História por Aryel Fernandes  • IstoÉ Dinheiro

Por Jorge Sant’Anna 

O filme Spartacus, de Stanley Kubrick, narra a história de um escravo romano que se transforma em gladiador e lidera uma grande revolta de escravos contra as legiões romanas. Ameaçada, Roma envia as melhores legiões e generais para combater o exército de Spartacus.

Spartacus sabia que a última batalha seria muito difícil e que a maioria de seus seguidores iria perecer, mas fez sua ronda noturna conversando, animando e confortando cada membro do grupo. Não se escondeu atrás da sua comitiva e responsabilidades: se preocupou em ser empático com os que partiriam e referência para quem continuaria a seu lado.

O mundo BANI (Brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible – frágil, ansioso, não-linear e incompreensível), que descreve a complexidade da sociedade atual, tem transformado a relação emprego-empregador. Neste ano, a indústria de IT mundial assistiu à destruição de mais de 240 mil empregos, muito mais baixas do que as do exército de Spartacus.

Tal movimento, com exceções, foi correto, digno e para proteger quem continuou. As demissões coletivas muitas vezes refletem a falta de coragem dos líderes de enfrentar situações difíceis, tentando adiar o processo na expectativa de que haja um novo ciclo positivo: quando decidem agir, é tarde e os danos são maiores.

Em outras situações, o movimento retrata o exercício de poder dos líderes, que definem quem fica e quem sai de forma impessoal e ainda se vangloriam da coragem de serem firmes nas decisões – exageros e erros são comuns.

Há ainda os que demitem sob orientação da matriz e de conselhos de administração, sem defender os colaboradores e destruindo toda a sua segurança psicológica.

Tudo isso é marcado pela covardia e não tratar com dignidade e respeito aqueles que saem e de encarar os que ficam com transparência e sinceridade.

O líder tem que ter a coragem de enfrentar os colaboradores e explicar a situação: ele sofre com o processo e seu time percebe isso, que é o que o reconecta com a empresa e permitea sua retomada

A demissão muitas vezes é inevitável, mas deve ser cuidadosa e planejada, pois causa uma profunda cicatriz na organização, nos que ficam, e pode apagar anos de criação de valor, por falta de coragem de abordar o tema com transparência e até mostrar nossa vulnerabilidade como líderes.

Ter certeza de que de estamos fazendo o movimento no tempo certo e com os colaboradores certos, fazer tudo de uma vez só, preparando corretamente os gestores para a comunicação do evento, atentos à diversidade e inclusão, mantendo a transparência e cuidando dos que ficam são os principais mandamentos para atravessar momentos tão difíceis com crescimento e aprendizado.

Temos que oferecer aos colaboradores que permanecem a continuidade do propósito. O desligamento tem que fazer sentido na estratégia da companhia e não ser percebido como ruptura, para não destruir a segurança psicológica na organização.

O líder tem que ter a coragem de enfrentar os colaboradores e explicar a situação: ele sofre com o processo e seu time percebe isso, que é o que o reconecta com a empresa e permite a sua retomada.

Quantos dos 240.000 empregados que foram demitidos no mundo de IT entenderam a decisão? Quantos dos que ficaram se sentem seguros e comprometidos com a companhia?

Temos que ter a coragem de fazer tudo no momento e do modo certos. Para o líder, agir com convicção, dignidade e empatia faz toda diferença no futuro.

Como os líderes em sua empresa agem em momentos assim?

Jorge Sant’Anna é diretor-presidente e cofundador da BMG Seguros e membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bancos

O post Não seja covarde, faça o que tem de ser feito e direito apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

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