Editorial
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Gazeta do Povo
Os candidatos a presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: EFE/Joédson Alves; Sérgio Dutti/PSB
O Brasil foi às urnas neste último domingo preparado para um de dois desfechos possíveis, a julgar pelas pesquisas de intenção de voto: ou uma vitória de Lula já no primeiro turno, ou um segundo turno no qual o petista largaria com ampla vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro. O resultado final, portanto, foi um balde de água fria para o ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado. Mas podemos afirmar que, para o país, um segundo turno em que a diferença entre Lula e Bolsonaro é suficientemente pequena para que ambos tenham chances de vitória foi o melhor que poderia ter ocorrido, à luz dos cenários que estavam projetados. O Brasil ganha mais quatro semanas para analisar melhor os dois candidatos remanescentes, e a busca pelos eleitores necessários para a vitória exigirá que muitas arestas sejam aparadas.
Estas quatro semanas são o momento de se discutir com mais profundidade quais são os projetos de Lula e de Bolsonaro para o Brasil. Não dizemos, com isso, que o passado deva desaparecer da campanha – as biografias e os resultados das passagens de ambos pelo Planalto ajudam a compreender como será o governo de cada um deles e servem de guia para quem filtra os candidatos por muitos critérios –, mas que o país tem uma série de desafios futuros que exigem respostas de Lula e de Bolsonaro, que até o momento se empenharam menos em afirmar o que pretendem fazer e mais em estimular a rejeição ao adversário.
O eleitor que está mais ao centro não quer saber nem de “nova matriz econômica”, nem de arroubos antidemocráticos, nem de acusações de fraude eleitoral generalizada, nem de ataques a jornalistas ou “regulação da mídia”
Especialmente Lula, neste campo, deve muito, tendo sido o único dos principais candidatos à Presidência que não protocolou plano de governo na Justiça Eleitoral, pedindo do eleitor um “cheque em branco” baseando-se em números de 20 anos atrás, quando as circunstâncias eram muito diferentes das atuais. Cada dia a mais sem que o plano de Lula seja finalmente colocado no papel é um dia a mais de desrespeito para com o eleitor, que deseja saber como o petismo, responsável pela maior recessão da história do país, pretende lidar com um cenário de fragilidade na economia global, com potenciais consequências negativas para o Brasil. Mas também Bolsonaro precisa mostrar como será capaz, em um segundo mandato, de restaurar a saúde fiscal do país, abalada por medidas recentes que contornam o teto de gastos e criam “bombas-relógio” que proporcionaram alívios imediatos, mas que explodirão mais adiante, como foi o caso da PEC dos Precatórios.
E, como a luta pela vitória no segundo turno passa não apenas pela necessidade de expor seus projetos para o país, mas também pela conquista do eleitorado que não lhes deu apoio no primeiro turno – 48 milhões de brasileiros, somando os que votaram em outros candidatos, em branco, nulo ou nem compareceram às urnas –, haverá um bem-vindo aceno ao centro político. Também nisso o resultado de domingo foi providencial, pois uma vitória no primeiro turno significaria uma “carta branca” para que o vencedor pudesse governar sem ter de fazer nenhum tipo de concessão.
O fato é que o eleitor que está mais ao centro não quer saber nem de “nova matriz econômica”, nem de arroubos antidemocráticos, nem de acusações de fraude eleitoral generalizada, nem de ataques a jornalistas ou “regulação da mídia”. O eleitor do Nordeste está farto de ser demonizado por ter dado mais votos a Lula – até porque, de certa forma, foi o Nordeste que livrou o Brasil de uma vitória do petista, pois a votação de Bolsonaro em quase todos os estados nordestinos cresceu, enquanto caiu no Sul e no Sudeste, a ponto de o deputado federal mais votado em São Paulo ter sido da extrema-esquerda. O eleitor cristão está farto de ser demonizado por dar importância a pautas como a defesa da vida desde a concepção e da família natural. Quem não for capaz de compreender isso e moderar seu discurso com sinceridade terá muito a lamentar no dia 30.
Pois, no fim das contas, é disso que se trata: o vencedor governará não apenas para os seus apoiadores, mas para todos os brasileiros. O ideário de Lula e Bolsonaro é diametralmente oposto em uma série de temas, e ambos precisam demonstrar que serão capazes de governar colocando em prática as suas convicções, mas também tendo em conta a parcela da população que for derrotada nas urnas – e esta parcela será significativa independentemente do vencedor. Mas será impossível saber com certeza se os candidatos estão dispostos a isso se suas propostas não forem colocadas com clareza diante do eleitor.
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