História de Melissa Souza* – EM.com.br

Incêndio de grandes proporções atinge Serra da Piedade em Caeté, na Grande BH

Incêndio de grandes proporções atinge Serra da Piedade em Caeté, na Grande BH© Leandro Couri/E.M./D.A. Press

O Brasil enfrenta uma das piores secas da história. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), mais da metade do país lida o piro período de estiagem dos últimos 44 anos, incluindo Minas Gerais. No estado, uma forte massa de ar seco e quente continental vem inibindo a chegada de frentes frias e favorece a permanência de baixos índices de umidade relativa do ar, impedindo a formação de chuvas.

Com a ausência de chuvas, as ocorrências de incêndios atendidas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) aumentaram. Segundo a corporação, de janeiro a agosto, as ocorrências tiveram um aumento de 50% em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando aproximadamente 14 mil registros, um recorde dos últimos cinco anos.

Uma alternativa para a escassez hídrica seria a chuva artificial, técnica utilizada com o objetivo de fazer com que as partículas de água das nuvens se juntem, formando gotas para a produção de chuvas. Para que ocorra essa aglutinação, são usados sais de prata, como brometo ou iodeto de prata. No entanto, segundo especialistas, o dispositivo pode não ser tão eficaz para o combate de incêndios florestais e queimadas.

O Que É Chuva Preta E Por Que Ela Acontece

“Uma forma [de reduzir o impacto das queimadas] é a chuva induzida, por meio de helicópteros ou aeronaves, dispersar um produto para aumentar a densidade desses núcleos de condensação provocando as precipitações. Elas podem ser úteis para apagar os incêndios, mas podem causar uma consequência ainda maior. Isso porque o brometo pode prejudicar o solo”, explica o professor do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio Pimenta.

O especialista em recursos hídricos pondera que a chuva artificial não é a melhor alternativa para o combate às queimadas, visto que trata-se de um investimento caro e incerto. Isso porque, segundo Pimenta, é difícil saber se uma nuvem vai realmente chover em cima de um incêndio específico devido aos ventos.

“O clima do nosso Brasil está atípico, com muitas chuvas no Sul e muita seca no Norte. Nas regiões áridas e semiáridas, o problema é ainda mais grave. São muitos dias sem chuva, então não há lençóis freáticos e rios que ajudem a situação. Como o clima está muito seco, as queimadas chegaram para ficar. Associadas à falta de conhecimento das pessoas, a condição climática impede que a massa de ar frio chegue. Talvez ainda tenhamos mais uns dois meses sem chuva”, diz.

Segundo a meteorologia, o mês de setembro traz consigo uma combinação de temperaturas elevadas e precipitação abaixo da média, acompanhadas de variações significativas. Em Minas, a previsão indica um cenário climático preocupante, com impactos que podem se estender para diversos setores, incluindo saúde, agricultura e energia.

Como não é possível adiantar a chuva, o professor da UFMG orienta que o melhor a se fazer é esperar as chuvas naturais, que devem voltar ao estado em outubro, e investir na consciência ambiental da população.

Devastação

De janeiro a agosto de 2024 os incêndios no Brasil já atingiram 11,39 milhões de hectares do território do país, segundo dados do Monitor do Fogo Mapbiomas, divulgados nessa quinta-feira (12). Desse total, 5,65 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo apenas no mês de agosto, o que equivale a 49% do total deste ano.

Nesses oito primeiros meses do ano, o fogo se alastrou principalmente em áreas de vegetação nativa, que representam 70% do que foi queimado. As áreas campestres foram as que os incêndios mais afetaram, representando 24,7% do total. Formações savânicas, florestais e campos alagados também foram fortemente atingidos, representando 17,9%, 16,4% e 9,5% respectivamente. Pastagens representaram 21,1% de toda a área atingida.

No período, os estados do Mato Grosso, Roraima e Pará foram os mais atingidos, respondendo por mais da metade, 52%, da área alcançada pelo fogo. São três estados da Amazônia, bioma mais atingido até agosto de 2024. O fogo consumiu 5,4 milhões de hectares do bioma nesses oito meses.

O Pantanal teve 1,22 milhão de hectares queimados até agosto de 2024, um crescimento de 249% nas áreas alcançadas por incêndios, em comparação à média dos cinco anos anteriores. A Mata Atlântica teve 615 mil hectares atingidos pelo fogo, enquanto que na Caatinga os incêndios afetaram 51 mil hectares. Já os Pampas tiveram apenas 2,7 mil hectares no período de oito meses.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Jociane Morais 

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