TV Globo
Por
Olavo Soares; Gabriel Sestrem – Gazeta doi Povo

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva


Bolsonaro e Lula fazem o último debate antes da votação no segundo turno| Foto: Sergio Zalis/Divulgação Globo

O último debate entre os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes do segundo turno das eleições foi realizado na noite desta sexta-feira (28) nos estúdios da TV Globo. Ao longo de pouco mais de duas horas de duração, os candidatos evitaram se aprofundar em suas propostas de governo e apostaram em numerosas trocas de acusações.

Bolsonaro criticou principalmente os escândalos de corrupção em governos petistas e o aumento da violência e dos homicídios no período. Já Lula buscou atacar o atual presidente pela gestão na área da saúde durante a pandemia da Covid-19 e também na área econômica.


Os candidatos utilizaram parte expressiva do tempo de fala disponível para defender feitos de suas gestões. Ao longo do embate foram feitos diversos pedidos de direito de resposta, principalmente por Lula. A produção do debate concedeu o direito em duas oportunidades.

Veja a seguir os pontos mais importantes do confronto:

Salário mínimo, política externa e acusações protagonizam primeiro bloco
A primeira pergunta do debate coube a Bolsonaro. O presidente questionou Lula sobre rumores que o atual governo extinguiria benefícios trabalhistas como décimo terceiro salário, férias e pagamento adicional para horas extras.

A pergunta foi a motivação para que grande parte dos instantes iniciais do debate fosse pautada pelo reajuste do salário mínimo, tema que se tornou uma dor de cabeça para a campanha de Bolsonaro. Lula disse que o governo atual não promoveu aumento real do valor do salário mínimo, e disse que no seu governo a remuneração teve aumento de 74%. Bolsonaro enfatizou que levará o salário mínimo a R$ 1.400 a partir do ano que vem, e Lula declarou que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que traz previsões para os gastos públicos, não especifica este aumento.

Ainda no campo econômico, os dois candidatos divergiram sobre os programas Bolsa Família e Auxílio Brasil. Bolsonaro disse que o Bolsa Família, sob o governo Lula, era pago com valores bem inferiores ao Auxílio Brasil atual. Lula disse que o Bolsa Família continha mais desdobramentos do que o pagamento em dinheiro.

O ex-presidente questionou Bolsonaro sobre as relações exteriores e disse que a gestão atual isolou o Brasil do mundo. Em resposta, Bolsonaro declarou que seu governo fechou mais acordos bilaterais que as gestões do adversário e questionou parcerias firmadas pelo governo com países como Cuba e Venezuela.

Os dois candidatos também trocaram acusações. Bolsonaro chamou Lula de “descondenado” e disse que o petista deveria estar preso, em referência às condenações sofridas pelo ex-presidente na Lava Jato. Lula recordou acusações que pairam sobre Bolsonaro, como a denúncia de “rachadinhas” que teriam sido feitas pelo presidente e seus familiares em gabinetes.

No segundo bloco, presidenciáveis falam sobre combate à pobreza e respeito à Constituição
No segundo bloco, em que os candidatos poderiam escolher temas pré-definidos pela produção do debate, Lula selecionou o tema combate à pobreza. O candidato petista afirmou que houve crescimento da pobreza durante o atual governo e questionou Bolsonaro sobre tal aumento.

“Quando assumi em 2019 tínhamos 5,1% de pessoas na extrema pobreza. Mesmo com pandemia estamos agora com 4%”, respondeu o atual presidente mencionando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério da Economia.

Lula prosseguiu mencionando o alto número de pessoas que passam fome no país; já Bolsonaro reconheceu que há pessoas que passam fome, mas que a campanha do petista usa números inflados sobre o tema e disse que todas as pessoas que vivem na pobreza têm acesso ao Auxílio Brasil, pago pelo governo, no valor de R$ 600.

“Tem 33 milhões de pessoas passando fome nesse país”, rebateu Lula, que em seguida defendeu o programa de renda Bolsa Família. O ex-presidente, então, passou a questionar a reforma da Previdência aprovada durante o atual governo. Lula também fez críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e o acusou de tentar acabar com benefícios trabalhistas como 13º salário e férias, o que foi apontado por Bolsonaro como fake news.

O atual presidente, na sequência, afirmou que foram aprovadas reformas estruturais e marcos regulatórios durante seu governo que foram responsáveis por trazer melhores condições econômicas para o Brasil.

Na pergunta seguinte, Bolsonaro selecionou o tema “respeito à Constituição”. Defendeu que durante seu governo sempre “jogou nas quatro linhas” da Constituição e acusou Lula de defender invasão de terras.

O petista acusou Bolsonaro de ameaçar ministros do STF e de não respeitar o resultado das eleições. O atual presidente, na sequência, acusou o Partido dos Trabalhadores de ingressar com ação na Justiça Eleitoral para silenciar veículos de comunicação. Lula defendeu-se dizendo que os advogados do seu partido buscaram o direito à isonomia por meio do direito de respostas.

Bolsonaro persistiu no tema do respeito à propriedade privada e apontou leniência de Lula frente a invasões do MST. Em sua resposta, o petista afirmou que disponibilizou 51 milhões de hectares de terra para os sem-terra para a produção agrícola.

Já o candidato do PL citou os números de titulações de terra concedidas a produtores agrícolas durante seu governo. “Eu dei mais títulos do que você e Dilma juntos. Eu tratei com dignidade o assentado, que era usado por você para invadir terras, levar terror aos campos do Brasil”, disse o presidente.

Na sequência, o ex-presidente citou uma fala supostamente de Bolsonaro na década de 1990 em que o atual presidente teria defendido o uso de pílulas abortivas. Bolsonaro rebateu dizendo que se referia à pílula do dia seguinte e acusou Lula de ser “abortista convicto”.

Durante o segundo bloco, Bolsonaro pediu dois direitos de resposta e Lula, nove. Desses, a produção do debate aceitou apenas um do petista, que aproveitou a ocasião para fazer mais críticas à reforma da Previdência.

Terceiro bloco tem discussões sobre saúde e combate à violência
O terceiro bloco foi novamente de discussão livre entre os dois candidatos. Lula, que teve o direito à primeira pergunta, questionou Bolsonaro sobre o combate à pandemia de coronavírus. O petista disse que Bolsonaro retardou a vacinação contra a Covid-19 e que não visitou hospitais e nem apoiou os profissionais de saúde.

O presidente rebateu Lula dizendo que as gestões do PT optaram pela construção de “estádios superfaturados”, que abrigaram jogos da Copa de 2014. Ele também negou a acusação de atraso nas vacinas e reiterou que o intervalo entre a primeira aplicação do imunizante no exterior e no Brasil foi pequeno.

Lula recordou o episódio da compra do medicamento Viagra pelas Forças Armadas. Bolsonaro disse que o Viagra não atende apenas a demanda da disfunção erétil e é aplicável em outros tratamentos.

Ainda no tema saúde, Bolsonaro recordou o Mais Médicos, projeto que trouxe médicos cubanos ao país. O presidente declarou que o programa contratou profissionais “que não sabiam nada de medicina” e que teve como principal objetivo o envio de dinheiro à ditadura cubana. Lula, em resposta, afirmou que o Mais Médicos proporcionou atendimento humanizado em municípios que nunca haviam sido contemplados por serviços com este perfil.

O ex-presidente insistiu em um questionamento sobre quais haviam sido as ações do governo Bolsonaro para a saúde, e o presidente leu uma relação de projetos concretizados.

A discussão migrou depois para uma resolução divulgada pelo PT no fim do ano passado, que tinha entre as diretrizes a defesa da desmilitarização das polícias e o desencarceramento. Lula expôs que as proposições não representavam a posição oficial o PT e eram obra de uma setorial do partido.

Os dois candidatos passaram então a debater o combate à violência. Lula e Bolsonaro expuseram suas visões sobre o tema armamento – o petista, contrário à proposta, elencou que a presença de mais armas amplia a violência, enquanto o presidente disse que o acesso às armas é um dos fatores que ajudou na redução do número de homicídios nos últimos anos.

Bolsonaro acrescentou que as mulheres são também beneficiadas com a diminuição dos índices de violência. Lula, por outro lado, questionou o presidente sobre a redução de verbas para ações voltadas à segurança das mulheres.

A prisão do ex-deputado Roberto Jefferson e o disparo de arma de fogo contra agentes da Polícia Federal viram novamente à tona, com os dois candidatos se acusando de vínculo com o ex-parlamentar.

Lula prometeu isenção do Imposto de Renda para a população com remuneração abaixo de R$ 5 mil mensais, o que, segundo ele, poderia “dar dignidade” a uma faixa expressiva da população.

Bolsonaro citou ainda o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA), parceiro de gestões petistas no passado, que foi preso sob acusações de corrupção. O presidente questionou Lula se o emedebista ocuparia um ministério em seu futuro mandato.

Criação de empregos e meio ambiente são temas do quarto bloco

No quarto bloco, novamente com temas pré-definidos para escolha dos candidatos, Bolsonaro selecionou o tema “criação de empregos” – defendeu que o Brasil criou empregos mesmo diante dos impactos econômicos da pandemia e perguntou a Lula o que achava do desempenho do atual governo quanto à geração de empregos.

Lula acusou o governo Bolsonaro de considerar o trabalho informal como emprego gerado, não apenas empregos com carteira assinada. O ex-presidente disse que, se eleito, se reunirá com todos os governadores para criar um programa de desenvolvimento no qual seriam selecionadas três obras de infraestrutura em andamento para receberem apoio do governo federal.

Lula também defendeu financiamento a pequenos e médios empreendedores e a fomentação de cooperativas, e reafirmou propostas na economia, especialmente sobre isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil reais e reajuste do salário mínimo acima da inflação.

Bolsonaro, em sua fala, defendeu feitos econômicos do seu governo. “Estamos prontos para decolar, para fazer desse Brasil uma grande nação na economia. Temos o Parlamento perfeitamente afinado conosco, mais de centro-direita. Tudo acertado para decolar. E a economia está sendo o carro-chefe nesse momento. Uma das melhores economias do mundo. Vamos crescer mais do que a China. Temos inflação menor do que a Europa e os Estados Unidos”, declarou o atual presidente.

Na segunda pergunta, Lula escolheu o tema “meio ambiente” e questionou o presidente sobre a “política de desmate nos biomas brasileiros, sobretudo na Amazônia”.

Bolsonaro defendeu que em seu governo houve menor taxa de desmatamento do que no governo do ex-presidente. Lula, em sua fala, destacou feitos na área ambiental do seu governo. “Nós vamos acabar com as queimadas e com invasões e garimpo em terras indígenas”, prometeu.

À frente, ambos os candidatos fizeram propostas relacionadas à geração de energia limpa. Bolsonaro destacou a aprovação do Marco do Saneamento Básico durante seu governo e afirmou que 100 milhões de pessoas até 2035 terão esgoto e água tratada em decorrência da medida.

Cada candidato fez um pedido de resposta neste bloco; ambos foram negados.

Nas considerações finais, Lula defende legado e Bolsonaro cita pauta de costumes
O debate se encerrou com as considerações finais, em que os dois candidatos tiveram um minuto e meio para falar de modo livre.

Lula disse que sua candidatura tem como meta “restabelecer a harmonia neste país”. Ele falou que os anos do seu governo, entre 2003 e 2010, foram “os melhores momentos das últimas décadas”. Segundo o petista, naquela época “não tinha briga, não tinha confusão, não tinha ódio”. Ele pediu voto “no 13”, seu número eleitoral, e disse esperar que o povo “volte a comer bem”.

Já Bolsonaro disse que a eleição de domingo representa mais do que a escolha de um presidente, e sim a seleção de “um futuro para a nossa nação”. Ele se colocou como favorável à liberdade e à família, e disse que sua vitória pode representar se “o aborto será permitido ou não” e que o “outro lado” defende a “liberação das drogas’.


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