Luciana Pinheiro – Mestre e doutora em linguística
Especialistas em educação explicam vantagens do modelo nórdico, que chega a Goiânia em 2023, e pode aprimorar resultados da educação formando pessoas e profissionais mais felizes e capazes
O ensino tradicional brasileiro corre o risco de se tornar obsoleto. De acordo com o Relatório de Capital Humano Brasileiro, estudo inédito do Banco Mundial, uma criança brasileira nascida em 2019 deve alcançar em média apenas 60% do seu capital humano potencial ao completar 18 anos. O objetivo do levantamento é alertar governos sobre a necessidade de investir em pessoas, e a educação é parte fundamental desse processo, por isso é preciso criar alternativas.
Diante disso, Luciana Pinheiro, mestre e doutora em linguística e uma das diretoras da Winsford Global Education, destaca a importância de adotar um novo modelo de ensino que faça com que as crianças se tornem boas em aprender, mas também em viver. “As aprendizagens que acontecem dentro da sala de aula devem ter muita conexão real com o mundo das crianças. Fazer essa ligação é fundamental para que o aprendizado tenha significado real para elas”, pontua.
Isso é confirmado por dados do relatório The Future of Jobs (O futuro dos empregos), do Fórum Econômico Mundial. No futuro, é estimado que 65% das crianças que estão começando os estudos hoje realizarão trabalhos que ainda sequer existem. Colocando em números puramente econômicos, o Banco Mundial estima que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional poderia ser 158% maior se as crianças brasileiras desenvolvessem suas habilidades ao máximo. Essa conclusão deriva do Índice de Capital Humano (ICH), calculado pela entidade, que tem a escolaridade e os resultados de aprendizagem como um dos fatores principais.
O foco no futuro que essa busca por inovação leva em consideração tanto o desenvolvimento para o mercado profissional como para uma vida feliz. Afinal, embora tenha um dos IDHs mais altos do mundo, o Japão decidiu criar um “Ministério da Solidão” para lidar com a saúde mental de seus jovens e o elevado índice de suicídios.
Modelo finlandês
Os esforços para corrigir os resultados da educação nacional devem começar de imediato e, para isso, o modelo pedagógico finlandês é uma ótima opção do que se seguir. Dados mostram que o ensino do país nórdico alcança o primeiro lugar em rankings como o de melhor educação primária, melhor educação para o futuro, maior letramento e bem-estar e felicidade. Esse formato tem registrado crescimento em todo o mundo e defende um ensino menos padronizado em relação a avaliações que alimentam a competitividade, como as provas, e mais focados na cooperação e na adoção de novas tendências para o desenvolvimento de habilidades.
Dentre as principais mudanças no formato estrangeiro, que chega a Goiânia para o ano letivo de 2023, está a transformação na arquitetura das salas de aula, que não possuem fileiras de cadeiras voltadas para uma lousa, e no fim do foco na competitividade e no controle para favorecer o aprendizado mútuo. “Não se trata de impor o conhecimento às crianças, mas sim de adaptar o conhecimento que é necessário a todas elas para aquilo que elas consideram interessante, para que elas queiram aprender”, reforça Luciana.
A especialista acredita que para que esse novo modelo de educação seja eficaz é melhor que seja construída desde a base ao invés de reformada no futuro. “Queremos que as crianças se desenvolvam sabendo expressar suas ideias de forma complexa, mas também inovadora, tangível e rigorosa. As crianças sabem o que querem realizar e é por isso que acreditamos que a educação precisa ser significativa. Nós queremos empoderar cada aluno para ter confiança para escolher seu próprio caminho”, defende Luciana.
A pedagoga e diretora da Winsford, Rosariane Campos, explica que cada atividade que faz parte da rotina do aluno precisa se conectar com um propósito. Assim, se a criança pratica uma arte marcial, ela pode também aprender mais sobre a língua e a cultura do país onde ela teve origem, se ela tem uma alimentação natural no almoço, ela pode acompanhar o processo de plantio e colheita das verduras, por exemplo.
“Queremos oferecer uma experiência transformadora. A criança precisa aprender a estabelecer vínculos autênticos com sua cultura, e com as outras também, para que elas possam expandir suas visões de mundo. Queremos que elas se inspirem dentro da nossa escola para já visionar seus futuros, seja em uma universidade brasileira ou no exterior e que elas saibam ousar no pensar e no agir, mas que sejam respeitosas por si e pelos outros. É importante formar crianças livres e confiantes para serem, simplesmente, crianças”, finaliza a especialista.