Chuva e terreno instável dificultam buscas
Gazeta do Povo


Chuva mais intensa na história do país deixou rastro de destruição por todo o litoral norte de SP| Foto: Divulgação / Defesa Civil de SP

Mais de 600 homens da Polícia Militar, do Exército, Defesa Civil e prefeituras seguem nas buscas por sobreviventes dos deslizamentos que causaram devastação no litoral norte de São Paulo nos últimos três dias. Um total de 40 mortes foram confirmadas, 39 delas na cidade de São Sebastião. Há dezenas de casas soterradas sob a lama e as árvores que desceram das encostas. Cerca de 40 pessoas estão desaparecidas.

O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, coronel Henguel Ricardo Pereira, disse que o tempo instável dificulta as buscas. ” A nossa dificuldade é com o tempo. Contamos muito que a chuva dê uma trégua. Essa é a preocupação. As equipes de busca continuam trabalhando nos pés dos morros, se houver novos deslizamentos, além de comprometer as buscas, há um risco para quem está trabalhando no local. Outra dificuldade é o próprio volume de terra que desceu, que foi altíssimo. É um trabalho demorado, manual, pois os bombeiros têm que cavar até encontrar as pessoas”, disse Pereira em entrevista por telefone ao jornal O Globo.

Em poucas horas choveu na região acima de 600 mm, mais do que o dobro do previsto para o mês inteiro. Foi o maior registro de chuva em tão curto espaço de tempo na história do País, segundo o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden). Em Bertioga o acumulado entre sábado e domingo foi de 682 mm, enquanto São Sebastião registrou 626 mm. O recorde anterior tinha ocorrido no ano passado, em Petrópolis, com 530 mm de chuva em 24 horas, que deixou 241 mortos. Meteorologistas do Inmet avaliaram que houve uma combinação de fatores: o ar quente e úmido vindo da Amazônia encontrou um sistema de baixa pressão no oceano Atlântico, e, assim, a frente “estacionou” sobre a região de São Sebastião.

Governador Tarcísio de Freitas transferiu seu gabinete para a cidade de São Sebastião| Divulgação / Governo de SP

Muitos locais só podem ser acessados por helicóptero
Com as encostas saturadas de água, a paisagem verde das montanhas acabou sendo rasgada em inúmeros pontos pelo barro da terra deslizada, arrastando árvores, casas e carros. A tragédia fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interromper a folga de carnaval, no Sul da Bahia, para visitar de helicóptero a região atingida pelos deslizamentos. Em reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e com o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, Lula destacou o esforço conjunto para reagir à calamidade, o que, segundo ele, era algo que não se via há tempos, numa indireta ao antecessor.

“Essa parceria que nós estamos fazendo aqui é uma fotografia boa para nosso país. Eu não sei de que partido é o prefeito, eu sei de que partido é o Tarcísio, vocês sabem por qual partido eu disputei as eleições. Mas vejam que coisa bonita e simples: nós estamos juntos. Acabou a eleição. Ele [Tarcísio de Freitas] tem a obrigação de cuidar do estado de São Paulo, esse aqui [Felipe Augusto] tem a obrigação de governar a cidade e eu tenho a responsabilidade de governar o país. Se cada um ficar trabalhando sozinho, a nossa capacidade de rendimento é muito menor. E é por isso que precisamos estar juntos, de compartilhar as coisas boas e ruins, porque juntos nós seremos muito mais fortes e São Sebastião será recuperada muito mais rápido”, disse o presidente.

Bombeiros fazem escavações na Barra do Sahy| Reprodução / Polícia Militar de SP

Governo quer reconstrução longe das encostas
Lula anunciou que vai destinar recursos para reconstrução das casas destruídas, mas desde que isso aconteça em áreas seguras, longe das encostas. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que estava no Guarujá durante as chuvas, assegurou que há dinheiro imediato para ações de socorro do governo federal. “Temos R$ 400 milhões para atender o Brasil, lá na frente vamos ter que repor para atender outros municípios e estados. Mas a gente já tem dinheiro”, disse Tebet. A ministra também informou que serão liberados saques do FGTS para as famílias desabrigadas.

O governador de São Paulo disse que as equipes ainda lutavam para dimensionar o tamanho dos estragos. “É um volume de terra tão grande que se deslocou e numa extensão tão grande que a gente levanta até a hipótese de a rodovia ter sido arrastada juto, de a rodovia não existir mais”, afirmou. Ele pediu para os turistas não se arriscarem a tentar voltar para casa, devido aos riscos de novos deslizamentos e a vários trechos ainda interditados. O gabinete do governo paulista foi transferido pra São Sebastião. Além do município, estão sob decreto de calamidade pública as cidades de Ubatuba, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga.

Veja para onde direcionar doações

Os esforços para encontrar sobreviventes e resgatar pessoas ilhadas pela lama mobilizaram mais de uma dúzia de helicópteros. O governo de São Paulo pede que os donativos para os desabrigados sejam entregues nos depósitos do Fundo Social de São Paulo e da Defesa Civil. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse pelas redes sociais que determinou à Receita Federal que identifique bens apreendidos que possam ser úteis para as famílias atingidas: “São mais de R$ 11 milhões em roupas, calçados, itens de cama, mesa, banho, higiene pessoal, material de limpeza e utensílios de cozinha”, disse Haddad.

Veja quadro com orientações da Polícia Militar sobre como encaminhar as doações.

| Reprodução / Polícia Militar


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