Tanques, o novo objetivo em uma longa guerra na Ucrânia; leia a coluna de Lourival Sant’Anna
Com os tanques, os ucranianos aspiram liberar outras cidades e recuperar a Crimeia
Por Lourival Sant’Anna – Jornal Estadão
BERLIM ― A guerra na Ucrânia entra em nova fase, com o envio de tanques de batalha americanos e europeus. Até aqui, o objetivo da Otan era evitar a vitória da Rússia. A partir de agora, o objetivo é assegurar a vitória da Ucrânia. O que não muda a realidade fundamental: essa será uma longa guerra de atrito.
A ajuda militar da aliança ocidental à Ucrânia começou timidamente, com os drones turcos Bayraktar, os mísseis portáteis americanos Javelin e anglo-suecos NLAW.
Os ucranianos demonstraram notável destreza e inteligência tática no uso dessas armas leves, repelindo os avanços dos invasores.
Os russos recuaram e passaram a destruir a infraestrutura civil da Ucrânia com mísseis, para tentar forçar uma rendição. Os ucranianos suplicaram à Otan por defesa antiaérea, mas os governos ocidentais foram intimidados pela chantagem nuclear de Vladimir Putin.
A segunda grande onda de ajuda militar foram sistemas de multi-lançadores móveis de mísseis, sobretudo os Himars americanos e os IRIS-T alemães. De novo, os ucranianos fizeram uso exemplar dessas armas, atingindo alvos militares russos atrás da linha de contato.
Para Entender
- EUA vão enviar à Ucrânia 100 tanques de guerra usados no Iraque; Rússia fala em ‘aumento de tensão’
- Pentágono envia armas dos EUA armazenadas em Israel para a Ucrânia
- Por que a Guerra na Ucrânia lembra conflitos do passado e não os do século 21?
Os ucranianos recuperaram Kherson, ao sul, a principal cidade ocupada pelos russos, e impediram a tomada de Kharkiv, no leste, segunda maior cidade da Ucrânia. A cada vitória ucraniana no terreno, a Rússia intensificou os ataques a alvos civis, encorajando a Otan a remover os obstáculos políticos a mais ajuda.
Vieram as baterias antiaéreas Nasams, que protegem Washington. E, finalmente, a decisão de enviar os Patriots, o mais potente sistema antimísseis. Tudo isso teve emprego defensivo.
Com os tanques, os ucranianos aspiram a liberar o restante do território. Não será rápido nem fácil. Para as dezenas de tanques que eles receberão, os russos têm centenas, e enorme capacidade de alistar recrutas e mercenários.
Os ucranianos querem recuperar a Crimeia, ocupada em 2014, e historicamente integrada às estepes ucranianas.
Os tártaros da península, parcialmente retirados à força por Josef Stalin em suas limpezas étnicas, têm longo histórico de resistir ao imperialismo russo com os ucranianos. A ligação também é geoeconômica: a água da Crimeia vem da Ucrânia e seus produtos escoam para ela.
O dirigente soviético de origem ucraniana Nikita Kruchev devolveu a Crimeia à Ucrânia em 1954 porque entendia isso, não para adular sua terra natal. Então empobrecida, a Crimeia prosperou.
Mas perder a Crimeia exporia toda a frivolidade dessa guerra, até mesmo para a alienada opinião pública russa. O custo político para Putin seria proibitivo. É por isso que não há desfecho à vista.