Dilemas conjugais
PESQUISA: O ex-presidiário ou o ministro?
Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo
Depois de uma discussão com minha mulher, pergunto aos leitores quem é o maior vilão do Brasil: Lula ou Alexandre de Moraes?| Foto:
Quem é mais nocivo para o Brasil?
Alexandre de Moraes
Lula
Para minha mulher.
Nem todo texto tem história, mas o de ontem tem. Depois de ler “É preciso amar Alexandre de Moraes”, minha mulher comentou daquele jeitão lá dela: “Ó, tudo bem que você precisava falar do amor misericordioso e tal. Mas chega de Alexandre de Moraes, tá? Dá um tempo porque esse cara é esquisito e você tá parecendo obcecado. Fala do Lula que é melhor”.
A tudo escutei com a devida atenção e parcimônia, para só então responder que não, benzinho, não estou obcecado por Alexandre de Moraes. “É só porque ele tá na boca do povo. Todo dia aprontando. Se bem que eu considero ele mais nocivo para o país do que o Lula”, emendei, usando pronome reto como se fosse oblíquo, só para provocar minha mulher.
A isso se seguiu uma longa discussão que mais uma vez (até quando?!) foi vencida pelo patriarcado com este argumento axiomático: “Os ímpetos autoritários do Lula, a estupidez econômica do PT e o furor progressista do PSOL poderiam ser contidos se a gente tivesse um STF minimamente decente. Um STF que não aceitasse a presença, muito menos a liderança, de alguém como Alexandre de Moraes”.
O fato de o argumento ser irrefutável não impediu minha mulher de tentar refutá-lo. Sem sucesso. Depois de umas três horas de conversa, ela finalmente soltou o rolo de abrir massa que brandia para, digamos, dar ênfase a seus argumentos, se jogou numa poltrona e, a muito custo, a contragosto, como se parisse um alien!, aceitou a derrota. “Ok, você venceu, batata frita”, rendeu-se, rindo. Algo me diz que vou pagar caro por isso mais tarde.
E ponto final!
Não deu outra. Eis-me aqui no sofá, me preparando para uma longa noite de desconforto e dor nas costas. Mas tudo bem. Pelo menos ela me deixou dormir em casa. Já é um começo. Amanhã eu acordo cedinho, preparo um café na cama para ela e tudo volta ao normal. Espero.
O castigo me obriga a pensar no que minha mulher disse ao me mandar dormir na sala: “O Lula é pior do que o Alexandre de Moraes e ponto final!”. Pois é. Talvez ela tenha razão. Até porque Lula já confessou ter se transformado em ideia. E não há nada mais nocivo do que um líder que abandona a sua humanidade para, pretensamente, se transformar em ideia. Isto é, naquilo que alimenta o coração dos homens sem fé.
Diante dessa epifania, não me resta alternativa senão implorar: “Benhê, você estava certa. Lula é mais prejudicial ao Brasil do que o Alexandre de Moraes. Agora posso dormir na cama?”. Do outro lado da porta, silêncio. Meia hora depois e se sentindo culpada, ela abre a porta e eu posso me deitar num cantinho da cama para dormir ao som das doces e incessantes reclamações conjugais. “Você é isso! Você é aquilo! Blá-blá-blá. Mimimi. Por que você não pergunta para os seus queridos leitores quem eles consideram mais nocivo para o país?!” – é a última coisa que ouço antes de pegar no sono.
PS.: Ao ter o privilégio de ser a primeira leitora desta crônica, minha mulher (real) me pediu carinhosamente para explicar ao leitor que minha mulher (personagem) não tem nada a ver com minha mulher (real). “Se você disser que fui eu que mandei esclarecer isso, você vai ver só!”, aconselhou ela. Mas não adianta, Dani. Eu gosto de viver perigosamente.
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