História de Ana Paula Ferreira – BF Boa Forma
Ao contrário daquelas consultas que mal duram meia hora e você vai embora com a sensação de que não teve tempo suficiente para ser atendido, a slow medicine – ou “medicina com calma”, em tradução – traz um conceito diferente para atendimentos médicos, onde saber ouvir o paciente e ter parcimônia na prescrição de exames e tratamentos é o princípio fundamental.
Inspirada no movimento “slow food” (comida sem pressa), que vai na contramão dos fast-foods (comidas rápidas), a slow medicine surgiu no início dos anos 2000 e tem como objetivo a construção de laços entre médico e paciente.
“A construção de laços estreitos e duradouros com os pacientes nasce a partir de uma vivência mais próxima, acolhedora e transparente”, explica o cirurgião vascular e angiologista Fábio Rocha, ressaltando que, nesse formato de atendimento, a busca pela cura vai além do paciente em si, “permeando a esfera da família e de toda a sua comunidade”.
Como funciona a slow medicine?
Doenças podem causar muito mais do que apenas sintomas físicos. Normalmente elas também abalam o emocional do paciente e acabam envolvendo parte da família no processo de cura. Diante disso, Rocha afirma que compreender tudo isso ajuda no diagnóstico e tratamento.
Segundo ele, é necessário saber ouvir as queixas, mas também explicar detalhadamente o que está acontecendo e quais os próximos passos do tratamento, seja ele com medicamentos ou cirúrgico.
“Deixar o paciente seguro com as informações do que ele tem e o que será feito é fundamental para estreitar o vínculo com ele e com a família. Quando ele se sente seguro, as chances de concordar em seguir com o tratamento aumentam”, afirma o médico.
“O desconhecido causa certa aflição. Entretanto, quando se compreende o que se tem, a gravidade, o tratamento proposto e não resta nenhuma dúvida, o paciente fica mais confortável e confiante para seguir adiante”, completa.
Saber ouvir e explicar com calma leva mais tempo, e, por isso, a consulta de profissionais que seguem o conceito da slow medicine tende a ser mais demorada do que aquela mais “convencional”.
“Não existe um tempo estabelecido no relógio. A consulta leva o tempo que tiver que levar. Cada paciente tem seu tempo, e cabe ao médico saber compreendê-lo e respeitá-lo”, ressalta Rocha
Pedido de exames sem exageros
Outro ponto a ser considerado na slow medicine são os exames que o paciente terá que fazer. “Em alguns casos, médicos acabam pedindo uma quantidade grande de exames. Isso gera estresse no paciente. Na slow medicine, serão pedidos apenas aqueles exames que forem relevantes para o tratamento”, explica o cirurgião vascular.
No entanto, ele ressalta que o método não é contra exames. “A slow medicine pede parcimônia com os exames. Peça apenas o que for necessário, nada de excessos.”
Atendimento de igual para igual
Outro ponto a ser ressaltado sobre a slow medicine é que o médico não pode se colocar em uma posição acima do paciente, como se estivesse em um pedestal.
“Você tem que se colocar em uma mesma posição. Com isso, o paciente estará aberto para conversar, ouvir e entender. Você não está lá para falar apenas o que tem que ser feito. Quando o médico sabe ouvir com paciência e atenção, gera uma confiança muito maior. É mais fácil o paciente aderir ao tratamento dessa forma”, conta o médico.
Mesmo depois de ter ouvido toda a explicação do médico, se o paciente não desejar prosseguir com o tratamento, cabe ao profissional respeitar a vontade dele e propor uma alternativa para o problema. “Se a pessoa precisa de uma cirurgia e não deseja fazer, o médico tem que respeitar a vontade dele e sugerir um tratamento paliativo, para minimizar o sofrimento”, explica Rocha.
Além disso, o envolvimento de algum familiar da confiança do paciente no tratamento e na consulta também é fundamental para ajudar no estreitamento de laços com o médico. “Quando o paciente vai a uma consulta junto de alguém em que confia, ele se sente mais seguro. Eu, como médico, acolho pacientes e família. Isso também faz parte da slow medicine”, afirma o profissional. E finaliza: “Entendo suas histórias, motivações e emoções, porque é essa escuta ativa que constrói uma relação de respeito e confiança entre médico e paciente”.