Artigo
Rituais patrióticos, estética e idolatria

O presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, participa da arriação solene da Bandeira Nacional com apoiadores, no Palácio da Alvorada


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Primeiramente, o líder do planalto cravou sua imagem e ideários na psique de boa parte da sociedade brasileira, por meio do esforço refinado e estratégico de comunicação, que usa “da técnica como objeto estético e cultural” como descreve o filósofo Walter Benjamim. Bolsonaro se apropriou de signos patrióticos, criando uma esfera pública ritualística que é representada por práticas como a do hino cantado em uníssono junto com o líder, a quase totalidade de camisetas com as cores da bandeira nas passeatas; as barracas de acampamento enfileiradas na frente de um quartel do Exército, assim como as orações coletivas (ou canções) sendo feitas com as mãos levantadas aos céus pedindo pelo futuro da pátria.

Nesse sentido, a estética corrobora para um projeto de poder e domínio; e a criação de rituais, inclusive, reinventa signos e códigos que eram de partilha comum. Por exemplo, o Dia da Independência é reinventado e transformado em estética, legitimando um plano, uma crença, um jeito de ver o mundo.

A questão tecnológica e social também nos ajuda a perceber a resiliência do bolsonarismo: a extrema-direita aprendeu as lógicas dos algoritmos antes de outras manifestações políticas. Consequentemente, as pessoas foram por muito tempo tendo suas crenças referendadas nas bolhas dentro das plataformas digitais e nas redes sociais. Além disso, essa vantagem estratégica deu ao grupo capacidade de mobilização, por exemplo, em canais do aplicativo de mensagens Telegram. Esse cenário favorece a fragmentação da mensagem, recontextualiza notícias (para alimentar a desinformação e projetos de poder).

E por fim, o que sustenta atos antidemocráticos, como o vandalismo ocorrido em Brasília recentemente, ou a contínua disseminação de fake news em alta escala, é a presença de entes econômicos “quiçá” fomentando financeiramente esses tipos de ações. O bolsonarismo é ainda mais radical e perigoso sem o seu “criador” na Presidência.

Gabriel Rossi é sociólogo, pesquisador e professor de comunicação da ESPM.


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