História por dw.com  • DW Brasil

Presidente Daniel Noboa, que assumiu o cargo em novembro prometendo enfrentar o narcotráfico, decretou estado de emergência após criminoso fugir de prisão e fala em conflito entre facções.

Homens invadiram os estúdios da TC em Guayaquil armados de fuzis e granadas© Marcos PIN/AFP

Homens encapuzados e armados com fuzis e granadas invadiram nesta terça-feira (09/01) uma transmissão ao vivo da emissora de TV TC em Guayaquil, no Equador, obrigando funcionários do canal público a se deitarem no chão enquanto sons de tiros e gritos eram ouvidos no fundo.

O caso ocorre em meio ao sequestro de pelo menos sete policiais, fuga de presos e uma série de ataques com explosivos atribuídos ao narcotráfico, um dia após o presidente Daniel Noboa declarar estado de emergência no país.

Imagens na internet mostravam membros da equipe da emissora se agachando no chão, enquanto os homens armados gesticulavam em direção à câmera e alguém gritava, ao fundo, “sem polícia”. O sinal da TC acabou sendo cortado.

Nas redes sociais a polícia informou ter enviado unidades especiais para os estúdios da TC na cidade portuária de Guayaquil, no sudoeste do Equador. Horas depois, anunciou a prisão de ao menos 13 pessoas e a libertação de todos os reféns, dois deles com ferimentos leves.

Presidente assumiu cargo em novembro prometendo enfrentar o narcotráfico

Filho de um dos homens mais ricos do Equador, Noboa assumiu a Presidência em novembro do ano passado prometendo conter a violência nas ruas e nas prisões associada ao narcotráfico.

Na última segunda-feira (08/01), ele declarou estado de emergência – uma ferramenta usada por seu antecessor sem muitos resultados. A medida deve vigorar por 60 dias e permite o emprego de forças militares nas ruas e em prisões, bem como a imposição de um toque de recolher.

Militares estão nas ruas do Equador desde que presidente decretou estado de emergência© Dolores Ochoa/AP/picture alliance

O decreto foi uma reação ao “desaparecimento” de Adolfo Macias da prisão, noticiada no último domingo, bem como a motins subsequentes nos presídios. Macias é líder do Los Choneros, uma das facções criminosas mais temidas do país.

A resposta do crime organizado ao decreto veio na forma de sequestros, motins em prisões e atentados.

Em um vídeo citado pela agência de notícias AFP, três agentes penitenciários são vistos sentados no chão enquanto um deles lê uma mensagem ao presidente Noboa. “Você declarou guerra, e é guerra que terá”, diz. “Você declarou o estado de exceção e nós declaramos policiais, civis e militares como espólio de guerra.” A autenticidade do material não pôde ser verificada.

Citando informações do órgão equatoriano que administra as penitenciárias, a AFP afirma que os presos mantêm sob seu controle no momento 25 guardas penitenciários e 14 funcionários administrativos em cinco prisões.

Sumiço de narcotraficante desencadeou caos atual

Antes de declarar o estado de emergência, Noboa havia anunciado a mobilização de milhares de agentes das forças de segurança para recapturar Macias, que cumpria pena de 34 anos de prisão desde 2011. Ainda não está claro, porém, se ele de fato conseguiu fugir da prisão ou está escondido em algum lugar em seu interior.

Sob estado de emergência, Equador registrou revoltas nas prisões; novo presidente assumiu o cargo em novembro prometendo enfrentar o narcotráfico© FERNANDO MACHADO/AFP/Getty Images

Macias é suspeito de ter tramado o assassinato no ano passado do candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio.

Em um decreto atualizado publicado na tarde desta terça-feira, Noboa fala em “conflito interno armado” no Equador e cita diversas facções criminosas como grupos terroristas, incluindo Los Choneros, acionando as Forças Armadas para neutralizá-las.

Também nesta terça, as autoridades anunciaram a fuga de outro narcotraficante, Fabricio Colón Pico, da facção Los Lobos, preso na sexta sob suspeita de participar de um sequestro e de tramar um plano para assassinar a chefe do Ministério Público.

País vive escalada da violência

Localizado entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador se transformou em reduto do narcotráfico. Em 2023, o país de 17 milhões de habitantes registrou mais de 7,8 mil homicídios e a apreensão de 220 toneladas de droga.

Confrontos entre presos deixaram mais de 460 mortos desde 2021, e a taxa de homicídios nas ruas saltou quase 800% entre 2018 e 2023, indo de 6 para 46 mortes para cada 100 mil habitantes – no Brasil, essa taxa era de 23,4 em 2022.

Na semana passada, o presidente Noboa anunciou a construção de duas prisões de segurança máxima, uma delas na província de Pastaza. Representantes de movimentos indígenas na região convocaram protestos pacíficos contra a medida para esta terça-feira.

ra /av (Reuters, AFP, EFE, ots)

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