No futuro do pretérito do indicativo
Por
Luís Ernesto Lacombe – Gazeta do Povo
Fachada do edifício sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil.
Aos inimigos todas as ilegalidades, todos os abusos, todas as aberrações. Aos inimigos, a perseguição, o cerco, a caçada, o abate. A eles, a condenação pura e simples, incondicional, em um minuto, sem debate. Aos inimigos, a vingança, todo o castigo imerecido, toda a crueldade. Forca, guilhotina, execução sumária.
Uma ditadura não tolera inimigos, e deles tira tudo: a voz, os gestos, os passos, as palavras escritas, os pensamentos, as críticas, as opiniões. Uma ditadura age sempre para tirar de opositores a existência. Uma ditadura censura, controla, determina, manda.
Uma ditadura tem presos e exilados, uma coleção deles. Prende quando lhe dá na telha, atropela leis, fatos, evidências, falta de evidências, provas, falta de provas. Estado de Direito, direitos fundamentais, devido processo legal, uma ditadura recria isso tudo, a seu modo. Acaba com redes sociais, congela contas bancárias, cancela passaportes…
Uma ditadura não tolera inimigos, e deles tira tudo: a voz, os gestos, os passos, as palavras escritas, os pensamentos, as críticas, as opiniões
Uma ditadura respeita apenas a sua própria decisão, cassa mandatos políticos, caça pessoas, encurrala um país. Votos populares não valem; só valem os votos dos ditadores, de seus cúmplices e vassalos. Uma ditadura tem “missões dadas e missões cumpridas”, tem capachos e cupinchas.
Numa ditadura, as leis não olham o fato consumado, o feito, o passado… Elas mudam, são inventadas, insanamente interpretadas. Há volteios, voltinhas, malabarismos, piruetas, cambalhotas. Há mentiras, num duplo twist carpado, o incerto, o duvidoso, o futuro do pretérito do indicativo.
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Uma ditadura tem monstros alimentados por pessoas que se sentem inatingíveis, são aproveitadoras, ingênuas, idiotas úteis… O arbítrio vai formando a fila; o abuso vai eliminar um por um. Todos serão torturados, todos cairão no desalento, no desânimo. A esperança assassinada será a esperança de todos.
Não haverá misericórdia. O condescendente, o alienado, o pueril, o medroso, o indignado, nenhum desses vai conter os caçadores. Os lamentos, as lamúrias, os murmúrios, isso não vale de nada, serve apenas aos monstros. Assim, a pergunta que se impõe não é simples, o tempo verbal é o presente: contra uma ditadura o que pode a democracia?
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