História por PODER360
O ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA) Rubens Barbosa disse que a entrada de novos integrantes nos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) pode deixar o Brasil “mais isolado”. Em 2 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o ingresso de outras nações.
“[A ampliação dos Brics] dilui a participação do Brasil, reduz o peso específico dentro do grupo e pode nos deixar mais isolados, porque a nossa posição é de distância, não é tomar partido de um lado ou de outro nem na guerra [na Ucrânia], nem na disputa entre Estados Unidos e China”, falou Barbosa em entrevista ao jornal Correio Braziliense publicada nesta 2ª feira (14.ago.2023). “Se você coloca 5, 10, 15 países a mais, esvazia totalmente a posição do Brasil e vai aceitar a inclusão de países que são muito próximos da Rússia ou da China”, completou.
Barbosa disse que o Brasil “não tem cacife político” para “ter um papel relevante” nas negociações pelo fim do conflito entre Ucrânia e Rússia.
“Foi uma ação do presidente que, como se viu, esvaziou-se. Temos outras prioridades no cenário internacional para a defesa do interesse nacional. A questão da paz afeta todos os países, inclusive o Brasil, na área comercial, mas tem efeito global”, afirmou, acrescentando que o Brasil tem força internacional em duas frentes: meio ambiente e liderança na América do Sul.
“Temos que saber como a gente vai projetar o nosso poder como potência média no exterior. O Brics era um instrumento disso, o grupo como um todo não tinha uma agenda comum a não ser nos organismos multilaterais. Com a guerra, a situação do Brics ficou mais delicada”, disse.
“Acho que, no momento, o Brics não poderia ampliar o número de países-membros, mas deveria encontrar um novo papel. O papel do Brasil é essa liderança na questão do meio ambiente, da segurança alimentar como um grande produtor agrícola ligado à alimentação”, continuou. “Está faltando um pouco de foco para a gente definir claramente, nesse momento que estamos vivendo, quais os objetivos da política externa”, finalizou.
Questionado sobre o acordo entre Mercosul e UE (União Europeia), Barbosa falou ser preciso avançar. “O acordo não pode ser reaberto agora, tem que avançar, e o tempo está ficando exíguo. Para assinar até o fim do ano, as negociações teriam que estar concluídas até por volta de outubro”, afirmou.
“Quais são os objetivos do Brasil no Mercosul? Tem um foco, que é o acordo, mas o que a gente ganha disso, qual o objetivo disso? A política externa está sendo executada, desenvolvida, mas o que a gente não sabe é qual o objetivo e o que o Brasil quer nesse novo mundo em transformação”, declarou.