Foto: Redes sociais
Por João Scheller, Gustavo Queiroz, Levy Teles, Julia Affonso, Denise Luna e Renée Pereira – Jornal Estadão
Manifestações ocorrem em ao menos 11 Estados, segundo informações da PRF; líderes de setores da categoria falam em casos pontuais
Após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caminhoneiros organizaram bloqueios em diferentes estradas pelo País em protesto contra os resultados das urnas neste domingo, 30. A Polícia Rodoviária Federal informou nesta segunda-feira, 31, que há 47 pontos de bloqueio ou aglomeração em 11 Estados e no Distrito Federal. A corporação disse ainda estar analisando se cada um dos casos está ligado ao resultado das eleições presidenciais.
Por volta das 9h40, a PRF havia registrado 70 pontos de bloqueio ou aglomeração. Às 10h10, o número havia caído para 47.
A vitória de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno foi declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pouco antes das 20h. Até as 10h desta segunda-feira, Bolsonaro se pronunciado ou reconhecido a vitória de seu adversário.
Vídeos publicados em redes sociais desde a noite de domingo, 30, mostram caminhoneiros fechando pontos de estradas. Nos grupos de WhatsApp, eles afirmam que as manifestações têm apoio de empresários do agronegócio e também do comércio. Vários vídeos mostram carretas paradas nas estradas, pneus queimados e caminhões jogando terra nas rodovias para interditar as vias. Eles aguardam um comunicado de Jair Bolsonaro, como se esperassem um comando para agir. Há opiniões para todos os gostos: alguns não acreditam que o presidente vá tomar alguma providência. Outros dizem que é questão de horas.
Mas, alguns líderes que já participaram de outras manifestações, disseram ao Estadão que isso é só “fogo de palha de reacionários”. Sobre o apoio de empresários, dizem que todas as manifestações têm a participação deles nos bastidores.
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O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, disse nesta manhã, em vídeo, que não é hora de parar o País. Ele criticou as paralisações pontuais que estão sendo feitas em algumas localidades nesta segunda-feira. “Quero reconhecer, através da Abrava, a eleição, a democracia desse País, parabenizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua vitória”, disse o líder caminhoneiro, informando que tem sido procurado nesta manhã sobre as paralisações que estão ocorrendo em alguns pontos do País.
“Não é o momento de parar esse País, vamos aceitar, isso é democracia”, afirmou. Ele disse que pretende ter um alinhamento com o próximo governo e que vai continuar lutando pelo segmento de transporte e destacou o Projeto de Lei 1.205, do senador Lucas Barreto, que dispõe sobre o transporte de cargas. “Isso sim vai trazer um ganho para a categoria. Nesse momento, parar o País vai prejudicar muito a economia, precisamos ter reconhecimento da democracia desse País, a vitória do presidente, muito apertada sim, mas se fosse ao contrário a esquerda também teria que entender e aceitar a vitória ao contrário “, ressaltou.
Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, também vê os protestos como pontuais. “Eu acredito que tenham o direito de protestar, só que eles têm que aceitar a democracia e não ficar travando a pista, porque está atrapalhando a vida de todo mundo. Assim como aceitamos a vitória do Bolsonaro em 2018, agora eles têm de aceitar a vitória do Lula”, disse. “Se for uma paralisação para reivindicar algum direito da classe, a classe terá meu apoio. Se for uma paralisação política, para atrapalhar o governo do Lula, não terá o meu apoio. Acho que autoridades têm de tomar providências porque não pode cercear o direito de ir e vir das pessoas que estão na via. É assim que os bolsonaristas falavam quando a gente ia reivindicar alguma coisa contra o governo Bolsonaro.”
Diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias disse que não há indício de paralisação ampla de caminhoneiros autônomos. “Vi alguns vídeos e são pessoas desconhecidas e acho que também nem são caminhoneiros”, apontou.
Pontos
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“Até o momento, foram registradas situações bloqueio/aglomeração nos seguintes Estados: RS, SC, PR, MG, RJ, MT, MS, RO, PA, GO, SP e no DF”, informou a PRF em nota.
“A PRF segue atenta, monitorando todas as ocorrências e com efetivo empregado na tarefa de garantir fluxo viário normal a todos os cidadãos.”
Ontem, em Santa Catarina, a Polícia Militar Rodoviária e a concessionária Arteris confirmaram bloqueios em diferentes pontos da BR-101, em cidades como Joinville, Itapema, Palhoça e em São Bento do Sul. No Rio Grande do Sul, comerciantes relataram protestos em Ijuí, na BR-285. Já no Paraná, a Polícia Rodoviária Federal não especificou cidades onde ocorreram protestos.
Em Mato Grosso, a concessionária Rota do Oeste confirmou interdições na BR-163 nos municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop.
Por volta das 1h51 da madrugada de segunda-feira, 31, os caminhoneiros fecharam também os dois sentidos de um trecho da Rodovia Presidente Dutra, mais conhecida como Via Dutra, que liga a cidade de São Paulo ao Rio de Janeiro. De acordo com a CCR RioSP, concessionária responsável pela gestão da via, a manifestação afeta um trecho entre os KM 279 e 281 da BR-116, nas proximidades do município de Barra Mansa, no sul do Estado do Rio de Janeiro.
“Atravessaram os carros na BR. Não aceitaram a decisão da eleição e trancaram tudo”, afirma uma pessoa, em vídeo gravado em frente a loja da rede Havan, do empresário Luciano Hang – um fervoroso apoiador de Bolsonaro, na cidade catarinense de Palhoça. “Não vai passar mais nada”, completa.
Ligada a Bolsonaro, a categoria já protagonizou ações do tipo nos últimos anos. Durante as manifestações de 7 de setembro de 2021, caminhoneiros paralisaram estradas da região Sul, em especial em Santa Catarina, tendo como um dos principais articuladores o caminhoneiro Zé Trovão, que chegou a ser preso por ordem do ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e foi eleito deputado federal em Santa Catarina nas eleições deste ano.