Editorial
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Gazeta do Povo


O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky discursando no Fórum Mundial em Haia.| Foto: EFE/EPA/ Remko de Waal

Há alguns dias, a resistência ucraniana, que bravamente tenta conter os avanços expansionistas de Vladimir Putin desde fevereiro do ano passado, deu início a um novo movimento para tentar reaver os territórios tomados pelos russos. A contraofensiva avança devagar, mas já deu mostras de incomodar Putin. Na sexta-feira (16), pela primeira vez, a Rússia reconheceu um revés, mencionando combates intensos no sul ucraniano pelo controle das cidades de Rivnopil e Urojaine e admitindo perda de terreno. Já os ucranianos anunciaram a libertação de algumas cidades e cerca de 100 km², principalmente na frente sul.

Mesmo que os avanços das tropas ucranianas sejam lentos, eles são fundamentais: caso consigam mover as tropas russas e reconquistar, ao menos em parte, os territórios agora ocupados, a Ucrânia fortalecerá sua posição e mostrará a força da união dos países do Ocidente contra a descabida guerra iniciada por Putin. Como mencionou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em vídeo divulgado também na sexta-feira, cada metro de terra ucraniana libertado do inimigo é da mais alta importância.

O sucesso da contraofensiva ucraniana pode ser um passo importante para o fim de uma guerra que jamais deveria ter começado.

É claro que os russos têm vantagem. Putin tem ao seu dispor milhões de soldados que podem ser mobilizados para os combates, aparato bélico, munições e armas, incluindo as terríveis armas nucleares. Nesta semana, o Kremlin começou a enviar para Belarus, país que faz fronteira com a Ucrânia e é considerado uma peça-chave no conflito, armas nucleares táticas, aumentando ainda mais a tensão. Governado por Aleksander Kukashenko desde 1994, Belarus é praticamente uma extensão da Rússia: foi de lá que as tropas russas entraram no território ucraniano; o país serve como base para parte do arsenal dos russos. A chegada do armamento nuclear, portanto, é uma demonstração perigosa de força. As armas nucleares táticas poderão ser usadas, de acordo com o Kremlin “se houver uma ameaça à integridade territorial, independência, soberania e existência do Estado russo” – praticamente as mesmas palavras que Putin usa para justificar seu delírio expansionista em direção da Ucrânia.

Do outro lado, os ucranianos têm provado possuir uma determinação exemplar. Mesmo em menor número, têm conseguido defender seu território e evitar aquilo que os russos esperavam: uma conquista rápida e quase sem perdas, sem qualquer reação internacional, terminando com a anexação de novos territórios e a derrubada do presidente Zelensky e sua substituição por um aliado do Kremlin. Junto com a força do povo ucraniano, há o apoio das grandes nações ocidentais, que compreendem a natureza do conflito e seu significado, não apenas para a geopolítica europeia, mas também para o próprio marco civilizacional da humanidade. Guerras de conquista territorial já deveriam ser uma página virada na história, mas ganham sobrevida graças à sanha autocrática de Putin, no que parece ser a tentativa de refundar um Império Russo.

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Mas é verdade que esse apoio internacional não veio sem custos. As sanções dos europeus contra os russos têm tido grande impacto, em especial no fornecimento de energia, o que influencia o preço também dos alimentos e outros itens. O avanço da contraofensiva ucraniana pode indicar que o sacrifício está tendo resultados e incentiva as nações ocidentais a redobrarem seus esforços de ajuda militar e financeira para frear e forçar a retirada das tropas russas. O recuo dos soldados de Putin pode aumentar também as críticas dos próprios russos contra a guerra – mesmo com a máquina de propaganda russa empenhada em criar a ilusão de que a guerra transcorre sem problema, a opinião pública do país não tem o menor entusiasmo por a invasão da Ucrânia, que já causou a perda de mais de 100 mil soldados russos e consumiu bilhões de dólares.

Ainda não se sabe ao certo qual será o desfecho de mais essa contraofensiva ucraniana. Como pontuou o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, durante reunião da Otan na última quinta (15),  “a guerra é uma maratona, não uma corrida de velocidade”. Que os ucranianos nas linhas de combate e as nações ocidentais que apoiam a contraofensiva tenham o fôlego necessário, e enquanto for preciso, para empurrarem os russos de volta para seus limites territoriais e libertarem os territórios da Ucrânia injustamente tomados por Putin. O sucesso da contraofensiva pode ser um passo importante para o fim de uma guerra que jamais deveria ter começado.

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