Editorial
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Gazeta do Povo
Lula disse à revista The Economist que “o petista está cansado de pedir perdão” pela corrupção e pela crise de 2015-16.| Foto: Renato Pizzutto/TV Band
No mesmo dia em que a Justiça Eleitoral ordenou que saísse do ar o site de uma falsa “agência de checagem de notícias” criada pela campanha petista para espalhar fake news favoráveis ao ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula, o império da mentira resolveu se expandir em outra direção. “O petista está cansado de pedir perdão”, disse Lula à revista britânica The Economist, em reportagem publicada na segunda-feira – no caso, perdão pelo petrolão e pela maior recessão da história do país, legada pela “nova matriz econômica” que o petismo impôs ao país no fim do segundo mandato de Lula e durante os dois mandatos de Dilma Rousseff.
Estamos diante de um caso raríssimo em que alguém se cansa daquilo que não fez, como lembrou a própria publicação britânica. Pois nem no caso da recessão, e muito menos no caso da roubalheira nas estatais, houve qualquer tipo de admissão real e sincera de erros ou crimes, muito menos pedidos de desculpas. Na única ocasião recente em que Lula chegou perto disso (o que talvez tenha bastado para deixá-lo exausto), em sua entrevista ao Jornal Nacional, o petista não apontou nomes – “você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram”, afirmou sobre a Petrobras – ou então culpou terceiros, ao dizer que Eduardo Cunha e Aécio Neves “trabalharam o tempo inteiro para que ela não fizesse mudanças”, em referência a uma suposta tentativa de Dilma Rousseff de reverter “equívocos na questão da gasolina” e nas “desonerações em isenção fiscal”. Os tais “equívocos”, em relação aos combustíveis, foram muito mais que isso: trata-se da decisão irresponsável e populista de segurar artificialmente os preços para que a escalada inflacionária não prejudicasse a reeleição de Dilma em 2014, uma política que contribuiu para deixar a Petrobras na lona.
Na única ocasião recente em que Lula chegou perto de uma admissão dos esquemas de corrupção e dos erros na política econômica (o que talvez tenha bastado para deixá-lo exausto), ele não apontou nomes ou então culpou terceiros
Em vez da admissão sincera dos crimes e erros e de pedidos de perdão, a história recente registra inúmeros episódios em que o petismo defendeu seu modelo econômico a ponto de voltar a propô-lo em caso de vitória nas eleições de outubro, bem como defendeu também todos os seus integrantes envolvidos em escândalos de corrupção. Em abril, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, apresentou plataformas que lembravam muito a “nova matriz econômica” em um jantar com empresários – “o clima foi cordial, mas o conteúdo foi horroroso”, disse um deles à CNN Brasil na ocasião. Meses antes, o ex-ministro Guido Mantega ganhou a chance de falar em nome do petismo ao publicar artigo no jornal Folha de S.Paulo com ataques à reforma trabalhista e ao teto de gastos, o mesmo que Lula já prometeu derrubar se for eleito.
Em relação aos escândalos de corrupção, uma expressão resume tudo: “guerreiro do povo brasileiro”. É com este bordão que, desde a época do mensalão, os militantes se acostumaram a saudar todos os membros do partido que foram pegos articulando os esquemas que buscaram fraudar a democracia brasileira, comprando apoio parlamentar para garantir a manutenção de seu projeto de poder, em conluio com partidos da base aliada e, no caso do petrolão, também com empreiteiras. Por anos o petismo se acostumou a afirmar que os esquemas jamais existiram e que tudo não passou de histórias inventadas para prejudicar Lula e o PT. Isso é o oposto completo de “estar cansado de pedir perdão”.
O petismo não se desculpou pelo mensalão, não se desculpou pelo petrolão e não se desculpou pela crise de 2015-16 – pelo contrário, sempre negou tudo, alegou perseguição ou defendeu suas políticas. Não se desculpou pelo apoio incondicional a ditaduras carniceiras como a cubana, a venezuelana e a nicaraguense. Não se desculpou pela hostilidade à imprensa livre demonstrada em episódios como o vandalismo na sede da Editora Abril, não se desculpou pela violência política protagonizada por seus membros – pelo contrário: o ex-vereador que atirou um empresário contra um caminhão em movimento em 2018 foi recentemente elogiado por Lula. Ao dizer que “o petista está cansado de pedir perdão”, Lula apenas comprova que ele não se cansa mesmo é de mentir.
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