ECONOMIA
Fernando Cesarotti – EQI Investimentos.
O primeiro turno das eleições presidenciais, realizado neste domingo, terminou com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) inidicados para o segundo turno, que será disputado no dia 30 de outubro.
Às 21h35 deste domingo, com 97,56% dos votos apurados, Lula, ex-presidente entre 2003 e 2010, tinha 47,95% dos votos válidos, em torno de 55,3 milhões de votos. O presidente Bolsonaro, que busca a reeleição, tinha 43,62% dos votos, cerca de 50,3 milhões nessa etapa da apruação.
Simone Tebet (MDB) ficou em terceiro, com 4,21% dos votos, e Ciro Gomes (PDT) terminou em quarto, com 3,05%.
O que esperar dos possíveis novos presidentes?
No último dia 20, o canal do Youtube do Eu Quero Investir transmitiu o EQI Talks “Eleições 2022: possibilidades políticas e o impacto nos investimentos”, comandado por Denys Wiese, economista e head de renda fixa; Valter Manfro, head de operações estruturadas; e Roberto Chagas, gestor de renda variável da EQI Asset.
No evento, eles debateram o que se pode esperar de um possível novo governo Bolsonaro ou novo governo Lula.
O que esperar de um governo Bolsonaro?
- Redução do peso do Estado;
- Desburocratização;
- Redução da dívida em % do PIB;
- Redução de impostos;
- Proteção dos direitos de propriedade;
- Empreendedorismo;
- Liberdade Individual;
- O indivíduo e a família não podem depender do Estado;
- Continuidade da agenda de reformas;
- Transparência e segurança jurídica;
- Concessões e privatizações;
- Fomento à infraestrutura com capital privado;
- Maior produtividade dos agentes públicos, com avaliação de desempenho, metas e planos de carreira;
- Tripé macroeconômico garantido: teto de gastos e autonomia do Banco Central;
- Aumento da concorrência e da competitividade.
Análise da proposta de Bolsonaro
O economista Denys Wiese analisa que a proposta de governo apresentada pelo atual presidente Jair Bolsonaro deve “destravar valor na economia”.
“Vejo a criação de um ambiente de negócios mais seguro, a continuidade de entrada de capital estrangeiro no Brasil e investimentos de longo prazo sendo feitos. Se houver redução da dívida em % do PIB, os juros irão cair e daí, os investimentos em negócios, renda variável, ações e Fundos Imobiliários tendem a andar bastante. Até a renda fixa, como as NTNBs longas, devem se beneficiar”, destaca o Denys Wiese.
Para o gestor da EQI Asset, “o governo de Bolsonaro deve dar sustentabilidade ao PIB e previsibilidade na economia”.
“Isso deve causar impactos na expectativa de inflação do país, que espera corte de juros em 2023, o que é bom para os mercados e para a bolsa de valores. De qualquer forma, analisamos que em ambos os governos não deve haver uma grande ruptura”.
Bolsonaro e os FIIs
No caso de uma reeleição de Bolsonaro, o analista de FIIs da Monett, Felipe Paletta entende que não haverá nada diferente do que se viu nos últimos anos para os fundos imobiliários.
“O foco do governo tem sido a redução do investimento do governo e estímulo ao desenvolvimento do mercado de capitais. Por isso, podemos esperar que a indústria de FIIs siga crescendo em representatividade e que o patrimônio dos fundos cresça”, avalia.
“Por outro lado, podemos esperar um crescimento lento da economia. Esse impacto pode tornar o movimento de apreciação dos imóveis mais lento”, pondera.
Uma combinação do portfólio com um pouco mais de FIIs de CRI pode ser uma decisão assertiva.
Quem é Jair Bolsonaro?
Jair Messias Bolsonaro é militar reformado, chegando a capitão do Exército. É o 38º presidente do Brasil, cargo que assumiu em 1º de janeiro de 2019.
Foi deputado federal pelo Rio de Janeiro entre 1991 e 2018. Nasceu em 1955, no município de Glicério, no interior do estado de São Paulo, mas morou em várias cidades paulistas.
Formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1977. Posteriormente, serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo do Exército.
O candidato a vice-presidente na chapa é o militar da reserva Walter Souza Braga Netto. Ele nasceu em Belo Horizonte em 1957 e alcançou o posto de general no Exército.
De fevereiro de 2018 a janeiro de 2019, chefiou a intervenção federal no Rio de Janeiro. Foi comandante Militar do Leste até fevereiro de 2019, quando assumiu a chefia do Estado-Maior do Exército. Em fevereiro de 2020, assumiu o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Em março de 2021, foi nomeado ministro da Defesa.
O que esperar de um governo Lula?
- O Estado como indutor do desenvolvimento;
- Maiores gastos públicos, direcionados para áreas prioritárias;
- Investimentos públicos em infraestrutura;
- Fomento ao mercado interno, com crédito barato;
- Fomento à indústria nacional, com crédito barato e política de proteção e de compras (pelo Estado) de produtos nacionais;
- Agenda ESG forte;
- Contrário às privatizações;
- Revogação de reforma trabalhista: volta da gratuidade da justiça trabalhista para o empregado;
- Outra reforma previdenciária, mais inclusiva;
- Melhoria da imagem e estabilidade institucional: evitar e acabar com a crise entre poderes através da conversa;
- Revogação do teto de gastos;
- Provável volta do imposto sindical;
- Fomento à construção civil e à habitação;
- Fomento ao turismo;
- Fomento à educação;
- Setores beneficiados com compras governamentais: saúde, energia, alimentos e defesa;
- Intervenção no mercado cambial (intenção de diminuir a volatilidade);
- Política de preços controlada de energia e fomento de produção de “bens de consumo críticos”: armas para o controle da inflação;
- Aumento da concorrência do setor bancário e desburocratização.
Analise da proposta de Lula
Na visão de Denys Wiese, o atual plano de governo do candidato Lula não apresenta novidades em relação ao que já foi feito em seus dois mandatos anteriores.
“Todas as propostas já foram feitas antes, com destaque para a atuação do estado como indutor do desenvolvimento, direção completamente oposta ao que propõe o adversário Bolsonaro, que apoia o desenvolvimento pelos empreendedores e iniciativa privada”, aponta o economista.
Ele completa: “Dentro deste plano, as áreas que irão receber investimentos como saúde, energia, alimentos e defesa devem ‘bombar’. Outro ponto que chama a atenção é a intenção de fomentar a concorrência no setor bancário, o que irá beneficiar a população de modo geral”, destaca.
Já Roberto Chagas, ressalta que, de modo geral, o mercado tem dúvidas sobre a capacidade de execução do plano como um todo.
“A natureza do plano de Lula é de um Estado mais intervencionista, contudo, é preciso analisar se existe ‘capital político’ para executar 100% dessas propostas. Outro ponto visto na campanha que deve ser destacado é a demonstração de apoio de Henrique Meirelles (ex-Presidente do Banco Central entre 2003–2010), o que confere mais coerência para o uso do capital público. De qualquer forma, o mercado espera uma atuação mais pragmática. Não deve haver um descarrilamento do rumo atual, assim como não deve haver uma grande aceleração da economia no longo prazo”, observa.
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Lula e os FIIs
No caso do Lula no poder, a mudança de direção na política econômica pode influenciar o dólar e, com isso, cobrar um prêmio de risco mais elevado na taxa de juros. Isso pode significar uma correção do preço dos fundos imobiliários e ações, na visão de Felipe Paletta, analista de FIIs da Monett.
Além disso, um maior peso do estado nos investimentos pode redirecionar parte do dinheiro que está no mercado de capitais para os bancos de fomento, o que diminui o ritmo de expansão da indústria de FIIs.
“Por outro lado, se o histórico do governo petista se repetir, podemos esperar maior expansão de crédito e investimentos do governo, o que pode acelerar o movimento de apreciação dos imóveis, em especial aqueles mais ligados ao varejo, como galpões logísticos (e-commerce) e shopping centers”, diz o analista.
Logo, uma posição maior em fundos de tijolo faria sentido, com exposição maior aos FIIs de CRI com carteira indexada ao CDI. “Diante desse cenário, entendo que uma carteira diversificada entre 70% FIIs de tijolo e 30% FIIs de CRI pode trazer bons dividendos e uma bela valorização nos próximos 12 meses”, estima.
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Quem é Lula?
Luiz Inácio Lula da Silva, de 76 anos, nasceu em Garanhuns (PE) e iniciou sua trajetória política como sindicalista em 1966. Foi presidente da República por dois mandatos a partir de 2003, depois de ser eleito em 2002, em disputa no segundo turno das eleições com José Serra (PSDB).
Em 2006, Lula venceu Geraldo Alckmin (à época, do PSDB), atual vice, sendo reeleito ao cargo. A primeira vez que disputou a Presidência foi em 1989, sendo derrotado por Fernando Collor de Melo. Antes de ser eleito, tentou mais duas vezes, em 1994 e 1998, quando perdeu para Fernando Henrique Cardoso em ambas.
Em 2017, foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2018, teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro. Em 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou as condenações, por entender que a 13ª Vara Federal em Curitiba não tinha competência legal para julgar as acusações, tornando Lula elegível, decisão confirmada em plenário pelo Supremo no mesmo ano.
A decisão presidencial foi adiada para o segundo turno.