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Visão geral de muro de contenção de barragem sendo construído pela ArcelorMittal em Itatiaiuçu 5/02/2024 REUTERS/Washington Alves© Thomson Reuters
Por Washington Alves
ITATIAIUÇU, 8 Fev (Reuters) – Moradores da cidade mineira de Itatiaiuçu, que vivem nas proximidades de uma barragem de rejeitos de minério de ferro da ArcelorMittal considerada de alto risco, acompanham apreensivos a construção pela empresa de um muro que visa conter uma onda gigante de lama na hipótese de um rompimento.
Ainda que a empresa afirme que removeu moradores da área de risco e já tenha até acertado indenizações com centenas de famílias, o medo faz parte do cotidiano da população, uma situação que deve perdurar pelo menos até setembro de 2025, quando a obra do muro de contenção tem previsão de ser concluída.
Os riscos em Itatiaiuçu chamam a atenção para outras cerca de 30 barragens sem garantia de estabilidade no Brasil e reverberam temores com um eventual desastre após dois grandes colapsos em Minas Gerais. Em 2015, em Mariana, e em 2019, em Brumadinho, centenas de pessoas morreram após a lama do rejeito de mineração da Samarco e da Vale destruir comunidades e atingir rios e florestas.
Construída em 1987 e desativada desde 2012, a barragem da ArcelorMittal que atendia a Mina de Serra Azul contém atualmente mais de 5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM).
A estrutura está também embargada por não ter atestado sua estabilidade — algo que ocorre atualmente no Brasil com 7% das 453 barragens de mineração inseridas na Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e que são obrigadas a entregar o documento.
“A gente sofre muito medo, muita angústia de estar debaixo de uma barragem, que tem risco 3 de rompimento”, disse à Reuters o comerciante Wilson Vieira de Souza, referindo-se ao mais alto grau de risco para barragens em classificação feita pela ANM.
“Várias pessoas passaram mal, muitas pessoas adoeceram, muitas pessoas já morreram e ainda a gente está aqui nessa briga com essa mineradora que vem causando tantos danos para a gente aqui desta comunidade.”
O comerciante deu entrevista à Reuters no distrito de Pinheiros, que abriga o muro de contenção em construção e está repleto de placas indicativas de rota de fuga para o caso de um eventual rompimento.
As tragédias anteriores estão frescas na memória dos moradores de Minas Gerais, um Estado que vive dividido historicamente entre os retornos econômicos trazidos pelas mineradoras e os impactos da atividade no meio ambiente e em suas comunidades.
“Se ela (a barragem) estourar lá em cima, nós ficamos ilhados aqui embaixo, a lama não deixa (sair), estoura asfalto, estoura tudo, igual foi em Brumadinho, estourou tudo e a gente fica naquela situação”, disse o aposentado Milton Teixeira Reis, morador do distrito de Pinheiros.
Outra grande preocupação de autoridades com um eventual rompimento é com a possibilidade de contaminação de afluentes que desembocam no rio Manso, responsável por 40% do abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte, segundo a secretária do Meio Ambiente da cidade de Rio Manso, Marina Amaral Ferreira.
Itatiaiuçu está a cerca de 75 km da capital mineira.
“As medidas que nós vemos para diminuir o impacto ambiental que será causado pelo possível rompimento seria a construção de uma barreira de contenção, que a mineradora já vem construindo, mas que ao meu ver e da população o andamento ainda está muito fraco”, afirmou.
OBRA ATÉ 2025
Procurada, a ArcelorMittal afirmou que em 2019 realocou preventivamente todos os moradores residentes dentro da Zona de Autossalvamento (ZAS), “de modo a garantir total segurança das pessoas”.
Segundo a companhia, das 58 famílias que foram realocadas provisoriamente em imóveis alugados pela empresa, 41 se encontram em residências definitivas. Até o final de janeiro, 606 famílias fecharam acordos de indenização individuais com a empresa, adicionou.
“Não há nenhum morador em risco”, afirmou, em uma resposta por email, pontuando ainda que a barragem é monitorada 24 horas por dia.
O muro de contenção em construção, segundo a ArcelorMittal, será capaz de conter todo o rejeito em um caso de eventual rompimento e está previsto para ser concluído em setembro de 2025, o que permitirá o início dos trabalhos de descaracterização da barragem.
A companhia disse ainda estar cumprindo acordo firmado com a comissão de atingidos e com os ministérios públicos federal e estadual, com critérios para indenizações de moradia, atividades econômicas e agropecuárias, danos morais e parte dos danos coletivos.
(Reportagem de Washington Alves; com reportagem adicional de Lais Oliveira e Marta Nogueira)