SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chanceler chinês, Wang Yi, alertou que qualquer um que tente impedir a reunificação de seu país e Taiwan será “esmagado pelas rodas da história”. A fala se deu em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, neste sábado (24).
Wang ainda declarou que só quando o continente e a ilha voltarem a ser um só território “haverá paz”. “Devemos combater firmemente as atividades separatistas de independência de Taiwan e dar passos mais enérgicos para nos opormos à interferência externa”, disse ele.
Taipé rompeu com Pequim em 1949, quando nacionalistas que haviam sido derrotados pelas tropas de Mao Tse-tung fugiram para a ilha e ali forjaram um governo capitalista. A região se autodenomina independente, mas as autoridades chinesas a consideram uma província separatista rebelde, que deve ser recuperada.
Um dos meios que usam para isso é isolando-a diplomaticamente, numa política conhecida como “uma só China”. Esta estabelece que países só podem ter relação com Pequim, gigante econômica, ao romperem laços com Taipé.
No entanto, os Estados Unidos mantêm uma “ambiguidade estratégica” em relação ao assunto, concebida tanto para evitar uma invasão chinesa quanto para dissuadir a ilha de provocar a China declarando-se independente.
Uma visita da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan no mês passado pôs em xeque esta ambiguidade. Pelosi foi a mais alta autoridade americana a visitar a região em 25 anos, e sua viagem atingiu diretamente pontos sensíveis da administração de Xi Jinping.
As declarações de Wang Yi na ONU agora têm, portanto, os EUA como principal alvo, em consonância com a diplomacia cada vez mais assertiva do país asiático. O discurso linha-dura reflete uma veemência comum para os chineses quando se trata da ilha.
O chanceler chinês havia se reunido na véspera com seu análogo americano, Antony Blinken. Já no encontro, havia advertido o representante sobre o apoio crescente dos EUA à ilha rebelde –um projeto de lei que obrigaria Washington a vender suprimentos militares a Taipé, de modo a garantir sua defesa contra as forças de Pequim, avançou recentemente no Senado.
A aproximação dos americanos com a ilha também foi mencionada pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, na mesma Assembleia-Geral, momentos depois. “Eles estão brincando com fogo no caso de Taiwan”, afirmou, acusando os americanos de tentarem subjugar uma série de áreas na Ásia.
Na semana passada, o próprio presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a o princípio da “China única” em um discurso. Nem ele, nem Xi foram pessoalmente a Nova York este ano.
Moscou tem em Pequim um de seus aliados mais poderosos hoje –os chineses exercem o que analistas chamam de uma “neutralidade pró-Rússia” na Guerra da Ucrânia, reiterando a soberania de Kiev, mas sem condenar os russos pela invasão. Dias antes do início do conflito, as duas nações assinaram um pacto de amizade sem limites, que tem como base a hostilidade comum à liderança global dos Estados Unidos.
Mas o prolongamento da guerra e a perspectiva de derrota de Putin têm representado um revés estratégico para o regime liderado por Xi.
Em seu discurso, Wang pediu que Rússia e Ucrânia não permitam que a guerra transborde para além de suas fronteiras. Chamando o conflito de “crise ucraniana”, ele ainda afirmou que a prioridade de Pequim neste momento é “facilitar as negociações de paz”, e que o país asiático “tem feito esforços para resolver os problemas de todas as partes de maneira construtiva”.