17ª edição da Navalshore – Feira e Conferência da Indústria Marítima

Afirmação é do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, durante cerimônia de abertura da Navalshore, no Rio de Janeiro

Evento reúne cadeia da indústria naval em momento de novos investimentos e projetos

Transpetro anuncia encomenda de 25 navios, com entregas a partir de 2025

Otimismo e a forte presença de empresários do setor naval marcaram a abertura oficial da 17ª edição da Navalshore – Feira e Conferência da Indústria Marítima nesta terça (22). Considerado o principal encontro da indústria marítima da América do Sul, o evento reúne armadores, estaleiros, fabricantes e fornecedores do mercado na Expomag, no Rio de Janeiro, até o dia 24 de agosto, para fomentar o debate e os negócios nesse ecossistema.

O evento, que reúne mais de 90 marcas expositoras e tem previsão de receber um público estimado em 10 mil profissionais, coincide com projetos e investimentos já confirmados que começam a aquecer a demanda nacional por novas embarcações dedicadas à atividade offshore e ao transporte marítimo de cargas bem como fomentar o movimento de definir novas estratégias para atingir, até 2050, a meta Net Zero Carbon (emissões zero) na indústria marítima.

O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, falou durante a cerimônia de abertura. A presença dele reforça os bons ventos que sopram em direção à indústria marítima, que está em ascensão e com boas perspectivas para os próximos anos. Há 15 dias, o governo federal confirmou a inclusão do setor de petróleo e gás no PAC 3 (Programa de Aceleração do Crescimento). O presidente Lula declarou recentemente que planeja incentivar a construção de navios em solo brasileiro por meio de investimentos da Petrobras. Os investimentos podem chegar a R$ 323 bilhões.

“O presidente Lula incentiva o desenvolvimento do setor naval desde o seu primeiro governo. E agora há também uma posição estratégica que atende tanto ao agronegócio quanto aos setores de construção naval, defesa e transporte. Depois de uma estagnação de muitos anos, o setor naval já salta para o melhor dos anos, com investimentos e redução no valor das taxas de importação e de exportação, resultando em um crescimento de 6% nos primeiros seis meses do ano, ficando acima da média das outras atividades”, disse o ministro Márcio França.

O setor naval ainda conta com recursos oriundos dos planos de investimento da Petrobras, cujo Plano Estratégico 2023-2027 prevê a injeção de US$ 78 bilhões, para colocar em operação 14 novas plataformas nos próximos cinco anos. São quase US$ 100 bilhões previstos para serem investidos em projetos no período. Segundo a Petrobras, o objetivo é ampliar em 15% o volume de investimentos ao longo dos próximos cinco anos, além de injetar cerca de US$ 20 bilhões em novos afretamentos de plataformas.

O presidente da Transpetro, Sergio Bacci, também se mostrou confiante na retomada do setor. “Estar na Navalshore nesta nova fase de investimentos e de retomada da ampliação da própria Transpetro é fundamental. Nos próximos 25 anos, seremos reconhecidos [a Transpetro] como uma companhia conectada com um mundo sustentável rumo à transição energética justa”, declarou o presidente da subsidiária, que prepara a divulgação de um edital para a retomada de contratações de embarcações.

Bacci afirmou que recuperar o papel estratégico da Transpetro como braço logístico da Petrobras é uma das principais metas de sua gestão. Para isso planeja, como referência no mercado de óleo e gás, ampliar os negócios da subsidiária, prestando serviços de logística para outros países na margem equatorial. E também realizar parcerias com países asiáticos, citando a Coreia do Sul e a China como exemplos.

Ainda segundo Bacci, é preciso haver uma política de estado de longo prazo para fortalecer a indústria naval offshore. Isso inclui uma linha de crédito acessível e regras adequadas de conteúdo local, além de encomendas públicas e privadas de longo prazo.

“Estamos desenvolvendo em conjunto com a Petrobras o programa TP25, que celebra os 25 anos da empresa. Vamos construir 25 navios no Brasil e vamos bater quilha [cerimônia que marca o início da construção de um navio] em alguns navios da Transpetro em 2025, que vão apoiar a cabotagem e ajudar no equilíbrio de afretamentos dos navios da Petrobras. Mas não será a qualquer preço, nem será a qualquer prazo, porque nós não podemos errar de novo”, disse o presidente da empresa, ao relembrar alguns erros estratégicos de um passado recente da indústria.

O prazo para a construção da construção das embarcações, inicialmente, será de oito anos. A estimativa é que seja necessário um investimento preliminar de R$ 12,5 bilhões para cumprir essa meta, o que também dependerá, segundo o presidente da Transpetro, de concorrências e de modelos de financiamento e garantias contratuais. Tudo com fiscalização da Controladoria Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU). Bacci prometeu o lançamento das licitações para janeiro de 2024, para navios gaseiros, embarcações para transportes de derivados claros e de derivados escuros.

Além do ministro Márcio França e do presidente da Transpetro, Sergio Bacci, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) Ariovaldo Rocha; a vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma)/ Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), Lilian Schaefer; o diretor de gestão de Programas da Marinha, Celso Mizutani Koga; o secretário de Estado de Energia e Economia do Mar do Estado do Rio de Janeiro, Hugo Leal; e o diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), vice-almirante Wilson Pereira de Lima Filho, compuseram a mesa de autoridades durante a abertura.

Na feira, estaleiros, fornecedores de navipeças e mais de 90 empresas nacionais e internacionais são expositoras. Entre alguns nomes estão Wartsila, Rolls Royce, International Akzonobel, Kongsberg, Cummins, Mitsubishi Marine, Yanmar e Sotreq, entre outras. Atlântico Sul, Rio Maguari, Belov, Mauá e o Estaleiro São Miguel também representam a cadeia da indústria naval presente ao evento.

Oportunidades de negócios – O CEO da Atlântico Sul Heavy Industry Solutions, um dos principais estaleiros do país e expositor da Navalshore, esteve presente à cerimônia e comentou que a perspectiva de retomada da indústria naval, em particular para atender às novas demandas do setor de óleo e gás, será uma grande oportunidade para alavancar os negócios do Atlântico Sul.

Segundo Brisolla, o Atlântico Sul, em recuperação judicial, vem se preparando para esse novo momento de desafios. “Mantivemos o estaleiro operacional, investindo em reparos especializados e no desenvolvimento de novas frentes de produção, com a manutenção dos ativos e capacitação de mão de obra.”

Desde o ano passado, a companhia já vem num processo de reposicionamento, intensificando os serviços de reparo de navios e começando a operar em outros segmentos, como os de construção de grandes estruturas metálicas onshore e offshore, além de continuar prospectando o mercado de torres de energia eólica. “Por exemplo, estamos atuando na fabricação de grandes estruturas metálicas (subsea) desenhadas especialmente para apoio de complexos sistemas de plataformas de petróleo.”

Ainda segundo Brisolla, só este ano o Atlântico Sul já efetuou o reparo de dez navios — desde 2020, foram ao todo 43 embarcações reparadas, entre navios de cabotagem de grande porte, navios de apoio offshore e outros —, utilizando para isso o dique seco a plena capacidade. Para toda a operação, a empresa dispõe atualmente de cerca de mil trabalhadores contratados, treinados e plenamente capacitados.

Comitiva coreana – A Coréia do Sul começou a construir navios nos anos 1970, quando o Brasil era o segundo no ranking mundial do setor. Era uma época de bonança para o mercado nacional, mas que não se repetiu nas três décadas seguintes, quando o setor no Brasil mergulhou em uma crise que quase fez a indústria naval naufragar. A Coréia, em caminho distinto, saltou para a liderança global. O rápido crescimento sul-coreano foi resultado de uma política de governo.

O resultado é que agora o mercado brasileiro olha para a Coréia do Sul como benchmarking. Dos dez maiores estaleiros mundiais atualmente, sete são sul-coreanos. O país asiático também está de olho no pólo naval da Zona Franca de Manaus (ZFM). Representantes coreanos ficaram impressionados com a ZFM durante a Navalshore Amazônia — que aconteceu pela primeira vez em Manaus, em maio. Os coreanos demonstraram grande interesse em instalar na capital amazonense um projeto industrial para construção de um estaleiro.

O país asiático vem tirando vantagem de suas características geográficas como península asiática. Para atrair investidores internacionais, o governo ofereceu incentivos fiscais, investiu em infraestrutura, induziu a liberação de financiamentos e construiu centros de treinamento para qualificar mão de obra. Mais ou menos o que o Brasil faz no momento.

Propulsão nuclear – A propulsão nuclear está ganhando interesse do mundo marítimo no cenário de desafios crescentes com relação ao aumento da produção de amônia verde, e-metanol e hidrogênio, que se acredita serem a chave para a descarbonização do transporte marítimo. Alguns dos principais benefícios que a tecnologia traz são a independência dos preços voláteis do combustível.

Além do fato de que operar com energia nuclear permitiria que os navios abandonassem a prática de vapor lento e aumentassem a eficiência da embarcação, navegando mais rápido e produzindo zero emissões.

A empresa de construção naval Korea Shipbuilding & Offshore Engineering (KSOE) vem saindo na frente, com o projeto de um pequeno navio movido a partir de um pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês).

A 17ª edição da Navalshore – Feira e Conferência da Indústria Marítima continua nesta quarta-feira, com intensa programação de palestras, networking e lançamentos de soluções, equipamentos e tecnologias para a indústria naval.

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By valeon