Por
Roberto Motta – Gazeta do Povo
Palácio do Itamaray, em Brasília.| Foto: Wikimedia Commons
Em todos os períodos da história existiram tiranos que sempre tinham algumas características em comum. Uma delas é o uso da força. Outra é a aversão a qualquer oposição ou crítica. Tiranos raramente se denominam assim. Modernamente, eles preferem se chamar de democratas, e usam a força para esmagar a oposição e destruir seus adversários sempre em defesa de um tal Estado Democrático de Direito.
Claro.
Tiranos preferem uma sociedade e uma mídia subservientes. Cidadãos rebeldes e jornalistas independentes devem ser processados até a falência, desempregados até morrer de fome ou tratados com um soco no peito.
Deram um soco no peito de uma jornalista, dentro do Palácio Itamaraty, na frente de magníficas autoridades brasileiras.
Até o momento em que escrevo esse artigo, ficou por isso mesmo.
Não é exagero dizer que, se isso tivesse acontecido no governo Bolsonaro, o presidente já teria sofrido impeachment e provavelmente estaria preso.
Não é exagero dizer que a imprensa teria explorado o caso até a histeria, comparando o governo com os piores regimes totalitários e, provavelmente, sugerindo seu julgamento pelo Tribunal Penal Internacional de Haia.
Mas, como é o PT que governa, o silêncio da maior parte da grande mídia foi conivente, ensurdecedor e asqueroso.
Não é exagero dizer que, se isso tivesse acontecido no governo Bolsonaro, o presidente já teria sofrido impeachment e provavelmente estaria preso
Isso não torna o incidente menos grave. Uma arma apontada em nossa direção não desaparece se resolvermos ignorá-la.
Nada do que está acontecendo deveria ser surpresa para um jornalista. Jornalistas profissionais – aqueles que investigam, pesquisam, estudam e buscam o entendimento da realidade – tinham a obrigação de perceber a serpente que se formava dentro do ovo transparente do amor que venceu as eleições.
Obrigação de perceber e de alertar.
Mas um soco no peito de uma jornalista foi rapidamente esquecido porque veio de um governo de esquerda – embora um soco raramente venha sozinho.
A grande maioria dos profissionais de imprensa permanece cega para as tiranias esquerdistas.
É possível traçar as origens dessa estranha moléstia.
Ela começa com a imigração dos filósofos marxistas da Escola de Frankfurt da Alemanha para os EUA, e a posterior contaminação do pensamento acadêmico, primeiro americano e depois mundial, pela “Teoria Crítica”, que é o uso do marxismo como único instrumento para entender, descrever e criticar a realidade. A Escola de Frankfurt tornou-se global, influenciando a maioria das disciplinas acadêmicas. Hoje, até em aulas de música ou matemática os alunos são forçados a aprender sobre “luta de classes” e convencidos da necessidade de destruir o “sistema patriarcal” e a “herança colonialista” – termos marxistas usados para descrever nosso patrimônio cultural: a filosofia grega, o direito romano e a ética judaico-cristã. Tudo que é ocidental, tradicional e liberal deve ser destruído.
O alcance dessas ideias foi amplificado com a estratégia de dominação cultural criada pelo marxista italiano Antônio Gramsci em seus “cadernos do cárcere”. Em vez de armas, a revolução comunista deveria ser feita ocupando-se os espaços na cultura, ele sugeria.
Tudo isso, no Brasil, recebeu a ajuda da teoria da “panela de pressão”, criada pelo general Golbery do Couto e Silva, que entregou a cultura e o sistema de ensino – incluindo principalmente as escolas de história, jornalismo e direito – à ocupação hegemônica da esquerda, como “compensação” pela negação da atividade política.
Foi um erro colossal. A esquerda assumiu o controle dos espaços e das ferramentas mais importantes para a formação moral e cultural das gerações futuras.
É o preço desse erro que pagamos agora.
A grande maioria dos profissionais de imprensa permanece cega para as tiranias esquerdistas.
Ensino virou doutrinação ideológica. A maioria da mídia se uniu em um inacreditável consórcio, formalizando uma torcida organizada da esquerda.
Gerações de brasileiros são incapazes de articular uma visão de mundo coerente ou de detectar as falácias e contradições do discurso esquerdista, porque lhes faltam o vocabulário e a capacidade de raciocinar logicamente. Milhões de jovens e adultos nunca aprenderam a história por trás das ideias, dos conceitos morais e dos modelos políticos que criaram e sustentam o Ocidente – e que promoveram, nos últimos 200 anos, o maior progresso social e econômico já experimentado pela humanidade.
Isso nunca lhes foi ensinado.
Jornalistas formados com uma dieta contaminada por marxismo tropicalizado – hay gobierno, soy contra – e um ódio irracional pelo sistema político-econômico que permite sua própria existência, pregam noite e dia uma revolução que, sempre que acontece inclui, como um de seus primeiros atos, a supressão da liberdade de imprensa e a prisão de jornalistas.
Sempre foi assim em todos os sistemas totalitários. E nunca existiu um sistema socialista que não fosse totalitário.
Mas o jornalismo de esquerda imagina que dessa vez será diferente.
Até que vem um soco no peito, como sinal das outras coisas que virão.
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