Os democratas preferem enfrentar Trump

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Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


O ex-presidente americano Donald Trump, indiciado em Nova York por 34 acusações de falsificação de registros comerciais| Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
Ouça este conteúdoUm promotor e um juiz de Nova York estão dispostos a enviar para cadeia o ex-presidente Donald Trump, que tem planos de voltar a disputar a presidência dos Estados Unidos no ano que vem. Eles já conseguiram que o júri considerasse a procedência da denúncia e, pela primeira vez na história, um ex-presidente americano saiu da condição de investigado para réu.

Os detalhes das denúncias revelaram que tanto o promotor, filiado ao Partido Democrata, quanto o juiz, pai de uma prestadora de serviços para campanhas eleitorais democratas, talvez fiquem no quase. A dupla, que é celebrada por muitos como operadores da tão desejada prisão de Trump, parece ter nas mãos muito menos do que prometeram entregar.

Aliás, talvez eles não saibam que podem estar ajudando Trump na consolidação de sua desejada candidatura. Ou talvez saibam muito bem o que estão fazendo, pois o caso – que reúne falhas processuais, como ilegitimidade de jurisdição e prescrição, apenas para citar dois exemplos que não isentam Trump de culpa alguma, mas impedem um processo em Nova York – está sendo empurrado para 2024, para coincidir com as primárias que definirão quem será o candidato do Partido Republicano na eleição do ano que vem.

Um cenário interessante foi prospectado no Twitter pelo estatístico americano Nate Silver. Ele lançou uma enquete, na qual perguntou aos democratas quem eles prefeririam enfrentar nas eleições.

O preferido dos democratas é Donald Trump.

Entre as várias leituras possíveis, há uma que passa pela impressão de que Trump é mais fácil de ser batido. Os processos em Nova York, por exemplo, seriam um dos pontos fracos do ex-presidente.

Possivelmente, os democratas estão pensando como o núcleo duro bolsonarista, que entendia que enfrentar o então presidiário Lula era o melhor dos mundos.

Fizeram corpo mole em defender a Lava Jato e, de certa forma, atiçaram a base contra a operação. Enterraram a CPI da Lava-Toga. O final da história já é conhecido. Lula soube se aproveitar dos erros do rival e mostrou para os Bolsonaro que subestimar a sua capacidade de resiliência foi o seu maior erro.

Em Washington, há quem pense que o plano democrata é levar para o ringue eleitoral um Trump iludido sobre seu potencial.

O efeito colateral imediato do indiciamento de Trump tem sido um reagrupamento dos republicanos. Os absurdos em torno de seu processo têm deixado até quem havia virado as costas para ele indignado. Trump voltou a crescer para além de sua base militante.

A questão é saber quão duradouro será o processo de aglutinação de forças ao redor de Trump. Se ele chegará nas eleições sangrando, como sonham os democratas, ou se ele surpreenderá seus rivais, assim como fez Lula.

A comparação entre Estados Unidos e Brasil tem, evidentemente, uma série de limitações. Lula não jogou sozinho. Teve o apoio irrestrito da imprensa, da Justiça, dos acadêmicos e artistas, sem falar de um sem número de líderes estrangeiros.

Trump terá um cenário inverso, com a sorte de que, apesar de o tribunal de Nova York ter assumido características banânicas, a Justiça nos Estados Unidos ainda está longe de subir no palanque, como o fez no Brasil.

Portanto, a Justiça é apenas o cenário para o circo eleitoral que já começou. O picadeiro promete muita animação.

Feliz Páscoa.

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