Editorial
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Gazeta do Povo

Os presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, se reúnem para apresentação do decreto legislativo (PDL 1/2023) – votado pela Câmara e o Senado – que aprovou a intervenção federal na área de segurança pública do DF até 31 de janeiro ano


| Foto: José Cruzr/Agência Brasil

É difícil perder velhos hábitos. Uma vez partidário da falácia esquerdista da divisão de classes entre proletários e burgueses, uma das primeiras lições das escolas de pensamento marxista, o asco com o setor produtivo se manifesta sempre que pode. É o que acontece com Lula quando que não está sendo orientado ou acompanhado de seus assessores e acaba por soltar a língua contra quem produz, como quando acusou o agronegócio de ser “fascista e direitista”, afirmação que depois tentou remendar sob a justificativa de que não se tratava de uma generalização: só uma parte dos produtores rurais seriam, de fato, fascistas e por isso “não gostavam dele”.

Desta vez, o alvo foram os empresários, a quem Lula acusou de não trabalharem: “Empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou. Ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam”, disse em entrevista à GloboNews. Na mesma entrevista, o presidente colocou a responsabilidade fiscal como um entrave aos programas sociais. “Elas (a responsabilidade social e a responsabilidade fiscal) são antagônicas por causa da ganância, sabe, das pessoas mais ricas”, disparou. E prometeu uma reforma tributária “para que as pessoas mais ricas, que vivem de dividendos, para pessoas que ganham mais dinheiro paguem mais Imposto de Renda. E quem ganhe menos pague menos”, praticamente repetindo o que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia dito na terça-feira (17) em Davos.

Lula parece ter esquecido que a campanha eleitoral acabou. Não é mais tempo de promessas vagas e frases de efeito populistas.  

É assustador que um presidente, no início de seu terceiro mandado, ainda emita opinião tão equivocada a respeito da economia. Qualquer um que seja empresário ou que já tentou ser, sabe o quanto empreender é trabalhoso. É preciso enfrentar a alta carga imposta sobre os ombros de quem quer produzir, entraves burocráticos, falta de infraestrutura, legislação engessada, e outros tantos desafios. Empreender é um trabalho árduo, bem longe da fantasia lulista do empresário ganhando sem fazer nada.

A própria meta de aumentar o poder de compra da população – de fato sabe-se que a realidade salarial da boa parte dos brasileiros não dá conta do custeio de todas as despesas das famílias – para ser alcançada precisa envolver políticas sérias de fortalecimento do setor produtivo. É quem produz, o empresário do comércio, da indústria, do agronegócio, que oferece emprego e consequentemente possibilita que os trabalhadores obtenham seu sustento.

Mas em vez de anunciar propostas que possam facilitar o crescimento da economia, como uma real reforma tributária que simplifique o sistema de impostos pagos no país, a definição do chamado arcabouço fiscal em substituição ao teto de gastos, ou mesmo deixar claro qual será o papel do Estado na economia durante o governo, o que se têm visto são desencontros e desmentidos, discursos populistas, e um apego ao passado que não existe e não faz mais sentido.

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O que tem sido chamado de reforma tributária por Lula e seus ministros é a vaga proposta de aumentar a tributação “dos ricos”, para usar as palavras do presidente. A forma como isso se dará – uma simples correção nas tabelas de Imposto de Renda, a criação de imposto sobre fortunas ou mesmo grandes operações financeiras – ainda é uma incógnita. Já sobre o arcabouço fiscal, medida que só foi mencionada após a forte repercussão negativa do mercado e do Congresso ao fim do teto de gastos pregada por Lula, se tem ainda menos informações.

Sobre a reforma trabalhista, que se alterada ou revogada pode levar ao encarecimento das contratações e, em consequência, aumentar as demissões e índices de desemprego, ninguém sabe ao certo qual será o caminho adotado pelo presidente. Na quarta-feira (18), em um evento no Palácio do Planalto com sindicalistas, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, disse que todos os pontos da reforma trabalhista serão “revistados” pelo governo. Estranhamente, na segunda-feira (16), em conversa com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o ministro da Indústria e Comércio e vice-presidente, Geraldo Alckmin, garantiu que o governo Lula não cogita revogar a reforma trabalhista. “Foi feita a reforma trabalhista. O presidente Lula tem colocado: não vai revogar nem trabalhista nem previdenciária”.

Com tantas indefinições, falas contraditórias, falta de projetos, e a insistência em tratar o setor produtivo como inimigo em vez de um aliado indispensável para o crescimento econômico do país, Lula parece ter esquecido que a campanha eleitoral acabou. Não é mais tempo de promessas vagas e frases de efeito populistas.

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