Corrupção, incompetência e impunidade nas obras inacabadas – algumas da era Lula

Por
Lúcio Vaz

BRA50. BRASÍLIA (BRASIL), 06/1/2023. – El presidente de Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, reacciona durante la primera reunión ministerial del gobierno hoy, en el Palacio del Planalto, en Brasília (Brasil). Lula da Silva reunió este viernes por primera vez a sus 37 ministros y los instó a trabajar por la “reconstrucción” de la “democracia” y en favor “del pueblo abandonado por el Estado”. EFE/ Andre Borges


Lula durante a primeira reunião ministerial, no Palácio do Planalto, em Brasília| Foto: EFE/André Borges

O presidente Lula afirmou há duas semanas que há mais de 14 mil obras paradas no Brasil. E disse que a retomada dos trabalhos vai gerar empregos e qualidade de vida nos municípios. O presidente conhece o assunto. Algumas das maiores obras inacabadas tiveram início ou atravessaram os governos Lula e Dilma Rousseff sem serem concluídas.

As obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), iniciaram em 2008, no segundo governo Lula, com investimentos previstos de US$ 26,6 bilhões, segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU). Na primeira etapa, seria construído o Trem 1 da refinaria. Depois, as unidades petroquímicas e o Trem 2 da refinaria. A refinaria teria a capacidade para processar 465 mil barris de petróleo por dia.

Em 2014, porém, a Operação Lava Jato apurou a existência de um cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras, com a prática de superfaturamento de obras, corrupção e financiamento de partidos políticos por meio de propinas pagas pelas empreiteiras, registra o TCU. As empreiteiras pagavam propina de 3% do valor da obra a políticos do PT, MDB e PP. Segundo o TCU, o prejuízo provocado pelo superfaturamento chegou a R$ 18,6 bilhões. As obras da refinaria foram paralisadas em 2015. As descobertas da Lava Jato enfraqueceram a então presidente Dilma, que sofreria o impeachment no ano seguinte.

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Refinaria não tinha “atratividade”, diz Petrobras
Em julho de 2016, com Dilma já afastada da Presidência da República, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a reavaliação do projeto do Comperj, associada à implantação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN). Quando as obras do Trem 1 do Comperj tinham avanço físico de 85%, foram suspensas devido a restrições de caixa vividas pela Petrobras, diz o Acórdão 632/2017 do TCU.

Em 2019, a Petrobras concluiu que a finalização da construção da refinaria não apresentava atratividade econômica. Hoje, a Petrobras segue desenvolvendo Projetos de Investimento no Polo Gaslub, em Itaboraí, conforme divulgado no Plano Estratégico 2023-2027. Lula é novamente presidente do Brasil.

O blog questionou a Petrobras qual o valor recuperado pela empresa a partir de decisões judiciais e de negociações com as empreiteiras envolvidas nos processos de corrupção. A Petrobras afirmou que o total de recursos transferidos para os cofres da Petrobras (incluindo subsidiárias), em decorrência de acordos de colaboração, leniência e repatriações, ultrapassou o montante de R$ 6,7 bilhões.

Sobre o aproveitamento dos que restou do Trem 1 da refinaria, a Petrobras respondeu que “uma das premissas utilizadas para todos esses projetos é a utilização da infraestrutura e o máximo possível das instalações que foram construídas e preservadas após a descontinuidade e posterior cancelamento do antigo projeto Comperj”. (Veja nota da Petrobras abaixo)

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Uma obra de quatro décadas
A construção da Usina Nuclear Angra 3 foi iniciada em 1984, paralisada após dois anos e retomada em 2009, com a sua inclusão Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Parou novamente em 2015, em decorrência da corrupção na direção da empresa, apurada pela Lava Jato. A retomada das obras ocorreu em novembro do ano passado, com a concretagem da usina. Com orçamento de R$ 17 bilhões, tem a sua conclusão prevista para 2028 – 44 anos após o seu início. Terá potência de 1.400 megawatts (MW). A geração das usinas 1, 2 e 3 vai equivaler a 60% do consumo de energia do Estado do Rio de Janeiro, ou 3% do país.

O vice-almirante Othon Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, suspeito de ter recebido propina do consórcio das empreiteiras responsáveis pela obra, chegou a ser condenado a 43 anos de prisão pelo juiz Marcelo Bretas, em primeira instância. Em março do ano passado, em decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, teve a pena reduzida para 4 anos e 10 meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A reclusão foi substituída por duas penas restritivas de direito.

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Projeto alterado com 58% de execução
As obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Cuiabá tiveram início em junho de 2012, com orçamento de R$ 1,48 bilhão. Deveriam estar concluidas para a Copa do Mundo de 2014, que teve a capital do Mato Grosso como uma das sedes.  Após quase nove anos, o percentual de execução financeira está em 72% e a execução física em 58%. O governo estadual, responsável pelo projeto, afirma que “a empresa não cumpriu o cronograma previsto para entrega da obra”. Em 2017 a Operação Descarrilho da Polícia Federal descobriu um esquema de corrupção na execução das obras do VLT, o que levou o governo a rescindir o contrato com o Consórcio VLT.

O VLT liga Cuiabá a Várzea Grande, onde está localizado o aeroporto, numa extensão de 23 quilômetros. Os 40 trens teriam capacidade para transportar 100 mil pessoas por dia. Em janeiro de 2021, porém, após muita polêmica, a Assembleia Legislativa do Mato Grosso aprovou a alteração do modal para ônibus elétricos (BRT). Os trilhos já implantados foram arrancados. O governo de Mauro Mendes (União) entende que a construção do BRT “será mais econômica aos cofres públicos, mas, principalmente, terá uma operação mais barata, com menor custo para os usuários do transporte público”.

O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), é contra a troca de modal. “O BRT foi sucesso há 50 anos. Cuiabá tem que olhar para frente e se equiparar com as principais capitais brasileiras e do mundo. Temos que lutar pelo mais inovador, por mais sustentabilidade, dignidade e respeito pelo usuário do transporte coletivo”, diz o prefeito. Segundo a prefeitura, pelos cálculos do consórcio que realizou 75% das obras, numa estimativa feita há cinco anos, seria necessário mais de R$ 922 milhões para o término da obra.

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Transnordestina e Transamazônia: “Brasil Grande”

Iniciada em junho de 2006, no segundo governo Lula, a Ferrovia Transnordestina tem um avanço físico de 59% do novo traçado de 1.209 km – de Simplício Mendes (PI) ao porto de Pecém (CE). Já foram aplicados R$ 7,5 bilhões na obra. Estão concluídos 815 km de ferrovia, dos quais 215 km foram executados em 2022. Este ano, a previsão da empresa é concluir mais 100 km, no Ceará, além de iniciar novos lotes dependendo da liberação de recursos já contratados. O trecho de Simplício Mendes (PI), onde deveria iniciar a ferrovia, ainda está na fase de terraplanagem, anterior à colocação dos trilhos, dormentes e brita. Também há a construção de pontes e viadutos.

O restante está sendo estruturado entre a Transnordestina Logística (TLSA), a acionista Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o governo federal para finalizar a ferrovia. Está contratado R$ 1 bilhão via fundos constitucionais – Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor). A TLSA é uma entidade privada, mas conta com investimentos públicos. Os recursos próprios investidos representam 61% do total, enquanto os recursos de terceiros (dívida) chegam a R$ 39%.

O prazo para a conclusão da obra é 2029 no aditivo contratual assinado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em dezembro de 2022. Mas a TLSA afirmou ao blog que “internamente” a previsão é 2027: “Temos todo interesse em concluir a ferrovia o quanto antes, para que ela possa operar e gerar receita”. O termo aditivo estabelece condições para a devolução do trecho Salgueiro/Porto de Suape (PE), previsto originalmente no projeto. O novo cronograma deverá considerar o prazo de até 7 anos para a conclusão das obras do trecho remanescente da TLSA.

Segundo a TLSA, a construção está em andamento, gerando cerca de 2 mil postos de trabalho. “Desde 2017, o empreendedor CSN vem custeando a obra com recursos próprios e honrando os financiamentos mesmo antes do início da operação comercial da ferrovia”.

Trecho de Simplício Mendes inacabado, em foto de março de 2021, 15 anos após o início das obras. Foto: DJ/Magnata
A obra inacabada mais antiga no Brasil é a lendária Transamazônica, iniciada em 1970. O país vivia a ditadura militar, governo de Emílio Garrastazu Médici, nos tempos do “Brasil Grande”, das obras faraônicas, do “Milagre brasileiro”. O traçado da rodovia começa em Cabedelo (PB) e vai até Lábrea (AM). O primeiro trecho foi inaugurado em 1972, mas a maior parte da rodovia na Amazônia não está asfaltada até hoje.

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Petrobras diz utilizar instalações do Comperj

O blog enviou à Petrobras os seguintes questionamentos: 1) o que houve com o Trem 1 do Comperj, foi desmontado, demolido? 2) qual o prejuízo decorrente do abandono da etapa do Trem 1? 3) o TCU registrou, em 2020, que o prejuízo decorrente da corrupção na empresa foi de R$ 18,6 bilhões. Atualmente, qual é o valor total do prejuízo? 4) qual o valor recuperado pela empresa a partir de decisões judiciais e de negociações com as empreiteiras envolvidas nos processos de corrupção? 5) por que a construção da refinaria não apresentava mais atratividade econômica? 6) A Petrobras projeta a construção de novas refinaria?

A Petrobras respondeu que segue desenvolvendo Projetos de Investimentos no Polo GasLub, em Itaboraí, conforme divulgado no Plano Estratégico 2023-2027. Estão em curso o Projeto Integrado Rota 3, em fase final de implantação, que inclui a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural de Itaboraí (UPGN Itaboraí) para o processamento de até 21 milhões de m3/dia de gás do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos, com entrada em operação prevista para 2024.

Está em andamento o projeto de refino para implantação de Unidades de produção de combustíveis e lubrificantes, em sinergia com a Reduc, que teve seu estudo de alternativa e engenharia conceitual aprovado em dezembro de 2022 e segue desenvolvendo os estudos de engenharia básica que suportarão o planejamento das fases posteriores do projeto e estudos para a construção de uma Usina Termoelétrica, a UTE-GasLub.

A Petrobras acrescentou: “Vale destacar ainda que o Plano Estratégico 2023-2027 da Petrobras não prevê construção de nova refinaria. Dos US$ 9,2 bilhões previstos para a área de Refino e Gás Natural nos próximos cinco anos, cerca de metade será aplicado na expansão e aumento da qualidade e eficiência do refino nas instalações atuais. O plano prevê investimentos em oito novas unidades de processamento, além de seis obras de adequações de grande porte em unidades já existentes. Com esses projetos concluídos, prevê-se aumento de capacidade de processamento e conversão do refino da Petrobras em 154 mil barris por dia (bpd) e a capacidade de produção de Diesel S-10 será ampliada em mais de 300 mil bpd”.


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