Indicadores mostram aperto nos próximos anos, complicando o crescimento prometido por Lula

Por Notas & Informações – Jornal Estadão

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante reunião com parlamentares das bancadas aliadas na sede do governo de transição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Promover o crescimento econômico, uma das principais bandeiras do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, será uma promessa irrealizável durante a maior parte de seu mandato presidencial se os fatos confirmarem as atuais projeções do mercado e de setores da administração federal. Essas projeções apontam expansão anual inferior a 2% nos próximos dois anos. O ritmo de 2%, muito baixo para as necessidades do Brasil, só será atingido em 2025. Nesse período, os juros básicos permanecerão muito altos. Partindo de 13,75%, taxa atualmente em vigor, poderão baixar para 11,75% em 2023, 9% em 2024 e 8% em 2025, dificultando o crédito, o consumo e o investimento produtivo durante três quartos do próximo governo.

Longe de ser gratuito ou de expressar má vontade, esse pessimismo tem como base palavras do presidente eleito, aparentemente propenso à gastança, à gestão irresponsável das finanças da União e ao uso político das estatais. Ao contrastar a responsabilidade fiscal e as políticas sociais, como se a atenção aos mais vulneráveis fosse incompatível com a busca do equilíbrio financeiro, o futuro presidente fez soar no mercado mais um sinal de alerta. Sinais de alarme têm soado com frequência – por exemplo, quando se anuncia a criação injustificável de muitos ministérios ou a recusa de qualquer nova privatização.

Gestão irresponsável das finanças oficiais desemboca normalmente em pressões inflacionárias, maior endividamento público, juros mais altos, mais custos para o Tesouro e menor expansão econômica. A piora das expectativas fiscais, sombrias há vários meses, acaba afetando o conjunto de previsões econômicas.

No setor público, o pessimismo é evidente nos cenários do Banco Central. Em seu último relatório trimestral de inflação, foi mantida a estimativa, já apresentada em setembro, de crescimento econômico de 1% em 2023. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) baixou de 1,6% para 1,4% a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) projetada para o próximo ano.

No mercado, a mediana das projeções até subiu, mas de 0,75% para 0,79%, segundo o boletim Focus da última segunda-feira. A revisão para mais foi insuficiente para levar a 1% o avanço estimado para o primeiro ano do novo governo.

Há razões muito boas para se apostar em baixo crescimento nos próximos anos. Juros altos, decorrentes da incerteza fiscal e do risco inflacionário, talvez sejam a mais evidente. A piora internacional tem peso inegável, mas o pessimismo em relação ao Brasil já estava presente antes disso. A mais importante e mais desafiadora é estrutural. O País tem baixo potencial produtivo. Pouco se investe em capital fixo (máquinas, equipamentos, infraestrutura e outras obras). A formação de capital humano é insuficiente e ainda foi prejudicada, nos últimos quatro anos, pela política antieducacional. A tributação é disfuncional, a economia é fechada e o ambiente de negócios é ruim. Tudo isso formará uma pauta evidente para o novo governo, se houver mais pragmatismo e menos ideologia petista.

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By valeon