Desinformação
Por
Bruna Komarchesqui – Gazeta do Povo
Durante a CPI do MST, o deputado federal Padre João (PT-MG) disse que “o agro não produz arroz”| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
O agronegócio brasileiro voltou a ser atacado pela esquerda nesta semana, durante a CPI do Movimento dos Sem Terra (MST). No momento da votação dos requerimentos, na quarta-feira (24), o deputado federal Padre João (PT-MG) propagou desinformação sobre a safra brasileira, ao dizer que “o agro não produz arroz”. “No almoço de hoje, meu cardápio foi arroz, e o agro não produz arroz. O MST que produz. No meu prato tinha alface, o agro não produz alface, nem feijão, nem mandioca. Mais de 70%, tem itens que chegam a 80%, é a agricultura familiar, são os assentamentos de reforma agrária que produzem”, afirmou.
O argumento, evocado exaustivamente pela esquerda nos últimos anos, é falso. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2022/2023, o Brasil vai colher quase 10 milhões de toneladas de arroz, praticamente o volume consumido anualmente no país. Embora a produção seja menor que a de anos anteriores, em decorrência de problemas climáticos (como a estiagem no Rio Grande do Sul, que corresponde a dois terços da produção nacional do grão) e da redução da área plantada nas últimas décadas, o risco de desabastecimento foi afastado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), no mês passado.
Em 2018, o pré-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, usou argumento semelhante ao do deputado petista, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, dizendo que “a maioria do alimento que chega na mesa do povo brasileiro não vem do agronegócio, vem da agricultura familiar”. Um ensaio escrito por Rodolfo Hoffmann, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), na ocasião, desmentiu a informação: “A afirmativa é falsa. O valor monetário de toda a produção da agricultura familiar corresponde a menos de 25% do total das despesas das famílias brasileiras com alimentos”.
Confira outros ataques da esquerda ao agro:
“O agronegócio, sabe? Que é fascista e direitista…”
Lula, durante a campanha presidencial, em sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, em agosto, optando por defender a pauta ambientalista do PT atacando o agronegócio.
“Aquele agronegócio que quer utilizar agrotóxico sem nenhum respeito à saúde humana, possivelmente também estava lá.”
Lula, em janeiro, durante declaração ao decretar a intervenção federal no Distrito Federal, citando um possível envolvimento de representantes do agronegócio nos atos de 8/1.
“Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto, que alguns fascistas, alguns negacionistas, não quiseram que ele fosse na feira: desconvidaram meu ministro.”
Lula, novamente, desta vez chamando os organizadores da Agrishow de “mau-caráteres”, neste mês, após suposto “desconvite” feito pelo evento ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
“Voto útil de verdade é contra o agronegócio e a motosserra que desmata o nosso país! Vote em quem te representa!”
PSOL, em 2018, durante a campanha presidencial. A propaganda nas redes sociais trazia o “Prêmio Motosserra de Ouro”, contrapondo Katia Abreu e Sonia Guajajara: “Meu lado: desmatamento zero + agricultura familiar + sem transgênico + sem agrotóxico”.
Tenho muito orgulho de ter como vice a Sonia Guajajara. E ao contrário do que se diz aqui na Globo, o agro não é pop, o agro é tóxico, O AGRO MATA!”
Guilherme Boulos (PSOL), em debate na Globo, em 2018.
“‘O Agro não é pop’: estudo aponta que a fome é resultado do agronegócio – Para pesquisadores, o setor não só não mata a fome, como fomenta a desigualdade que a cria”.
Manchete do jornal Brasil de Fato, em outubro de 2021, sobre o estudo O Agro não é tech, o Agro não é pop e muito menos tudo, publicado na época pela Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
“Reforma agrária é combater o mal pela raiz. Hoje, 47% da terra no país pertencem a 1% da população fundiária. É um absurdo. Por isso a importância de distribuir e democratizar a terra. O MST produz 100% de comida saudável. A comida é uma ferramenta poderosa de transformação. Comer é um ato político. A gente faz política com a comida, para o bem e para o mal. O agronegócio detém 70% das terras do país, mas produz somente 30% daquilo que a gente come; 70% daquilo que a gente come vêm da agricultura familiar e a gente sabe que essa comida é saudável. O agro produz commodities, que são base dos produtos ultraprocessados. Que adoecem a população”.
Bela Gil, culinarista e apresentadora de TV, que fez parte da equipe de transição de Lula no grupo técnico de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
“Nós, brasileiros, deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o país não tem problema ambiental. Nós temos. Faz muito tempo. Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para que essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária; 6 milhões para agricultura de grãos. E 15 milhões (são) de floresta secundária.”
Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), criticando o agronegócio brasileiro diante de uma centena de empresários e autoridades em Pequim, reunidos no fórum Brazil-China Business, em março deste ano.
“O Estado investe muito no agro, o crédito é altamente subsidiado, mas, quando você vai fazer esse debate para um conjunto de outros setores que nos interessam estrategicamente, esse debate vira pecado.”
Tereza Campello, diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em março deste ano. A ex-ministra do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome de Dilma Rousseff já havia dito, em dezembro, durante o Festival da Reforma Agrária do MST, que é preciso reduzir a dependência do agronegócio. “Nós queremos plantar sementes estratégicas para transformar o Brasil e a agenda da alimentação talvez seja a mais estratégica nesse sentido. Temos que pensar no sistema alimentar como organizador do campo progressista dentro desse novo governo, articulando a pauta do meio ambiente com o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], MDS [Ministério do Desenvolvimento Social], com as agendas estratégicas para formar um campo e dar uma cara progressista para esse governo, para que seja um governo de fato transformador.”
“Das 289 empresas lista suja do trabalho escravo, 172 são de atividades rurais. Parte do agro brasileiro vive no século passado lucrando em cima de trabalhadores, com desmatamento e agrotóxico. Não tem nada de pop nisso.”
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em tweet no mês passado.
“Se vier algum matador de aluguel tentar me matar porque eu estou me metendo e e falando para não sei quantas milhões de pessoas que essa agropecuária precisa mudar e que é um câncer para a nossa natureza, pode vir. Eu não tô nem aí. E eu ainda venho depois como alma penada puxar o pé de vocês. Estou super preparada para isso. Pode mandar ameaça e xingar, não estou me preocupando no momento”.
Anitta, em uma sequência de stories no Instagram, em 2019.
“O governo vai apostar nessa transição [para o incentivo de baixo carbono]. Para que a gente tire o agronegócio brasileiro da condição de ‘ogronegócio’.”
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, que também já havia criticado a “insegurança alimentar brasileira”, supostamente responsável por “120 milhões de pessoas que estão passando fome” no Brasil. O dado é equivocado, como já mostrou reportagem da Gazeta do Povo.
“Agro é morte” e “soja não enche o prato”.
Pichações de supostos trabalhadores sem terra vandalizando a sede da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja) em Brasília, em 2019.
“A crise capitalista e os crimes que o agronegócio estão [sic] cometendo contra a natureza, com o uso intensivo de agrotóxicos que envenenam a terra, os alimentos, contaminam as águas, infelizmente, tem sido a prova que nos ajuda a conscientizar a sociedade de que esse modelo de produção agrícola baseado na grande propriedade e na produção das commodities é o responsável pela volta da fome, da falta de emprego e pela desigualdade social do nosso país. Porque ainda que eles produzam riqueza, ela é concentrada na mão de poucos.”
João Pedro Stedile, coordenador nacional MST, em entrevista ao Brasil de Fato, em junho do ano passado.
“O agro não tem nada de pop e de legítimo. O agro é golpista.”
Alexandre Conceição, integrante da coordenação nacional do MST, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, em janeiro, em referência à suposta participação de integrantes do setor na articulação e financiamento dos atos de 8 de janeiro. O militante disse à publicação que o agro é “um dos principais inimigos do povo brasileiro”, “predador” e “não produz alimentos, mas muitos venenos que causam inclusive câncer”.
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