Foto: Michele Minerbo
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Por Helena Gomes – Jornal Estadão
Confira receitas de pratos que renegaram suas origens e ganharam fama em outras terras
Alguns pratos são tão famosos em determinados países que se tornam basicamente embaixadores daquela nação, como acontece com a pizza e o macarrão na Itália ou o sushi no Japão. Mas, apesar de esconderem bem suas origens, muitos desses ícones gastronômicos são, na verdade, ilustres estrangeiros. Para conhecer a verdadeira identidade de iguarias como macarrão, alfajor, croissant, sushi e pudim de leite, conversamos com o professor da Anhembi Morumbi, Beto Almeida. Aproveite também para ver receitas de cada um dos pratos que, sejam de onde forem, são todos maravilhosos.
Macarrão não é da Itália?
Já que falamos dele ali no início, vamos começar pelo macarrão. A origem do alimento é um tema bastante discutido, segundo Almeida, e ainda não foi totalmente esclarecida. “Existem registros históricos que sugerem que o macarrão já era conhecido na China há mais de 4.000 anos e que ele foi trazido para a Itália por Marco Polo durante suas viagens no século XIII”, explica.
Com o tempo, a Itália foi aprimorando tanto o macarrão que chegou à versão moderna da massa seca, como é conhecida hoje. Apesar disso, ele ressalta que os historiadores ainda discutem se o macarrão já não estava sendo criado em outras partes do mundo.
Alfajor não é da Argentina?
O alfajor é conhecido como um doce tipicamente argentino, mas sua origem exata também é incerta. Muitos acreditam que a iguaria tenha sido introduzida pelos mouros na Península Ibérica no século VIII, já que eles faziam a sobremesa chamada Al Hasu, que tinha ingredientes semelhantes ao alfajor.
De acordo com Almeida, a estrela das sobremesas argentinas pode na verdade ser espanhola, já que se assemelha muito a um doce que existe até hoje, feito com massa de amêndoas, açúcar e mel. “Já o alfajor argentino geralmente leva biscoitos de amido de milho e recheado com doce de leite”, diferencia.
Croissant não é francês?
Segura o coração com essa notícia. Os relatos históricos indicam que a versão moderna do croissant foi desenvolvida na França no final do século XIX, mas a receita teria nascido na Áustria com um doce que existe até hoje, o Kipferl. “O que fez a massa de pão doce e amêndoas chegar à França foram os fortes laços culturais e comerciais entre esses países. Na França, ela foi transformada em uma massa mais leve e folhada”, conta o professor da Anhembi Morumbi.
Sushi não é japonês?
Para alguns historiadores o sushi nasceu na China. “O sushi como conhecemos hoje teria nascido do uso de uma técnica chinesa de conservação de peixes em arroz fermentado chamada narezushi. Esse método se baseia em envolver o peixe em arroz cozido e deixá-lo fermentar por vários dias. Quando o peixe é retirado do arroz, fica com um sabor ácido e salgado, e o arroz é descartado”, acrescenta.
Doces de compota não são mineiros?
Os famosos doces de compota mineiros, por mais famosos que sejam aqui no Brasil, têm origem no Oriente Médio. Com o tempo, povos como os europeus aprenderam a técnica e passaram a criar variedades de doces de compota que acabaram evoluindo e viajando por outros países até chegarem ao Brasil. Aqui viraram o nosso doce de compota mineiro, conta Beto Almeida.
Pudim de leite não é brasileiro?
Tem muito doce bom que nasceu aqui no Brasil, mas o pudim de leite não foi um deles. Esse doce tão querido em nossas terras foi criado em Portugal e mesmo assim, inspirado em uma sobremesa romana: “Uma das possíveis origens do pudim de leite remonta ao Império Romano, onde o leite era misturado com ovos e mel para fazer uma sobremesa conhecida como ‘Melca’, que era cozida em banho-maria. Na Idade Média, surgiram variações dessa sobremesa em toda a Europa, muitas vezes usando ingredientes locais, como amêndoas ou frutas”.
Pavê não nasceu no Brasil?
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Apesar de a sobremesa ser o clássico das piadas de tio no Natal, o pavê não é essencialmente brasileiro, mas francês, e o docente explica por que: “O nome pavê tem origem da palavra francesa ‘pavage’, que significa ‘calçamento de pedras’, uma referência à aparência das camadas da sobremesa, que geralmente é feita com camadas de biscoitos, creme, frutas, chantilly etc. E foi só no século XX que ela chegou ao Brasil através dos imigrantes franceses”, detalha.