Câmara dos Deputados
Para “enquadrar” governo após críticas ao BC

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou teor da ata do Banco Central sobre a manutenção da Selic a 13,75% ao ano: oposição do governo na Câmara quer convocar o chefe da equipe econômica| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara articula a convocação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para prestar esclarecimentos sobre a política econômica do governo e se posicionar sobre as recentes críticas de Lula e de parte da base governista contra a autonomia do Banco Central (BC) e a gestão do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

O objetivo da oposição é responder à altura as críticas e movimentos do governo e da esquerda de forma estratégica. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, protocolou na quarta-feira (8) um requerimento para que Campos Neto seja convocado pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e explique a política monetária do país.

Os requerimentos de convocação são diferentes dos de convite e são usados politicamente como formas de “enquadrar” a autoridade em questão, uma vez que, na convocação, existe a obrigação de comparecimento sob pena de incorrer em crime de responsabilidade. É com o mesmo intuito que os opositores planejam uma convocação de Haddad, a fim de emparedar Lula e seu governo tendo seu chefe da equipe econômica como intermediário.

“Só vamos esperar passar o carnaval e, assim que as comissões estiverem instaladas e os trabalhadores voltarem tudo certinho, podemos propor isso”, diz o deputado federal Evair Vieira de Melo (PP-ES), que é cotado para assumir a liderança da minoria na Câmara, um espaço de oposição ao governo vigente.

O parlamentar propõe uma oposição programática e estratégica contra Lula e sustenta que o regimento da Câmara permite o instrumento do convite e até o da convocação a um ministro de Estado. O parlamentar cita, porém, a proposta de um convite, que poderia ser negado por Haddad. “A oposição não tem dificuldade em fazer convite de uma audiência pública e posso ser até o autor de um convite”, destaca.

A proposta de convite não inviabiliza uma posterior convocação, mas outros opositores discordam da estratégia. O deputado federal Sanderson (PL-RS), por exemplo, fala em convocar não apenas Haddad, mas também o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. “Vamos pedir a convocação dos dois, para que possam responder sobre essa questão do Banco Central, como também sobre a questão da substituição do atual presidente do Banco dos BRICS, um economista respeitado, pela [ex-presidente petista] Dilma Rousseff”, sustenta.

O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) é outro a defender a ideia. Ele entende e concorda com as críticas de Lula ao atual patamar da taxa básica de juros (Selic), de 13,75% ao ano, mas discorda sobre a forma como o PT tem se posicionado. Para ele, o partido constrói uma narrativa de associar Campos Neto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de responsabilizar o presidente do BC pelos juros elevados.

“O PT tenta criar uma narrativa de politização do Banco Central de que tem um bolsonarista na presidência que teria interesses do não crescimento do país [pare prejudicar Lula]. Então, se o PT acha que Bolsonaro tem a presidência do BC, Lula tem a liderança da Fazenda”, comenta. “Se eles querem politizar convocando o presidente Campos Neto para fazer politização, nós também vamos convocar o homem de Lula [Haddad]. E aí, cada um vai ter o seu espaço para defender a sua política econômica”, complementa Otoni.


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