11 de outubro de 2023
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Singapura aumenta seu litoral na contramão do mundo: entenda como
Achei interessante quando vi uma matéria sobre um pequeno país que está fazendo o oposto do mundo. Enquanto a maioria dos países à beira-mar perde terreno para a erosão, acirrada por eventos extremos e aumento do nível do mar, Singapura está aumentando o seu. Situada no Sudeste Asiático, a cidade-Estado tem uma área pequena, cerca de 618 km² de extensão, na maior ilha da península da Malásia, entre a Tailândia e Indonésia. E, além do feito de produzir milionários em série, é o único país até agora a conseguir aumentar seu território ‘alargando’ o litoral. Como é possível? Quem explica é a Bloomberg.
A luta contra os elementos para economizar US$ 50 bilhões em imóveis
Antes de mais nada, alguns dados sobre como este país, sem recursos naturais e que só conseguiu sua independência do Império Britânico em 1965, logrou ser hoje uma potência econômica.
Saiba que desde a independência Singapura cresce a uma média de 7,5% ao ano. Seu PIB per capita é 3,5 vezes maior do que o da Malásia, 2,2 vezes maior que o do Reino Unido e 6,6 vezes maior do que o do Brasil.⠀
Lee Kuan Yew, primeiro-ministro que governou desde a independência até 1990, dá a receita: “Abandonamos o modelo de industrialização baseado no protecionismo. Enquanto a maioria dos países do Terceiro Mundo denunciava a exploração das multinacionais ocidentais, nós as convidamos para ir a Singapura. Conseguimos crescimento, tecnologia e conhecimento científico. Estes predicados dispararam nossa produtividade de uma maneira mais intensa e acelerada do que qualquer outra política econômica alternativa poderia ter feito.”
Não resisto em chamar a atenção para o Brasil estatizante de Lula da Silva. De acordo com o site Heritage, ‘A pontuação de liberdade econômica de Singapura é de 83,9, tornando a sua economia a 1ª mais livre no índice de 2023. Enquanto isso, no mesmo período, a pontuação do Brasil é de 53,5, ou o 127º lugar.
A façanha mais recente
Posto isto, vamos à mais recente façanha. De acordo com a Bloomberg, desde que conquistou a independência, Singapura tem batalhado para aumentar seu território, centímetro por centímetro, com muita dificuldade. Na ponta da península da Malásia, essa cidade-estado foi juntando areia pra expandir a beira do mar e ganhar terra do oceano.
Nesse tempo, Singapura cresceu em tamanho, ficando um quarto maior e ganhando mais do que o dobro do tamanho de Manhattan. E ainda querem mais: planejam crescer mais 4% até 2030. Isso é incrível, especialmente considerando que muitas outras áreas costeiras estão encolhendo por causa das mudanças climáticas.
“Não pretendemos perder permanentemente nenhum centímetro de terra”
A afirmação é de Ho Chai Teck, vice-diretor da PUB, a agência governamental que coordena o esforço para salvar a costa. “Singapura construirá uma linha contínua de defesa ao longo da costa. Isso é algo que levamos muito a sério” (é triste saber que Marina Silva permite acontecer o contrário).
Só para ter uma ideia, saiba que quase um terço do país está a menos de 5 metros acima do nível do mar! E olha só, segundo a Bloomberg, algumas das propriedades mais caras estão em áreas vulneráveis, tipo os arranha-céus em Marina Bay, conhecida por seu luxuoso shopping center e cassino, e as torres que abrigam bancos gigantes.
A Bloomberg estima, com base em dados da empresa de imóveis CBRE Group Inc., que as propriedades de alto padrão na cidade valem incríveis US$ 50 bilhões! E o professor Benjamin Horton, da Universidade Tecnológica de Nanyang em Singapura, explicou à agência de notícias:
“O valor real de cada metro quadrado é extraordinário. Este é um país mais suscetível à subida do nível do mar do que praticamente qualquer país do mundo.”
Desse modo, em 2019, o primeiro-ministro Lee Hsien Loong disse que Singapura precisaria gastar 100 bilhões de dólares (de Singapura) nos próximos 100 anos para se proteger contra a subida do nível do mar. Desde então, o governo destinou 5 bilhões de dólares (de Singapura) para um fundo de proteção costeira e contra inundações.
Um dia de passeio de bicicleta pelos caminhos costeiros de Singapura, diz a Bloomberg, irá levá-lo a passar por arranha-céus brilhantes e represas pitorescas, praias e manguezais – cenas diversas que deixam claro como o país deve adaptar cuidadosamente a sua abordagem.
A Marina Barrage
Uma das soluções é uma barragem chamada Marina Barrage (vale visitar o site da barragem). No interior, sete bombas gigantes drenam o excesso de água para o mar durante a maré alta e chuvas extremas.
Hoje em dia, cerca de 70% da costa de Singapura já tem barreiras feitas pelo homem para proteção. Mas, com o aumento das tempestades tropicais e a elevação do nível do mar, eles vão precisar reforçar e melhorar essas defesas.
“Temos que olhar para isto de uma forma muito dinâmica”, disse Grace Fu, ministra da sustentabilidade e do ambiente (Acorda, Marina!), num evento de lançamento de um novo instituto de proteção costeira e contra inundações.
A Bloomberg diz que outras coisas que podem fazer são aumentar a altura dos diques nos reservatórios à beira-mar, usar comportas de maré que bloqueiam a água e criar mais aterros.
As empresas também estão fazendo sua parte. A imobiliária City Developments Ltd. colocou barreiras e sensores de nível de água no hotel St. Regis Singapore, no shopping Palais Renaissance e no arranha-céu Republic Plaza.
A importância dada ao manguezal (desprezado no Brasil) em Singapura
Na Reserva Sungei Buloh Wetland, as raízes dos manguezais têm todos os tipos de configurações. As árvores tropicais florescem nas águas salgadas das marés. Suas grossas raízes e troncos acima do solo quebram as ondas e retêm sedimentos – formando uma barreira natural à elevação do nível do mar.
Para proteger as praias direito, os manguezais precisariam ser bem extensos, com centenas de metros. Em Singapura, eles conseguem reduzir a altura das ondas de tempestade em mais de 75%. E, ainda por cima, essas florestas de mangue capturam até quatro vezes mais carbono do que as florestas tropicais (viu, Marina?).
O país trabalha em conjunto com as universidades que estudam o problema e sugerem soluções, como mostra o artigo Mangroves, a crown jewel of Singapore’s coastline (Manguezais, joia da coroa do litoral), da Universidade Nacional de Singapura.
Só que os manguezais sozinhos não dão conta do recado. Singapura está pensando em usar as árvores junto com outras barreiras, tipo revestimentos feitos de pedra ou concreto. Eles estão testando essa combinação no Parque Natural Costeiro de Kranji, perto da reserva de zonas úmidas, e na ilha Pulau Hantu, na costa sul.
Singapura incentiva o crescimento de mais mangais
Os paredões e revestimentos existentes em Singapura não limitam uma solução natural. Singapura incentiva o crescimento de mais habitats de mangais, diz Daisuke Taira, investigador de mangues do Centro de Soluções Climáticas Baseadas na Natureza da Universidade Nacional de Singapura.
Em Pulau Tekong, que é uma ilha no nordeste de Singapura, eles estão usando máquinas enormes. Os trabalhadores estão lá, firmando o solo e instalando uma rede de drenos e bombas que foram planejadas meticulosamente.
O equipamento coleta e canaliza a água da chuva para um lago. O excesso, então, é bombeado para o oceano. Este sistema, juntamente com os muros marítimos, e manguezais, permite a Singapura fazer algo extraordinário: recuperar terras que estão abaixo do nível do mar.
No fim das contas, é uma combinação de decisões políticas, ciência e investimentos bem-feitos na hora certa. Singapura largou na frente, e hoje dá exemplo. Enquanto isso, nos últimos quatro anos, muitos manguezais no Brasil foram aterrados por prefeitos sem noção, com apoio total da ganância imobiliária e conivência do governo.
Singapura e o ensino
Acorda Brasil!
O que faz do sistema educativo de Singapura um dos melhores do mundo?
Andreia Lobo – Jornalista – Escola Virtual
A valorização do trabalho docente, a formação inicial e contínua e a liderança educacional estão frequentemente na base do sucesso escolar dos alunos em Singapura.
Com uma população a rondar os cinco milhões, metade da portuguesa, e uma área oficial de 699 km² (Portugal tem 92 152 km²), Singapura é um dos países mais ricos do mundo. O seu sistema educativo ganhou visibilidade pelos resultados obtidos pelos alunos nas principais avaliações internacionais.
Na edição de 2003 do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), 90% dos alunos do 4.º e do 8.º ano pontuaram acima da média internacional em matemática e ciências. Já nos resultados dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2015 e 2018, os jovens de 15 anos superaram a média obtida pelos 72 países participantes. Isto, pontuando em média 13% acima em leitura e 16% em matemática e 11% em ciência.
A valorização do trabalho docente, a transformação operada ao nível da formação inicial e a ênfase na liderança educacional são frequentemente apontadas como a chave para o sucesso dos alunos. Embora o inglês seja a língua de instrução oficial, o mandarim, o malaio e o tâmil – línguas maternas – são também ensinadas nas escolas.
Um professor em início de carreira ganha o mesmo que um contabilista ou um engenheiro civil. Os estudantes que estão nos cursos de formação de professores não pagam propinas. Os estágios são remunerados. O Ministério da Educação fornece aos futuros docentes apoios para a compra de livros e de portáteis e aos professores já em funções concede bolsas para formação contínua, dentro e fora do país e licenças sabáticas. Os graduados na área de ensino têm colocação assegurada, no final do curso.
“As políticas que atraem jovens para a profissão são as mesmas que mantém os professores na profissão”, lê-se no relatório “Empowered educators: How high-performing systems shape teaching quality around the world”, do National Center on Education and the Economy e que serve de base a este artigo. Outro fator contribui para tornar a profissão atrativa: “Os professores gozam de um estatuto social elevado e são muito respeitados pelo público em geral.”
Lecionar antes do curso
Em Singapura, existe apenas uma instituição responsável pela formação inicial de professores. O processo de candidatura ao National Institute of Education (NIE) é altamente seletivo. Em termos académicos, os candidatos são selecionados entre um terço dos melhores da sua faixa etária e pode ser-lhes pedido um teste adicional de proficiência em inglês.
Os currículos dos estudantes são vistos à lupa. Cursos e qualificações específicas são valorizados. De seguida, explicam os autores do relatório, “uma lista curta de candidatos é entrevistada por reitores experientes que avaliam a apetência para o ensino, as competências comunicacionais e a paixão pela educação”. Um em cada três dos pré-selecionados passa na entrevista.
Para muitos dos candidatos a professores, o treino para lecionar começa antes do ingresso nos cursos de formação inicial. É-lhes requisitada a frequência num programa de introdução ao curso de professor, ministrado pela Academia de Professores de Singapura (AST, em sigla inglesa). É uma forma de os candidatos se conectarem com a experiência da docência antes de começarem a estudar para ser professor. Os conteúdos desenvolvidos incluem o planeamento de aulas, a avaliação das aprendizagens, gestão da sala de aula, introdução às tecnologias e educação e cidadania.
Finalizado o treino na Academia de Professores de Singapura, os candidatos passam alguns meses em escolas, como estagiários contratados. O objetivo é, novamente, proporcionar aos candidatos uma experiência real que lhes permita enquadrar as futuras aprendizagens no NIE. Se o estudante for considerado apto para ingressar na profissão docente e continuar comprometido a estudar para tal pode inscrever-se no NIE e avançar com a formação inicial de professor.
Durante o curso de formação inicial, os futuros professores são avaliados pelo NIE. Mostrando falta de atitude, apetência ou personalidade para serem professores (por norma, um número pequeno) são aconselhados a abandonar o programa. Todo o trabalho é pago. Os candidatos recebem um salário mensal do Ministério da Educação, desde o começo do treino para a docência, pré-requisito para o ingresso na formação inicial.
Colocação garantida
Depois da graduação nos cursos de formação inicial, os recém-diplomados têm de trabalhar três a quatro anos como docentes. O emprego é garantido. As escolas recebem a garantia de que os novos professores estão bem preparados e foram especificamente selecionados para satisfazer as suas necessidades.
A colocação nas escolas é centralizada e da responsabilidade do Ministério da Educação. Acontece anualmente para todos os professores com pelo menos dois anos de serviço completo na sua primeira colocação. Os diretores das escolas têm autonomia para identificar, noutros estabelecimentos de ensino, candidatos adequados ao seu projeto educativo. Mas, a “transferência” tem de ser consentida pela direção das escolas onde os professores estão colocados.
Além de ser responsável pela formação inicial de professores, o NIE ministra formação em contexto de trabalho, programas de graduação, formação contínua para professores líderes e diretores de departamentos, vice-diretores e diretores.
Muita prática pedagógica
A formação inicial de professores baseia-se muito na experiência letiva. Consoante o programa seja uma graduação (de quatro anos) ou uma pós-graduação (de 16 meses), a componente prática varia entre 22 e 10 semanas. Estas práticas – Experiência Escolar, Assistência de Ensino e Práticas de Ensino 1 e 2 –, garantem os autores do relatório, “servem como um recurso crítico para as discussões e reflexões dos alunos-professores em cursos no NIE e são úteis para aprofundar a sua compreensão da teoria e da prática”.
A Experiência Escolar inicia-se no final do primeiro ano de formação inicial. O estudante é colocado uma semana numa escola primária (do 1º ao 6.º ano) e outra numa escola secundária (do 7º ao 12º ano). Cabe-lhe, durante esse período, recolher dados de observações e usar aquando do regresso ao curso. Já o estágio final (Práticas de Ensino 2) tem a duração de 10 semanas tanto nos cursos de quatro anos, como nos de 16 meses. O objetivo do estágio é permitir aos estudantes-professores adquirir as competências necessárias para o início da carreira.
Indução e formação contínua
Quando acabam o curso de formação inicial, os novos professores passam por um período de indução. Este programa de dois anos é gerido pelo Ministério da Educação e desenhado para atender às necessidades da escola. Quando completam o terceiro ano de serviço, os professores iniciantes, passam a ser considerados experientes. Durante o período de indução, é-lhes atribuído 80% da carga de trabalho de um professor experiente. Esta redução destina-se a assegurar que os iniciantes têm tempo adicional para planear aulas, participar nas atividades de acolhimento, observar outros professores e receber mentoria. Todo o seu trabalho é sujeito a uma avaliação. Atingir a categoria de professor experiente equivale a ganhar estabilidade profissional.
A ideia de que os professores precisam de formação contínua está “institucionalizada” nas escolas. Todos os professores têm direito a 100 horas anuais remuneradas para frequentar cursos, ações e atividades.
Cada escola tem um professor responsável pelo desenvolvimento profissional do corpo docente. Cabe-lhe, mediante as necessidades da escola e em parceria com os vários departamentos disciplinares, traçar o plano de desenvolvimento que auxilia a escola a atingir os seus objetivos. As escolas põem ainda em prática ações menos formais de formação: atividades ou seminários de partilha de experiência letiva.
A liderança é vista como a força motriz das escolas. Por essa razão, o Ministério da Educação presta muita atenção e disponibiliza muitos recursos para identificar líderes escolares. Todos os diretores e coordenadores de departamento recebem formação na área da liderança, subsidiada pelo Governo, antes de assumirem esses cargos. Anualmente, os professores são avaliados pelas competências de liderança e de ensino. As avaliações são revistas pelo ministério, juntamente com os diretores das escolas. E é através deste processo que o sistema educativo reconhece e premeia os melhores professores.