História de Notas & Informações – Jornal Estadão
O indiciamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, atolado por suspeitas de malversação de recursos públicos no Maranhão, diz mais sobre o governo Lula da Silva do que sobre seu auxiliar. E não são poucas as enrascadas em que o político do União Brasil se meteu.
Após reportagens em série do Estadão revelarem uma farra no uso do orçamento secreto na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) – a estatal do Centrão –, o leitor deste jornal já conhece bem o histórico do sr. Juscelino.
Vale a pena lembrar alguns episódios nada abonadores. Quando deputado, Juscelino destinou verba milionária para asfaltar uma estrada que passa na frente de uma fazenda sua, em Vitorino Freire (MA). Ele ainda omitiu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) parte de seu patrimônio e, já como ministro, recebeu diárias – ou seja, dinheiro público – para ir a um leilão de cavalos de raça. Sua cidade natal, administrada pela irmã, firmou contratos com empresas de amigos.
A lista é longa. Mas nada disso foi suficiente para sacá-lo do cargo.
Diante de tantos indícios de irregularidades no repasse de emendas parlamentares, a Polícia Federal (PF) deu início a uma investigação. Segundo o indiciamento, o ministro é suspeito de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Nada menos. O Estadão apurou que o relatório final cita também falsidade ideológica, frustração de caráter competitivo de licitação e violação de sigilo em licitação.
Tudo isso, porém, não parece grave o bastante para Lula demitir sumariamente Juscelino Filho tão logo a PF o indiciou.
Alçado do baixo clero da Câmara, o ministro representa um problema para o governo, não por sua notória desqualificação como gestor público, mas por uma potencial rebelião no União Brasil em razão de sua queda. O indiciamento ainda veio a calhar em uma semana em que o Congresso andou bastante indócil com o governo Lula da Silva.
Segundo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), o desfecho depende do presidente, o que é óbvio, e de um posicionamento do União Brasil. Por ora, a legenda não soltou a mão do correligionário, a quem manifestou “total apoio” alegando “uma possível atuação direcionada e parcial na apuração”. Para o terceiro maior partido da Câmara, investigações semelhantes no passado levaram a “condenações injustas”.
Em Genebra, onde participa de um evento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lula disse que “o fato de o cara ser indiciado não significa que o cara cometeu um erro”. “Agora, eu preciso que as pessoas provem que são inocentes”, afirmou.
O presidente até pode vir a demitir Juscelino Filho – hoje, amanhã ou sabe-se lá quando. Porém, esse imbróglio já se arrasta desde janeiro de 2023, logo após a posse para seu terceiro mandato. Seja qual for a decisão de Lula da Silva, o episódio só reforça que um governo fraco como o dele não pode se dar ao luxo de indispor qualquer partido de sua base rarefeita.