Hegemonia da esquerda em associações e ONGs favorece domínio da máquina estatal
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília


Membros de associações e ONGs com viés de esquerda têm ganhado força em ministérios durante o governo Lula.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Na luta por representatividade nas esferas do poder público, a direita tem esbarrado em uma realidade que pouco mudou mesmo após os quatro anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): a esmagadora hegemonia da esquerda em associações, ONGs, think tanks e institutos com influência dentro da máquina estatal.

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a Presidência, o PT tem sido veloz em montar novas estruturas que ampliem o envolvimento de grupos do tipo com o Estado. Um dos focos do governo tem sido aumentar o que a esquerda chama de “participação da sociedade civil” – que se traduz, na prática, em abrir as portas do Estado brasileiro a representantes de entidades com viés de esquerda em órgãos colegiados, secretarias de ministérios, audiências públicas e outros contextos, na condição de especialistas em suas áreas.

Quer em quantidade ou em capacidade de influência, organizações desse tipo com valores associados à direita têm muito menos força no Brasil. A discrepância tem reflexo, entre outras coisas, na dificuldade de composição de quadros no Executivo durante um governo direitista como o de Bolsonaro; no governo Lula, egressos de associações, ONGs e outras entidades da sociedade civil comandam diversas pastas e povoam os ministérios.

Não é só no Executivo, contudo, que isso tem impacto. Na audiência pública sobre o Marco Civil da Internet promovida em março pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, o predomínio de associações com viés esquerdista era claro. As discussões, por conta disso, penderam muito mais para a defesa de métodos de controle e censura nas redes do que para o apoio à liberdade de expressão.

Em alguns julgamentos importantes da Corte, há forte predomínio de amici curiae alinhados a visões de esquerda, o que não é necessariamente o reflexo de uma seleção enviesada dos ministros. Na ADPF 442, em que se tenta descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gestação, há claro desequilíbrio no próprio número de inscritos, como mostrou reportagem da Gazeta do Povo.

No Executivo, mesmo antes de Lula assumir a Presidência, associações e ONGs se perpetuavam em órgãos colegiados que servem ao aparelhamento estatal. Em pleno governo Bolsonaro, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) era composto por entidades pró-aborto, feministas extremistas e defensores da ideologia de gênero. Isso pode ser explicado, em parte, pelo caráter fechado das votações que elegem novos membros; mas, em alguma medida, o viés ideológico homogêneo também se deve à falta de alternativas entre os candidatos.

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Na opinião de Lucas Berlanza, presidente do Instituto Liberal, o que mais atrapalha a direita não é a incapacidade de se associar, mas sim a “falta de estrutura e especialização”. “O Brasil, de forma geral, tem uma cultura associativa bastante deficitária, mas não creio que os liberais e conservadores padeçam desse problema em particular”, afirma. “Considero que haja mais uma combinação de falta de estrutura e especialização para atuar em determinados ambientes e, naturalmente, falta de pessoal, tanto no campo do financiamento quanto no campo da articulação intelectual”, complementa.

O “amadorismo” da direita nesse âmbito contrasta com a perspicácia de certas ações da esquerda, que infiltra organizações radicalmente ideológicas na máquina estatal até mesmo em iniciativas bem-intencionadas na aparência.

No fim de março, o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, lançou edital com o objetivo expresso de destinar até R$ 6 milhões a organizações da sociedade civil que promovam ações voltadas a mulheres usuárias de drogas ou que sofram o impacto do tráfico, em especial negras e indígenas. Uma das organizações participantes do evento de lançamento do edital era a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, que trabalha com o controverso conceito de “redução de danos” (entenda nesta reportagem) e é uma das maiores financiadas no Brasil pela Open Society Foundations, de George Soros.

Para Berlanza, a desorganização da direita pode ser um problema importante, mas não é a única explicação para a hegemonia da esquerda em organizações da sociedade civil. “Há razões de sobra para que as vozes dissonantes se sintam intimidadas e desencorajadas nas esferas de expressão da intelectualidade. As lideranças no ambiente universitário estão associadas às ideias de esquerda e ao coletivismo, mobilizando todo tipo de pressão e constrangimento contra os que não subscrevem suas pregações”, comenta.

A solução para isso, na visão dele, é “marcar presença em cada espaço” que for aberto com o objetivo de “garantir que nossas pautas ganharão relevância e consolidarão uma corrente de opinião no país”.

“Muitas vezes, quando se faz uma participação em um programa televisivo ou radiofônico que não seja especificamente voltado ao público que não congrega das mesmas ideias que as nossas, por exemplo, nota-se o retorno de espectadores satisfeitos com o esforço por pluralizar a discussão. É claro que muitos já partilhavam de nossas concepções, mas, de qualquer maneira, têm a satisfação de encontrá-las representadas onde normalmente elas não teriam vez”, observa.

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