História por Levy Teles • Jornal Estadão
BRASÍLIA — Com a reforma ministerial para dar cargos no governo ao Centrão emperrada, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) decidiu devolver à oposição a maioria das vagas na CPI do MST. A negociação ocorre na mesma semana do desgaste causado por declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vistas como críticas à atuação da Câmara na votação de projetos de interesse da gestão petista.
Líderes partidários da Câmara esperam que ocorra uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Arthur Lira sobre a reforma ministerial nesta noite.
Mais cedo, o presidente da Câmara articulou com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) a volta dos integrantes da oposição que haviam sido retirados para dar ao governo maioria na CPI do MST.
Relator da CPI, Ricardo Salles, não foi convidado para reunião do colegiado com Lira. Foto: Myke Sena/Câmara dos Deputados© Fornecido por Estadão
Haddad disse que a Câmara dos Deputados tem um poder muito grande e é preciso construir moderação em relação a outros Poderes, o que rendeu críticas de Lira. “Nós não tensionamos. Ficamos surpresos. Acho que foi inapropriado. Talvez um relaxamento excessivo do ministro numa entrevista”, disse o deputado.
A negociação com os ruralistas aconteceu em reunião na manhã desta quarta-feira, 16, que contou com o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), o presidente da CPI, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) e Lira. A expectativa, segundo Lupion, é que as alterações ocorram ainda nesta semana. A data depende apenas de conversas entre Lira e os demais líderes partidários.
“A CPI conseguiu mostrar o envolvimento político direto do movimento e ela vai continuar”, disse Lupion. “Dialogamos com Lira e esperamos que a troca seja feita de forma imediata
Com a mudança da semana passada, a oposição ficou com 11 dos 28 membros titulares. Na quarta-feira eles recuperaram um cadeira, com o retorno de Magda Mofatto (PL-GO). Caso todos os demais voltem, eles terão 18 membros e retomam a maioria.
Como mostrou a Coluna do Estadão, o encontro gerou controvérsia. O relator, Ricardo Salles (PL-SP) não foi convidado para a reunião e já externou críticas tanto ao fato de ter sido preteriado como à atuação do Centrão. Ele disse a aliados que é contra fazer qualquer tipo de acordo que possa limitar a atuação na CPI do MST. Há queixas de membros do Centrão sobre a postura de Salles na comissão.
Nesta quarta-feira, Salles compartilhou em sua rede social notícia publicada pela Coluna do Estadão revelando a exclusão do relator das conversas sobre a nova composição na CPI. “Antes ser tido como ‘muito duro’ do que um uma liderança agropecuária incoerente, que não defende, de verdade quem representa, que alivia pro governo do PT etc … Minhas convicções não estão à venda, talkey?!?”, escreveu.
Lupion veio, horas depois, conversar pessoalmente com Salles para resolver o impasse. A discussão durou alguns minutos e Salles manifestou queixas sobre a forma de atuar do Centrão. Mesmo depois do encontro, o relator manteve críticas ao grupo que ajudou a impedir a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e trocou integrantes da CPI para retirar a maioria de votos que era da oposição.
“Foi um golpe baixo que sofremos com a troca da convocação justamente para frustrar a convocação de um governador que não atuou para coibir invasões no seu Estado”, afirmou Salles. Poucos minutos depois, a bancada do agro soltou uma nota em que “reconhece e apoia” o esforço do presidente e do relator da CPI.
A pressão da oposição, inclusive, fez com que o ministro da Agricultura, que antes alegou “extensa agenda ministerial” para não comparecer à CPI, voltasse atrás e confirmasse presença em audiência na Comissão nesta quinta-feira, 16. Ele telefonou no início da tarde para Zucco, depois da reunião com Lira.
O Centrão segue negociando com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nomeação de nomes do seu grupo político para o primeiro escalão do governo. Ministros próximos a Lula já tinham confirmado a nomeação de dois deputados do Centrão, mas os cargos ainda não estão definidos. Lira e seus aliados querem mais postos no Executivo além dos dois ministérios prometidos. (Com Broadcast)