Editorial
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Gazeta do Povo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assume o cargo em cerimônia no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A condição natural inicial de todas as sociedades e nações é a pobreza. Até meados do século 17, a regra entre as sociedades organizadas em estados e nações era, em termos de renda média por habitante e padrão de vida, a pobreza para a grande maioria da população, ressalvados alguns grupos beneficiados com privilégios fora do alcance da imensa maioria. A criação das condições e dos bens e serviços capazes de construir as bases para elevar o padrão médio de bem-estar social é uma conquista dos últimos 300 anos, quando a humanidade conseguiu vencer o escasso desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dos meios de produção, notadamente a infraestrutura física e empresarial.

Antes desse novo tempo, a humanidade enfrentava regularmente escassez de alimentos, mortes por doenças que hoje são facilmente tratáveis, elevada mortalidade infantil, baixa expectativa média de vida, jornadas de trabalho extenuantes e ausência de conforto material. Faz menos de 200 anos que as cidades começaram a deixar de ser imundas, fétidas, insalubres, pestilentas e focos de várias doenças, situação que perdurou até a substituição da carroça puxada por cavalos pelos veículos automotores e pelo trem de ferro. As lindas capitais europeias de hoje tinham suas avenidas e ruas tomadas por dejetos animais, insetos, lixo e sujeira de todo tipo, cuja consequência eram pestes e doenças públicas várias.

O Brasil já abusou demais do desperdício de tempo e, considerando o envelhecimento da população e a perda do bônus demográfico, não há mais muito tempo que possa ser perdido, sob pena de jamais tornar-se um país desenvolvido

A Revolução Industrial, o progresso do conhecimento científico, as invenções e as tecnologias dos últimos três séculos propiciaram a possibilidade real de revolucionar os processos produtivos, aumentar a produtividade do trabalho e o Produto Interno Bruto (PIB) a níveis capazes de elevar o padrão médio de consumo e a melhoria das condições de bem-estar social. O conceito de subdesenvolvimento é produto da Revolução Industrial; é subdesenvolvido o país não conseguiu atingir o padrão de consumo e bem-estar social já alcançado por outras nações, estas consideradas desenvolvidas. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem 193 Estados-membros, dos quais entre 35 e 40 são classificados como desenvolvidos e usados como referência para as nações que perseguem o progresso capaz de lhes dar indicadores compatíveis com a superação do subdesenvolvimento.

Isso posto, uma questão que intriga economistas e estudiosos sociais é a busca de explicação pela qual há nações ricas de recursos naturais que, apesar disso, não conseguem eliminar a miséria, reduzir o elevado número de pobres e resolver mazelas sociais como fome, falta de moradia, falta de água tratada e rede de esgoto, e baixo nível educacional. Brasil e Argentina são sempre citados como exemplos de nações com amplos territórios, terras férteis, clima favorável e abundante riqueza natural que, apesar de todas as condições favoráveis, seguem no atraso e na pobreza, sendo que a Argentina já esteve entre as nações mais ricas do mundo em renda por habitante e padrão médio de vida, e hoje caminha celeremente para elevado grau de pobreza.

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Embora haja diagnósticos diferentes para a compreensão desse problema, cinco causas aparecem com frequência nos estudos e análises: 1. longo histórico de maus governos, com castas de políticos e burocratas incompetentes e corruptos; 2. alta deficiência qualitativa da educação; 3. precária infraestrutura física (energia, transportes, telecomunicações, portos, aeroportos, sistema urbano de circulação); 4. ambiente institucional e jurídico inibidor do investimento e do espírito de iniciativa; 5. setor estatal inchado, caro e ineficiente, configurando pesado ônus sobre os ombros das pessoas, empresas e processos produtivos privados.

Infelizmente, o Brasil já abusou demais do desperdício de tempo e, considerando o envelhecimento da população e a perda do bônus demográfico, não há mais muito tempo que possa ser perdido, sob pena de jamais tornar-se um país desenvolvido. Apesar disso, a última eleição talvez tenha sido o pleito eleitoral mais precário dos últimos tempos quanto à clareza, por parte dos candidatos, de quais eram suas ideias para a sociedade. A chapa vencedora do pleito presidencial nem mesmo chegou a protocolar plano de governo detalhado. A formação de expectativa econômica no plano nacional tornou-se exercício ao acaso, pois não há elementos de certeza razoável necessários para profecias minimamente críveis. Os primeiros dias do novo governo já demonstraram para onde Lula e o PT querem levar o país, dando marcha a ré em avanços importantes como marcos regulatórios, reforma da Previdência e reforma trabalhista, e apresentando um pacote de contenção do déficit que aposta fortemente no aumento da arrecadação, com minúsculos cortes de gastos. No entanto, ainda é preciso saber que tamanho terá a base aliada no Congresso e se ela será capaz de concretizar ou de barrar os planos petistas. Enquanto isso, expectativas econômicas sérias e bem embasadas estão na coluna de “suspenso”.


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