Aliados se atrapalham ao tentar defender Jair Bolsonaro na CPMI. O hacker Walter Delgatti prestou depoimento no Senado, mas não apresentou provas.
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Por Giuliana Morrone – Jornal Estadão
Mente! Mente! Mente!, escreveu o advogado e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Fabio Wajngarten usou as redes sociais para ressaltar que “nunca jamais houve grampo, nem qualquer atividade ilegal contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do Presidente. “
Foi uma tentativa de defesa.
Na véspera, o advogado secundário de Bolsonaro, Frederik Wassef, estacionou seu carro numa vaga para deficientes, num shopping em São Paulo, como informou a colunista Roseann Kennedy, do Estadão.
Enquanto Wassef entregava quatro de seus celulares, o hacker Walter Delgatti Neto se preparava para o mais explosivo depoimento dos últimos tempos. Delgatti disse à CPMI que Bolsonaro lhe ofereceu indulto caso ele assumisse a autoria de um grampo ilegal contra o ministro Alexandre Moraes. Também disse que o ex-presidente, por meio da deputada Carla Zambelli(PL/SP) pediu para que ele invadisse o sistema das urnas eletrônicas para expor supostas vulnerabilidades. O encontro entre o hacker eBolsonaro teria sido no Palácio da Alvorada, com a intermediação da deputada Carla Zambelli, do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do coronel Marcelo Câmara.
O problema são os outros. Ainda no calor do depoimento, Jair Bolsonaro deu entrevista à rádio Jovem Pan em que confirmou ter se reunido com Delgatti e dado a ele a ordem de ir ao Ministério da Defesa: “teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá (no Alvorada e na Defesa) e morreu o assunto. Ele está voando completamente.”
O senador Sergio Moro ( União Brasil-PR), no papel secundário de defensor de Bolsonaro, trouxe à tona a ficha de Delgatti: “só nesse caso aqui, Sr. Walter, o senhor foi condenado como estelionatário de 44 vítimas diferentes.” Moro só esqueceu que, quando juiz da Lava Jato, usou e abusou das delações premiadas de réus confessos para expedir mandados de prisão
Na CPMI, o senador Flavio Bolsonaro (PL_SP) também confirmou encontro do hacker com o pai, Bolsonaro, para discutir as urnas eletrônicas.
Como permitiram que um estelionatário que, em apenas um caso, atingiu 44 vítimas diferentes se reunisse na residência oficial do Presidente da República, com o então presidente Bolsonaro?
A senadora Damares Alves ( Republicanos-DF) foi incisiva sobre Delgatti: “não vai ter como provar tudo isso.”
O que Delgatti conseguirá provar? Conseguirá? Ele não apresentou provas à CPMI. O hacker já está intimado a depor novamente à Polícia Federal.
A PF já confirmou que ele invadiu o site do CNJ e recebeu pagamentos de Carla Zambelli. Delgatti disse que foi para que invadisse sistemas de informação do judiciário.
Na pressa para se defender, Zambelli cometeu erro de digitação, ao dizer acreditar que será provada a inocência dela.