História por PODER360
As expressões “fisiologia”, “fisiológico” e “fisiologismo” são jargões da política brasileira, de origem incerta. No jargão usado em Brasília, essas palavras se referem a uma troca de favores: o Poder Executivo oferece cargos e verbas para deputados e senadores em troca de apoio no Congresso.
Em sentido literal, fisiologia é a “parte da biologia que investiga as funções orgânicas, processos ou atividades vitais, como o crescimento, a nutrição, a respiração” (conforme registra o dicionário “Aurélio”).
No jornalismo político e nos meios políticos em geral, o termo é usado para mencionar como integrantes do Poder Executivo e do Poder Legislativo obtêm favores –sem base ideológica– tendo como moeda de troca cargos públicos e liberação de verbas de emendas ao Orçamento.
A relação da política com a conotação biológica refere-se ao fato de que políticos precisariam de cargos e de verbas públicas para tentar levar algum benefício até seus eleitores. Em suma, os cargos e os recursos são necessários para que os políticos se mantenham vivos e com suas funções vitais/eleitorais preservadas –daí a expressão “fisiologia”.
Chefes do Poder Executivo (prefeitos, governadores de Estado e presidente da República) nomeiam aliados para cargos e liberam dinheiro de maneira discricionária para integrantes do Poder Legislativo. Os governantes em algumas situações se aproveitam da necessidade de legisladores de atender às demandas de eleitores nas regiões em que atuam. Em casos específicos, os benefícios são concedidos quando algum projeto relevante vai ser votado e o governante precisa garantir o voto de quem recebe os cargos ou as verbas para emendas.
Ao citar casos de fisiologia é necessário registrar que nomear políticos para cargos públicos e liberar verbas propostas por meio de emendas ao Orçamento são instrumentos legais e legítimos, usados em várias democracias do mundo quando um governante monta sua base de apoio no Legislativo.
Nos anos 1970, os jornais brasileiros já traziam referências à expressão “fisiologismo”. Um texto de 1979 de Alberto Dines (1932-2018), já na fase final da ditadura militar (1964-1985), faz uma predição (depois não confirmada) de como a democracia poderia extirpar a prática da política brasileira: “Os 15 anos de autoritarismo e os 10 de ditadura criaram a ambientação propícia para salutar apodrecimento das velhas estruturas e o surgimento de partidos realmente políticos e ideológicos. A fisiologia e o pragmatismo, tão decantados pelos profissionais de todas as áreas, são coisas de uma situação prestes a desaparecer” (Folha de S.Paulo, 7.jan.1979).
Há outros exemplos, nos anos 1980: “É o caso de perguntar de que vale substituir a fisiologia do governo por uma fisiologia híbrida de oposição e dissidência” (Folha de S.Paulo, 2.dez.1980). “O presidente cometeu um erro grave ao tentar obter maioria através do fisiologismo” (Jornal de Brasília, 16.mai.1987); “Sarney repele fisiologia na luta pelos 5 anos” (Jornal de Brasília, 30.jan.1988).