Leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Tudo depende agora de como a Otan responderá ao eventual emprego de armas nucleares

Lourival Sant’Anna – Jornal Estadão

A discussão sobre os meios de conter Vladimir Putin ganhou novos contornos depois da ameaça do presidente russo de usar armas nucleares sob pretexto de garantir a “integridade territorial” de seu país. Não porque a chantagem seja nova, mas porque veio acompanhada de preparativos para a anexação de quatro províncias da Ucrânia ocupadas pelos militares russos.

Repetindo o roteiro seguido na Crimeia e em partes de Donetsk Luhansk, a administração militar russa impôs a realização de referendos sobre integrar-se à Rússia. A “consulta” é feita sob coação dos militares, que chegam a bater na porta de moradores para colher seu voto verbal. O resultado é uma previsível e fraudulenta vitória do “sim”.

Putin unifica lados políticos com Guerra na Ucrânia
Putin unifica lados políticos com Guerra na Ucrânia 

O próximo passo é a anexação ao território russo das províncias de Kherson e Zaporizhzia, ao sul, e das partes recém-conquistadas de Donetsk e Luhansk, ao leste. A comunidade internacional não reconhecerá essas anexações.

Mas elas bastarão para Putin alegar que a contraofensiva para recuperar os territórios ucranianos viola a soberania russa. E assim recorrer ao arsenal nuclear, embora a doutrina aceita entre as potências nucleares é a de que esse tipo de arma só pode ser empregado para se defender de um ataque nuclear.

Putin encara a derrota na Ucrânia como ameaça existencial. As premissas são as mesmas que o levaram à invasão: a simulação de uma ameaça externa para justificar sua perpetuação no poder como único líder capaz de proteger a Rússia.

Imagens da invasão da Ucrânia pela Rússia

Militar ucraniano é visto em uma janela residencial danificada no subúrbio de Kiev, na Ucrânia;Os combates se intensificaram entre a noite de quinta-feira e madrugada de sexta (horário de Brasília), com intenso bombardeio em diversas cidades do país
Pessoas realizam protesto contra a invação da Rússia à Ucrânia, em Taipei, em Taiwan;Na noite de quinta-feira, 24, funcionários do alto escalão do governo dos Estados Unidos afirmaram que acreditam que Kiev poderia cair rapidamente com o avanço das forças russas

Um soldado do exército ucraniano inspeciona fragmentos de uma aeronave abatida, em Kiev, na Ucrânia;O governo encorajou moradores a fazerem coquetéis molotov, enquanto também aconselham outros a procurarem abrigo

Ele é acusado de tantos crimes que, se deixar o poder, corre o risco de terminar a vida na prisão.

mobilização de até 300 mil soldados russos não surtirá resultados, porque eles estarão ainda menos treinados e motivados que seus precursores. O caminho da Rússia está mapeado. Tudo depende agora de como a Otan responderá ao eventual emprego de armas nucleares. Ao que tudo indica, serão armas táticas, de potência limitada a um raio pequeno, mas com as mesmas consequências calamitosas da radiação.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a organização “não se envolverá no mesmo tipo de retórica nuclear imprudente e perigosa que o presidente Putin”. Mas acrescentou: “Fomos claros em nossas comunicações com a Rússia sobre as consequências sem precedentes, sobre o fato de que a guerra nuclear não pode ser vencida pela Rússia.”

Significa que a Otan usará todos os meios de que dispõe para que os crimes de guerra de Putin não compensem. As etapas serão: prover a Ucrânia com mais armas e treinamento; se não for suficiente, enfrentar os russos numa guerra convencional; finalmente, em caso extremo, recorrer ao arsenal nuclear.

* COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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