebiam um código novo para a máquina. Este código único embaralhava as frases digitadas numa ponta e as desembaralhava na outra. Os modelos de Turing ajudaram a construir a máquina que quebrou o código. O smartphone em seu bolso nasceu desta máquina.

Em janeiro de 1952, a casa do herói foi assaltada e ele registrou a queixa. Quando um policial o visitou para perguntar os detalhes, observou que também na sala estava um rapaz bem mais jovem. Indagou quem era. “É meu namorado”, respondeu o matemático.

Quem sabe de Alan Turing e não é da área de tecnologia o conhece pelo filme “O Jogo da Imitação”, em que é vivido por Benedict Cumberbatch. Lá, Turing parece um sujeito alheio ao mundo e um quê arrogante. Quem o conheceu, porém, o descreve como tímido e amoroso. O que ele nunca teve vontade de fazer é ficar no armário. Nunca divulgou que era homossexual, tampouco lidou com a questão como algo a esconder. Quando o policial perguntou, respondeu.

Na Inglaterra de 1952, homossexualidade era crime. Turing viu-se obrigado a escolher como pena alternativa um tratamento hormonal. Era um homem atlético, vaidoso. Os remédios fizeram seus peitos incharem como se fossem seios. Estava deprimido.

Na noite de 7 de junho, em 1954, Alan Turing deitou-se na cama e comeu meia maçã embebida em cianeto. Foi achado na manhã seguinte pela faxineira. Elizabeth II já era rainha.

Aos nossos ouvidos contemporâneos, que o Reino Unido tenha tratado aquele que talvez tenha sido o britânico mais genial do século 20 desta forma soa como barbárie.

Elizabeth II perdoou três pessoas por seus crimes. Um deles, em 2013, foi Alan Turing. Póstumo. Mas o gesto tem significado.

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By valeon