Editorial
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Gazeta do Povo
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanha o Chanceler alemão, Olaf Scholz, após entrevista coletiva, no Palácio do Planalto, em Brasília (Brasil). no dia 30 de janeiro de 2023| Foto: EFE / André Borges
Que o presidente Lula tem se mostrado pródigo em fazer declarações sem sentido ou mesmo falsas não é novidade. Logo após se encontrar com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, no último dia 30, em Brasília, mais uma vez o presidente brasileiro não se conteve. Falando com jornalistas, Lula disse que Putin não é o único responsável pelo conflito com a Ucrânia. “Acho que a Rússia cometeu um erro crasso de invadir o território de outro país. Mas acho que quando um não quer, dois não brigam”, disse ele.
Pouco antes, durante reunião com Scholz, o brasileiro já havia reiterado que o Brasil não atenderia ao pedido feito pela Alemanha para envio de munições de tanques de guerra que seriam repassadas para o governo ucraniano. “O Brasil não tem interesse em passar munições para que sejam utilizadas entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é país de paz. O Brasil não quer ter qualquer participação, mesmo indireta”, justificou Lula. Para ele, a solução é formar um “clube das pessoas que vão querer construir a paz no planeta”, um grupo de países que “sente na mesa com a Ucrânia e a Rússia para tentar chegar à paz”.
Se Lula não quer enviar armas para que os ucranianos continuem resistindo às investidas russas, que pelo menos não tente justificar sua posição com falácias e frases feitas.
Não foi a primeira vez que Lula demonstra essa visão, simplista e equivocada da invasão da Ucrânia. Em maio do ano passado, ele já havia criticado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pela invasão russa. Em entrevista à revista Time, Lula disse que Zelensky “quis” a guerra. “Se não quisesse, teria negociado um pouco mais”, justificou o brasileiro na época.
A insistência do presidente brasileiro em declarar-se neutro em um conflito onde não há dúvida entre quem é agressor e o agredido, estranhamente o aproxima de seu antecessor. Jair Bolsonaro também preferiu não criticar os russos, mesmo que na ONU o Brasil tenha se colocado junto aos demais países que condenaram a invasão russa. Para justificar sua decisão, Bolsonaro alegou na época questões econômicas, como a necessidade de manter negócios com o país de Putin, como a compra de fertilizantes – pelo menos 22% dos fertilizantes consumidos no Brasil vem da Rússia.
Passado quase um ano desde a invasão russa, a Ucrânia mantém a resistência contra todos os prognósticos, incluindo os da própria Rússia, graças à tenacidade do povo ucraniano em defender seu território, e o auxílio de países ocidentais. A Alemanha de Olaf Scholz desde o início do conflito tem apoiado a Ucrânia e recentemente anunciou o envio de tanques de guerra ao país.
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Os EUA também têm contribuído para a resistência dos ucranianos e deve anunciar um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia no valor de US$ 2 bilhões, incluindo tanques, sistemas de defesas aéreos Patriot, armamento teleguiado e munição para combate. A compreensão dos líderes ocidentais é a de que, como ressaltou Scholz, a invasão da Ucrânia não é apenas uma questão europeia, mas uma “violação flagrante dos direitos internacionais e da ordem internacional”.
Embora sempre seja realmente preferível que a resolução de conflitos seja feita pela via pacífica, é, no mínimo, ingenuidade acreditar que uma simples conversa entre Putin e Zelensky, como sugeriu Lula, teria resultado positivo neste momento. Putin já deixou claro, mais de uma vez, que o que lhe interessa é a rendição da Ucrânia e desistência sobre os territórios invadidos.
Hoje, o apoio estrangeiro à Ucrânia é a única maneira de frear o avanço russo e criar condições para que uma real negociação, em que a Ucrânia tenha sua integridade territorial e política restabelecida. Se Lula não quer enviar armas para que os ucranianos continuem resistindo às investidas russas, que pelo menos não tente justificar sua posição com falácias e frases feitas.
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