Por Artur Grynbaum – Diretor presidente da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e vice-presidente do Conselho do Grupo Boticário

O ano de 2023 foi confirmado como o mais quente da história, de acordo com o observatório Copernicus Climate Change Service, da União Europeia. Mesmo após passada a influência do fenômeno El Niño, que tem causado o aumento atípico das temperaturas desde meados do ano passado, os próximos anos também prometem ser muito quentes e desafiadores. Não à toa, os cientistas consideram que as mudanças climáticas devem ser consideradas o maior desafio da humanidade neste século e o aumento da frequência de eventos extremos como tempestades, alagamentos, vendavais, secas e incêndios florestais evidencia os grandes impactos desse tema na nossa vida.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) calcula que eventos climáticos extremos provocam diminuição de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atualmente e devem criar grandes desafios para o fornecimento de energia no país, fortemente dependente de fontes hidrelétricas.

Apenas nos primeiros nove meses do ano passado, os desastres naturais provocaram perdas econômicas estimadas em US$ 295 bilhões, de acordo com o estudo Global Catastrophe Recap, da seguradora Aon. Claro que não é possível associar todos esses impactos negativos ao aquecimento do planeta, mas é evidente que os desastres naturais estão mais intensos e mais frequentes. No Brasil, o mesmo estudo calcula em US$ 555 milhões as perdas financeiras relacionadas a eventos climáticos extremos, sendo US$ 205 milhões apenas com as fortes chuvas ocorridas em junho no Rio Grande do Sul.

Como vimos na mais recente Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP28, realizada em Dubai, governos, setores produtivos, sistema financeiro, ONGs e outros atores da sociedade procuram soluções para enfrentar esse cenário, mas a sensação geral é de que precisamos avançar mais rapidamente. A discussão há tempos deixou de ser preocupação de ambientalistas e está cada vez mais inserida no debate econômico. O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, por exemplo, dedicou parte considerável de sua programação para debater soluções para os enormes desafios gerados pelas mudanças climáticas.

Em meio a tantas preocupações, no entanto, há sinais positivos. Os brasileiros já consideram as mudanças do clima um tema muito importante e, inclusive, estão dispostos a mudar comportamentos para evitar que a situação fique ainda mais grave. A pesquisa inédita “Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com as mudanças climáticas”, realizada pela Fundação Grupo Boticário em parceria com a Unesco no Brasil, entre outros parceiros, e apresentada na COP28, mostra que 69% das pessoas já se sentiram impactadas ou conhecem alguém diretamente impactado de forma negativa por tempestades, vendavais, alagamentos e inundações, ondas de calor, deslizamentos ou desmoronamento de encostas.

Entre os atingidos por eventos climáticos extremos, 65% dos entrevistados relatam alguma perda financeira, com prejuízo médio estimado de R$ 8.485,00 por pessoa. A pesquisa revela que 93% dos brasileiros acham que os fenômenos climáticos estão ficando mais intensos no mundo e, também, que 76% das pessoas consideram que a estrutura das cidades não está preparada para chuvas fortes. Além disso, 86% dos entrevistados percebem que as áreas verdes nas cidades estão diminuindo.

Por outro lado, a pesquisa mostra que a população está disposta a contribuir com o meio ambiente para garantir um futuro melhor. Existe grande sensibilidade sobre a importância de tornar nossas cidades mais verdes, com soluções que utilizem a natureza a nosso favor. Praticamente todos os entrevistados (98%) gostariam de viver em cidades mais arborizadas, com mais verde nas ruas e mais parques urbanos.

As pessoas percebem que a natureza oferece bens preciosos e, por isso, precisa ser conservada. Esse amplo apoio da população deve inspirar uma visão de futuro do Brasil, facilitando a transição para uma economia verde, capaz de promover um desenvolvimento realmente sustentável, cuidando do meio ambiente e gerando oportunidades econômicas com desenvolvimento social.

Para avançarmos nesse sentido, no entanto, além de políticas públicas bem direcionadas e atuação coordenada dos diferentes níveis de governo, os esforços voltados para a conservação da natureza precisam contar com mais participação e empenho da iniciativa privada. O uso responsável dos recursos naturais, o respeito às condições de vida das pessoas e a geração de receitas econômicas precisam formar um tripé indissociável.

O momento exige uma profunda reflexão. Além de entregar melhores produtos e serviços, as empresas também podem firmar compromissos reais em favor de um planeta mais equilibrado e de uma sociedade mais justa. Para isso, sabemos que será necessário ampliar a capacidade de formar alianças e parcerias estratégicas para aumentar o impacto positivo. O compromisso com essa causa deve encorajar toda a sociedade a compreender melhor o valor da natureza conservada.

A natureza em equilíbrio, além de ser uma condição essencial para a adaptação às mudanças climáticas, é capaz de gerar uma série de benefícios para todas as formas de vida. Todos somos responsáveis pela construção de um futuro mais positivo e, cada um ao seu modo, também pode influenciar quem estiver ao redor a fazer o seu melhor. Cada passo importa para um futuro sustentável.

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