Editorial
Por
Gazeta do Povo
| Foto: Ana Volpe/Agência Senado
Coincidência ou não, no primeiro trimestre completo com a perspectiva de Lula na Presidência da República – presidente eleito em novembro e dezembro de 2022, e já tendo tomado posse em janeiro de 2023 –, o desemprego voltou a subir, após dez quedas consecutivas. E não subiu pouco: a elevação foi de meio ponto porcentual, de 7,9% no último trimestre do ano passado para 8,4% no trimestre móvel encerrado em janeiro. O número de brasileiros desempregados, que era de 12 milhões no início do ano passado e foi caindo até fechar o ano em 8,6 milhões, agora voltou para os 9 milhões.
Como a definição de “desempregado” do IBGE exige não apenas que a pessoa esteja sem trabalho, mas também que esteja procurando por ele, alguém mais otimista até poderia imaginar que o número cresceu porque muitos brasileiros teriam deixado uma situação de desalento – quando a pessoa não tem trabalho e não está nem mesmo procurando emprego – para voltar a tentar um posto no mercado de trabalho, mas não foi isso o que aconteceu. Na comparação do trimestre móvel encerrado em janeiro com o trimestre móvel encerrado em dezembro de 2022, o número de desalentados permaneceu o mesmo, cerca de 4 milhões; quase todo o resto caiu: a população ocupada (de 99,4 milhões para 98,6 milhões), o número de brasileiros com carteira assinada (36,9 milhões para 36,8 milhões), os empregados sem carteira assinada (13,2 milhões para 13,1 milhões), os trabalhadores por conta própria (25,5 milhões para 25,3 milhões), e até mesmo os informais (38,6 milhões para 38,5 milhões). O único grupo a registrar elevação foi o dos trabalhadores domésticos, de 5,8 milhões para 5,9 milhões.
É bem provável que a realidade do mercado de trabalho reflita uma combinação de fatores sazonais, uma desaceleração real e o desestímulo provocado pela ascensão de um governo hostil ao setor produtivo
O índice de desemprego poderia ter sido até mais alto que 8,4%. Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, “o processo de busca por trabalho no mês de janeiro não costuma ser dos mais intensos” porque “é mês de férias. Empresas têm paradas técnicas, ou férias”. Em outras palavras, se todos os que perderam trabalho recentemente estivessem à procura de recolocação, o desemprego teria sido ainda maior. A observação deixa implícito algo que é preciso levar em conta ao olhar os números: os últimos meses de um ano e primeiros meses do ano seguinte são momentos atípicos do mercado de trabalho, com muitos fatores sazonais (das festas de fim de ano às férias de verão) que têm seu efeito nos indicadores. Por isso, Beringuy ainda afirma: “Eu não sei até que ponto o que está prevalecendo é um comportamento sazonal ou uma perda de força” do mercado de trabalho, embora também seja verdadeiro que o recente ciclo de alta dos juros para conter a inflação já mostra seu impacto nos investimentos e na consequente geração de empregos.
No entanto, tão inegável quanto o efeito dos juros sobre a atividade econômica é a deterioração das expectativas causada pela vitória eleitoral de Lula. Um presidente que passou a campanha toda demonizando os esforços de ajuste fiscal, que aposta no aumento de impostos e arrecadação para conter o déficit público, que tem horror à liberdade econômica, que não hesita em demonstrar preconceito contra empresários e o agronegócio, que bombardeia o processo de adesão brasileira à OCDE e que culpa a autonomia do Banco Central por todos os indicadores ruins que aparecem envia uma péssima mensagem aos empreendedores brasileiros e estrangeiros. Portanto, é bem provável que a realidade do mercado de trabalho reflita uma combinação de fatores sazonais, uma desaceleração real e o desestímulo provocado pela ascensão de um governo hostil ao setor produtivo.
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O governo, obviamente, continuará acreditando que não tem nada a ver com isso, que o desemprego subiu por culpa do Banco Central e que basta estimular artificialmente o crédito que tudo estará resolvido. Lula e seu ministro do Trabalho, Luiz Marinho, não acordaram com os dados do Caged e provavelmente não acordarão com os números do desemprego, desperdiçando mais um alerta. Marinho seguirá obcecado com a regulamentação dos aplicativos, o saque-aniversário do FGTS e o fim da reforma trabalhista de 2017, sem mover um dedo para incentivar a redução da carga tributária sobre a folha salarial ou o aumento da segurança jurídica nas relações de trabalho. Ganham apenas os “companheiros”, mas perde um país inteiro, pois quem não tem emprego tem pressa.
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