Antipetismo

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

AME7434. RÍO DE JANEIRO (BRASIL), 15/09/2022.- El presidente brasileño, Jair Bolsonaro, participa en un evento de celebración del cumpleaños del pastor evangélico Silas Malafaia, hoy, en Río de Janeiro (Brasil). EFE/ André Coelho


Bolsonaro vai aproveitar ausência de Lula para enfatizar escândalos de corrupção nos governos petistas sem haver réplicas ou direito de resposta| Foto: André Coelho/ EFE

O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou participação no debate do pool liderado por SBT e CNN, neste sábado (24), às 18h15. A estratégia desenhada junto aos coordenadores eleitorais é aproveitar a audiência televisiva para focar no antipetismo a fim de polarizar a discussão contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não irá ao evento do SBT/CNN.

A ausência do candidato petista é até vista como positiva dentro da campanha. Interlocutores afirmam que será uma oportunidade para Bolsonaro subir o tom nas críticas sem que haja réplica do ex-presidente ou pedido de direito de resposta.

O objetivo dos estrategistas do candidato do PL é elevar a rejeição de Lula e evitar que o petista consiga atrair o voto útil nessa reta final de campanha. O planejamento traçado pelo presidente também aposta na absorção do voto útil. Para isso, cogita manter o discurso de comparar Lula e o PT a países governados por regimes de esquerda, inclusive ditatoriais.

A comparação visa induzir o eleitor a acreditar que, se Lula vencer as eleições, a economia sofrerá impactos ou haverá risco de atentar contra os direitos humanos no país. A estratégia mira majoritariamente o eleitor da classe média e foi realçada por Bolsonaro na última quinta-feira (22), em Manaus. “Não queremos que amanhã aconteça com o Brasil o que atualmente acontece com a Venezuela”, discursou.

Outra aposta de Bolsonaro no debate é ressaltar os escândalos de corrupção nas gestões petistas. Esta é uma tônica já explorada pelo presidente, a despeito de não ter surtido muitos efeitos até o momento na busca por mais votos.

Pauta de costumes também é cogitada pela campanha de Bolsonaro
Parte dos estrategistas eleitorais do presidente também defende que ele fale sobre pautas de costumes, como ideologia de gênero e aborto, no debate do SBT/CNN. Para alguns coordenadores da campanha, seria uma resposta estratégica à mais recente propaganda de Lula. O candidato do PT subiu o tom contra o presidente ao relembrar falas dele em defesa da tortura e agressivas em relação às mulheres, bem como comentários negativos feitos durante a pandemia de Covid-19, além de suspeitas sobre sua família pela compra de imóveis.

Para estrategistas de Bolsonaro, a campanha de Lula também fez sua aposta pelo “medo” ao tentar desqualificar o presidente. Por esse motivo, uma parcela dos coordenadores defende que a pauta com maior potencial de absorção de votos é a de costumes e valores, não a sobre corrupção.

A lógica entre os entusiastas dessa estratégia é convencer o eleitor de que uma possível vitória de Lula implicaria em insegurança pública e fortalecimento do narcotráfico, legalização do aborto, regulamentação da imprensa e das mídias sociais e rediscussão da ideologia de gênero no Congresso.

A estratégia de relembrar os casos de corrupção de Lula não surtiu grande efeito sobre o eleitorado até agora, admitem alguns interlocutores da campanha após análises internas.

Por isso, a possibilidade de Bolsonaro falar sobre pauta de costumes e valores nos debates seria a sinalização de uma nova “etapa” do planejamento eleitoral nessa reta final de campanha. Embora ele tenha feito referências a essa agenda e parte de seu conteúdo seja usada nas redes sociais por aliados, ela ainda não ganhou destaque nas propagandas eleitorais na rede nacional de rádio e TV.


Campanha de Bolsonaro se divide sobre a participação em debates
A opção por participar do debate deste sábado no SBT, e possivelmente no da TV Globo na próxima quinta-feira (29), não foi uma decisão unânime dentro da campanha.

O sentimento entre alguns coordenadores eleitorais de Bolsonaro não mudou desde o primeiro debate, organizado pela TV Band, quando o presidente foi atacado por outros candidatos e acusado de ser agressivo com mulheres após reagir mal a uma pergunta da jornalista Vera Magalhães. Uma parcela defende que o ideal é ele não comparecer a outros debates por entender que é muito esforço e energia gasta para oferecer palanque a presidenciáveis sem grande expressividade.

A confirmação de que Lula não irá ao debate do SBT/CNN deu ainda mais argumentos para a ala da campanha que defendia que ele não participasse. Bolsonaro ouviu os conselhos, mas decidiu ir assim mesmo. Um dos motivos ditos por ele é o compromisso junto aos eleitores e a audiência potencial que o programa pode atingir com a sua participação.

O argumento em torno da audiência é semelhante ao da ala da campanha que defende a participação de Bolsonaro no deste sábado e no debate da Globo. Para esse grupo, é preciso valorizar o alcance midiático e os ganhos potenciais de votos que o presidente pode absorver dentro da estratégia de enfrentamento com Lula, estando o ex-presidente presente ou não.

Um dos coordenadores que partilha da visão de que Bolsonaro deve ir sim aos debates é o ministro das Comunicações, Fábio Faria. “É uma oportunidade para ele falar fora da bolha, para pessoas que muitas vezes só veem notícias negativas”, afirmou na quarta-feira (21) ao Spaces da Folha de S. Paulo no Twitter, espécie de programa de rádio veiculado na rede social.

O que mais Bolsonaro vai falar no debate do SBT

Embora a estratégia base seja polarizar os debates, Bolsonaro também irá preparado para falar sobre economia, questões sociais e ações adotadas para as mulheres em seu governo. Todos os estrategistas da campanha entendem que ele também precisa ser propositivo, principalmente em temas voltados para políticas públicas.

A ideia é seguir um roteiro elaborado por estrategistas que valorize o antipetismo paralelamente às falas que enalteçam o legado do governo sobre a economia, como a desaceleração da inflação, a geração de empregos e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O mesmo já foi adotado nas propagandas eleitorais.

Destaques aos feitos do governo durante a pandemia, como o auxílio emergencial, e ações sociais como o Auxílio Brasil devem estar presentes no discurso. A conclusão das obras do Rio São Francisco no Nordeste também deve ter algum destaque. Segundo interlocutores, o objetivo no campo propositivo é apresentar um discurso alinhado ao que foi feito por Bolsonaro na abertura dos debates gerais da 77ª Assembleia Geral da ONU.

Isso inclui falas sobre as mulheres. A campanha de Bolsonaro acredita que adversários políticos possam provocá-lo sobre o tema, ou mesmo jornalistas possam fazer perguntas a respeito. Por isso, ele foi aconselhado a falar sobre a redução do feminicídio e leis sancionadas que atendem as mulheres.

O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, concorda com as estratégias traçadas pela campanha, inclusive com a ida aos debates. Para ele, o presidente sairá bem sucedido se “falar verdades”, seja no campo propositivo ou dentro da estratégia de polarização.

“Por mim, Bolsonaro deveria pegar pesado no debate falando a verdade, que o Brasil pode virar uma Venezuela, assim como a Argentina. É preciso desmascarar a esquerda que diz que Lula é inocente e mostrar que a economia está excelente, apesar da guerra e pandemia. Se fosse o PT já estava quebrado”, diz. Sobre as mulheres, Bibo também acha que é prudente ter cautela. “Ele pode se conter um pouco. Não faz nada de mal, porque ninguém é perfeito”, acrescenta.

Lula evita debate do SBT/CNN para focar no da Globo: o que está por trás da estratégia
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília


Debate da TV Globo está marcado para próxima quinta-feira (29), três dias antes do primeiro turno| Foto: Renato Pizzutto/TV Band

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou oficialmente que não comparecerá ao debate deste sábado (24) organizado por um pool de veículos de comunicação que inclui, entre outros, o SBT e a CNN Brasil. A decisão é vista como parte de uma estratégia de preparação para o debate da TV Globo, considerado decisivo. Além da expectativa de audiência maior, o evento da principal emissora de tevê do país ocorrerá na quinta-feira (29) que antecede o primeiro turno.

Será a última grande chance que Lula terá para convencer eleitores indecisos e tentar vencer a eleição presidencial sem a necessidade de um segundo turno. Para isso, o petista precisa obter no dia 2 de outubro mais de 50% dos votos válidos (que exclui brancos e nulos). Uma das apostas da campanha é no voto útil de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).

Todos os outros presidenciáveis com representação no Congresso confirmaram presença no evento do SBT/CNN, que reúne ainda o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Veja, o portal Terra e as rádios Eldorado e Nova BrasilFM. Inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aceitou o convite oficialmente nesta sexta-feira (23). O debate no SBT começa às 18h15.

“Eu adoraria participar porque eu tenho um profundo prazer de participar de debate, é bom. Lamentavelmente, o debate do SBT demorou um pouco. Minha coordenação mandou uma carta para fazer um pool, quando veio a resposta do debate, eu já tinha agenda no Rio e em São Paulo”, disse Lula em Ipatinga (MG), onde cumpriu agenda de campanha nesta sexta.

Já Lula fará dois atos na cidade de São Paulo neste sábado: o primeiro será no bairro do Grajaú, na zona sul, às 11 horas, e o segundo comício será em Itaquera, zona leste, às 17 horas. No domingo, ele estará no Rio de Janeiro.

“O Lula quer viajar, quer voltar a Minas Gerais, ir mais uma vez a São Paulo. Por esse motivo, de dificuldade de agenda, nós estamos priorizando viagens”, afirmou Edinho Silva, responsável pela comunicação da campanha petista, à CNN justificando a ausência do ex-presidente no debate. “É uma opção da coordenação da campanha”, completou.

Em nota, o pool de veículos de comunicação que promove o debate deste sábado disse que recebeu com “surpresa” a justificativa do ex-presidente para se ausentar do debate. “Diferentemente do que foi declarado pelo candidato, a formação do pool deu-se antes mesmo da sugestão feita por sua campanha, com a parceria firmada originalmente entre SBT, VEJA, NovaBrasil e Estadão/Eldorado, ainda em março deste ano”, informou.

Ainda de acordo com o comunicado, “em 22 de março, os quatro grupos enviaram formalmente email às campanhas presidenciais, comunicando a realização do debate e informando as datas escolhidas para os confrontos do primeiro e do segundo turno. E, em 28 do mesmo mês, foi realizada a primeira reunião presencial com representantes dos candidatos convidados. A campanha de Lula esteve presente em tal reunião, assim como em todas as demais reuniões convocadas para discutir os detalhes e regras do debate”.

Por fim, o pool afirmou que “lamenta a decisão do candidato de não participar, por entender que o debate é um dos mais importantes instrumentos para fomentar a democracia e ajudar o eleitor na hora do voto”.

Um olho na audiência e outro no voto útil
Integrantes da campanha afirmam que, ao priorizar o debate da Globo, que conta com a maior audiência do Brasil, Lula pretende amarrar a estratégia pelo chamado voto útil. Para isso, o petista vem sendo treinado para possíveis confrontos diretos com Ciro Gomes e Simone Tebet.

Em 2018, o debate da emissora teve média de 22 pontos no Ibope. Com a atualização do número de telespectadores feita pela Kantar Ibope, este índice representaria hoje 4,5 milhões de pessoas diante da TV somente na Grande São Paulo.

Os eleitores de Ciro e de Tebet são os mais cortejados por Lula na busca pela vitória ainda no primeiro turno. Ambos têm atacado o petista por causa dessa estratégia.

No voto útil, o eleitor abre mão de um candidato que acredita ter poucas chances de vitória para votar em outro melhor colocado nas pesquisas.

“Voto útil é o voto do futuro, não é nem tentar voltar às velhas fórmulas do passado, que não deram certo, que ficaram quatro mandatos e não fizeram o dever de casa. E muito menos manter um governo insensível, que não planeja, não conhece as realidades do Brasil e só vive criando crises artificiais para esconder a sua incompetência e a sua incapacidade”, disse Tebet recentemente, em menções veladas a Lula e Bolsonaro.

O objetivo da campanha petista é usar a grande audiência da Globo para sensibilizar o eleitorado a votar em Lula e encerrar a eleição no dia 2 de outubro.

O que Lula pretende dizer no debate da TV Globo
Sob orientação da campanha, Lula já se prepara para rebater possíveis questionamentos sobre corrupção por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL) no debate da TV Globo. O petista deve contra-atacar citando as compras de imóveis em dinheiro por parte da família Bolsonaro.

Desde que a reportagem do portal UOL revelou que ao menos 51 dos 107 imóveis da família Bolsonaro foram pagos com dinheiro em espécie, o atual presidente ainda não foi questionado diretamente sobre o tema pelos seus adversários. O entorno de Lula avalia que esse tema pode acabar desestabilizando Bolsonaro durante o debate.

Nesta sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal determinou a retirada do ar das reportagens do UOL sobre transações imobiliárias da família Bolsonaro. A decisão liminar atendeu a um recurso da defesa do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A campanha de Lula já vem explorando o caso da compra de imóveis em sua propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Outro assunto que o ex-presidente pretende explorar no debate são as suspeitas de corrupção no MEC, que resultaram na demissão e posterior prisão do ministro Milton Ribeiro. A avaliação é de que as respostas podem acuar Bolsonaro no embate sobre a pauta corrupção.


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A estratégia dos aliados de Lula ocorre depois que o candidato do PL explorou os casos de corrupção dos governos petistas durante o primeiro debate da TV Band, ocorrido no final de agosto. Na ocasião, a avaliação foi de que o petista não soube se explicar e acabou saindo derrotado do embate direto com o atual presidente.

O próprio Lula, em entrevista a uma rádio de Belém, três dias após o debate, deixou transparecer que a resposta que deu a Bolsonaro sobre corrupção na Petrobras não tinha sido satisfatória.

“Obviamente que o debate da Bandeirantes, do jeito que ele é formulado, cria muita dificuldade para o debate de verdade, que é o enfrentamento entre os candidatos. Mas haverá outros debates e outras oportunidades. Vamos provar quem é quem na política brasileira”, amenizou na ocasião.

Campanha quer Lula sereno, mas combativo ao ser atacado 
A expectativa dos assessores de Lula é de que o ex-presidente não suba o tom contra os adversários e demonstre um tom sereno e calmo diante de questionamentos dos adversários. Apesar disso, avaliam que o petista vai precisar ser combativo e incisivo durante o debate da Globo.

Paralelamente, a campanha espera que o debate da Globo seja usado por Lula para falar diretamente com segmentos do eleitorado. É esperado que Lula faça acenos diretos para as mulheres e para eleitores da classe média. Esses dois grupos são tidos com os mais estratégicos para que o petista vença ainda no primeiro turno. 

Lula deve fazer ainda um apelo para que o eleitorado compareça às urnas no dia 2 de outubro. Além de atrair eleitores de Ciro e de Tebet, a campanha do PT acredita que evitar a abstenção do eleitorado no primeiro turno será determinante na estratégia adotada para essa reta final da campanha.


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