Artigo
Por
Patricia Eliane da Rosa Sardeto – Gazeta do Povo
Em seus poucos meses de vida, o ChatGPT causou furor em todos os setores, desde a tecnologia até a educação.| Foto: Bigstock
ChatGPT é só mais do mesmo? Sim e não. Provavelmente não é a primeira vez que você escuta falar sobre o ChatGPT, mas se for, vale a pena uma breve explicação. O ChatGPT é uma inteligência artificial generativa e não é a única deste tipo, apenas a mais conhecida. Vamos imaginar uma criança, que em termos de conhecimento e aculturação é uma tábula rasa; aos poucos vai recebendo ensinamentos e informações dos seus pais, parentes, professores, amigos, da internet, de modo a formá-la como ser humano “inteligente e civilizado”. O que estamos presenciando em termos de evolução da inteligência artificial é bem parecido.
Em 1950, Alan Turing já previa a capacidade da máquina pensar e de colaborar com o ser humano em atividades que desempenharia muito melhor. Desde então, o estudo e aplicação da inteligência artificial tem avançado no sentido de ensinar a máquina a aprender (é o que chamamos de aprendizagem de máquina – machine learning), isso através de um enorme banco de dados e muito treinamento. Já faz parte da nossa rotina usar mecanismos de busca na internet para encontrar tudo o que precisamos, desde informações triviais como a previsão do tempo até… (diríamos antigamente que o céu é o limite, mas já não podemos mais usar esse ditado popular, pois a questão de limites é um dos maiores desafios da internet).
Cabe a nós moldar essa nova tecnologia da melhor forma possível, porque algo que aprendemos com a história é que não freamos a evolução.
Aqui vem a primeira parte da resposta. Não, o ChatGPT não é mais do mesmo. A máquina aprendeu a aprender e agora gera suas próprias respostas, por isso é uma inteligência artificial generativa. Ela cria, a partir de um banco de dados gigante, e interage com os usuários gerando mais e mais informação e o banco de dados vai aumentando a cada nova interação. É a nossa criança, como uma esponjinha, absorvendo tudo que consegue captar do meio. O que vem pela frente? Um futuro de possibilidades fantásticas, mas também de riscos evidentes. E, na história da humanidade, sempre foi assim a cada nova tecnologia.
Agora vem a segunda parte da resposta. Sim, o ChatGPT é mais do mesmo! É lógico que estamos diante de uma tecnologia extremamente disruptiva, com uma penetração social assustadora e com um potencial de transformação talvez nunca antes visto. No entanto, é uma nova tecnologia como foi a criação do alfabeto, a roda, a máquina a vapor, a eletricidade, o computador pessoal, a internet, cada uma dessas novas tecnologias no seu tempo proporcionou mudanças paradigmáticas, extinguiu postos de trabalho e criou novos, mudou a organização social, fez repensar a metodologia de ensino, trouxe novas concepções sobre o ser humano, apenas para citar algumas transformações.
Ou seja, estamos vivendo um desses momentos históricos e precisamos ter consciência disso. Cabe a nós moldar essa nova tecnologia da melhor forma possível, porque algo que aprendemos com a história é que não freamos a evolução; ela segue. Assim, precisamos estar no mesmo compasso. Precisamos entender esse novo mundo, nos informar (em fontes confiáveis), discutir muito sobre os impactos dessa nova tecnologia em todos os meios que estamos inseridos, seja na escola, no trabalho, em casa, na nossa rede de amigos, enfim, precisamos conseguir nos posicionar de forma livre e consciente em relação ao uso da inteligência artificial e digo mais, nós adultos precisamos fazer o nosso melhor para conseguirmos ajudar nossas crianças e adolescentes, que estão literalmente “vendidos” nesse novo mundo.
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O ChatGPT e outras tecnologias que ainda vão surgir nos dão a oportunidade de olhar para nós mesmos, como seres humanos, e refletir sobre questões fundamentais sobre nós, a comunidade na qual estamos inseridos, a sociedade que desejamos. Isso porque a inteligência artificial está aprendendo conosco, seres humanos. Se somos preconceituosos, se propagamos a violência, a intolerância, não podemos esperar um padrão diferente da tecnologia.
Por isso, para que a inteligência artificial atue como ferramenta a serviço da humanidade, devemos colocá-la no centro do debate público e cobrar a observância de princípios fundamentais no seu desenvolvimento e aplicação, tais como: transparência, inclusão, responsabilidade, imparcialidade, confiabilidade, segurança e privacidade.
Patricia Eliane da Rosa Sardeto é coordenadora do curso de Direito e líder do Grupo de Pesquisa em Direito e Inovação Tecnológica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em Londrina.
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