A UNRWA, que Israel acusa de estar “totalmente infiltrada pelo Hamas”, nega conhecimento do túnel e afirma que não ocupa sua sede desde 12 de outubro por conta da ofensiva israelense na Faixa de Gaza

Por Redação – Jornal Estadão

JERUSALÉM -As Forças de Defesa de Israel (FDI) e o serviço de segurança interna de Israel afirmaram, neste sábado, 10, que descobriram um túnel do grupo terrorista Hamas sob a sede da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) na Cidade de Gaza.

A UNRWA, que Israel acusa de estar “totalmente infiltrada pelo Hamas”, afirmou por sua vez que não ocupa sua sede desde 12 de outubro, cinco dias após o inicio da guerra, quando terroristas do Hamas invadiram o território israelense e mataram 1.200 pessoas, além de terem sequestrado 240.

Este foi o maior ataque terrorista da história de Israel e o maior contra judeus desde o Holocausto. Após o ataque, tropas israelenses iniciaram uma ofensiva na Faixa de Gaza, com bombardeios aéreos e invasão terrestre, que deixou mais de 28 mil palestinos mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas.

De acordo com o Exército israelense e o Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, as operações militares na Cidade de Gaza nas últimas semanas levaram à descoberta de uma “entrada de túnel” perto de uma escola gerida pela agência humanitária da ONU.

Forças de Defesa de Israel (FDI) dizem ter encontrado um túnel do grupo terrorista do Hamas embaixo de uma escola da UNRWA
Forças de Defesa de Israel (FDI) dizem ter encontrado um túnel do grupo terrorista do Hamas embaixo de uma escola da UNRWA  Foto: Jack Guez/AFP

Nos últimos dez anos, o Hamas escavou na Faixa de Gaza um grande número de túneis, nos quais Israel afirma que seus combatentes se escondem.

Em outubro, um estudo do Modern War Institute, da academia militar americana West Point, identificou 1.300 túneis, que abrangem mais de 500 km de corredores subterrâneos.

“A entrada levava a um túnel terrorista subterrâneo que era um importante ativo para a inteligência militar do Hamas e passava por baixo do prédio que serve como sede principal da UNRWA na Faixa de Gaza”, indicaram as fontes israelenses em um comunicado.

Soldados israelenses caminham perto de um prédio da ONU na Cidade de Gaza
Soldados israelenses caminham perto de um prédio da ONU na Cidade de Gaza  Foto: Ariel Schalit/AP

Também acrescentaram que “as instalações da UNRWA forneciam eletricidade para o túnel”, que tinha 700 metros de comprimento e estava a 18 metros abaixo da terra, e que encontraram documentos e armas no recinto da ONU, o que “confirma que os escritórios também foram usados por terroristas do Hamas”.

Agência da ONU nega uso por terroristas

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) negou que uma de suas escolas fosse usada por terroristas do Hamas e afirmou que retirou os funcionários de suas instalações na Cidade de Gaza por conta da ofensiva israelense no enclave palestino.

“Não utilizamos este prédio desde que o abandonamos e não temos conhecimento de qualquer outra atividade desenvolvida”, respondeu a UNRWA. As acusações de Israel “merecem uma investigação independente, impossível neste momento, já que Gaza está em uma zona de guerra ativa”, acrescentou.

Israel já afirmou que quer acabar com a presença da agência da ONU na Faixa de Gaza. Uma investigação feita por Tel-Aviv aponta que trabalhadores da UNRWA contribuíram para o ataque do grupo terrorista Hamas em Israel no dia 7 de outubro. A inteligência israelense afirmou que 12 funcionários da agencia se envolveram nos ataques terroristas do Hamas.

Soldados israelenses operam em uma instalação da UNRWA na Faixa de Gaza
Soldados israelenses operam em uma instalação da UNRWA na Faixa de Gaza  Foto: Jack Guez/AFP

Além disso, segundo Israel, cerca de 190 colaboradores da agência, que distribui alimentos, fornece abrigo e educação aos refugiados palestinos, teriam algum tipo de militância em grupos radicais que promovem atos terroristas, como o Hamas e a Jihad Islâmica.

A UNRWA informou que demitiu a maioria dos funcionários supostamente envolvidos nos ataques, e a ONU está investigando internamente as acusações contra os funcionários demitidos. O secretário-geral da organização, António Guterres, nomeou uma comissão independente para avaliar a “neutralidade” da agência.

Falta de financiamento

No dia 26 de janeiro, os Estados Unidos anunciaram o fim do financiamento à agência da ONU, decisão também tomada por países como Austrália, Canadá, Itália, Reino Unido, Finlândia e Países Baixos.

A agência depende de contribuições voluntárias. Cerca de 95% do orçamento vem de transferências governamentais. Conforme balanços recentes, a UNRWA teve orçamento de US$ 1,17 bilhão, em 2022. Os maiores doadores foram países membros da União Europeia (US$ 520 milhões) e os Estados Unidos (US$ 344 milhões).

Os EUA anunciaram na sexta-feira, 9, que não vão retomar a colaboração até que a investigação seja concluída. No início do mês, a União Europeia decidiu manter repasses por avaliar que são essenciais para sobrevivência dos refugiados, mas considerou as denúncias “muito graves” e cobrou uma auditoria na agência.

Lula promete mais apoio do Brasil

Devido à retirada de financiamento de diversos países, o presidente do BrasilLuiz Inácio Lula da Silva, afirmou que Brasília vai aumentar o montante enviado à UNRWA em reação ao que o governo brasileiro entende ser uma ameaça à continuidade do trabalho em Gaza. O anúncio foi feito durante visita à Embaixada da Palestina em Brasília, na noite de quinta-feira, 8.

“O Brasil exorta a comunidade internacional a manter e reforçar suas contribuições para o bom funcionamento das suas atividades. Meu governo fará aporte adicional de recursos para a agência”, afirmou Lula, conforme discurso divulgado na sexta-feira, 9, pelo Palácio do Planalto. “O Brasil também integra a Comissão Consultiva da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA). As recentes denúncias contra funcionários da UNRWA precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la.”

O valor adicional a ser transferido pelo Brasil não foi divulgado. Consultados pelo Estadão, integrantes das equipes do Palácio do Planalto, do Ministério da Fazenda e do Ministério das Relações Exteriores disseram que ainda não há uma cifra definida./Com informações de Felipe Frazão e AFP

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