História de Realidade Militar
Neste exato momento, algo decisivo está acontecendo na guerra entre a Ucrânia e a Rússia. A Ucrânia está prestes a receber mísseis de longo alcance dos Estados Unidos e do Reino Unido, algo que pode mudar o rumo desse conflito. Estamos falando de armamentos que podem atingir alvos a centenas de quilômetros de distância. Mas como essas negociações estão se desenrolando? E, mais importante, como essas armas podem transformar a guerra?
A Ucrânia vem pedindo por mísseis de longo alcance desde o início da guerra, mas até agora, os Estados Unidos hesitavam em liberar esses armamentos. No entanto, mudanças recentes nas negociações sugerem que isso está prestes a acontecer.
Na semana passada, altos oficiais dos Estados Unidos e do Reino Unido se reuniram para discutir a liberação dos mísseis “ATACMS” e Storm Shadow para a Ucrânia. Essas reuniões ocorreram em vários níveis, tanto nos gabinetes dos dois países quanto em uma visita de campo à Ucrânia, onde o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o secretário britânico de Relações Exteriores, David Lammy, se encontraram com o presidente Zelensky.
Esse encontro foi significativo. Não só foi a primeira visita conjunta de autoridades americanas e britânicas à Ucrânia em uma década, como também exigiu um grande esforço logístico, já que todas as viagens à Ucrânia precisam ser feitas de trem, saindo da Polônia. Foram dez horas de viagem, ida e volta, para que os líderes pudessem discutir, cara a cara, como esses novos armamentos podem ser utilizados.
E por que tantas conversas e reuniões? Porque a liberação desses mísseis não é uma decisão simples. Há muito em jogo, e o medo de uma escalada do conflito com a Rússia sempre esteve no centro dessas negociações.
Mas o que são exatamente esses armamentos que estão em jogo?
Os mísseis “ATACMS”, desenvolvidos nos Estados Unidos, são projetados para atingir alvos a uma distância de até trezentos quilômetros. Eles são disparados de lançadores “HIMARS”, que a Ucrânia já possui, e podem destruir alvos importantes, como depósitos de munição, centros de comando e bases aéreas.
Já o míssil Storm Shadow, de fabricação britânica, tem um alcance um pouco menor, de duzentos e cinquenta quilômetros, mas é equipado com uma ogiva mais pesada, ideal para destruir alvos fortificados, como bunkers e estruturas protegidas. O que torna o Storm Shadow diferente é que ele é lançado de aviões, o que dá à Ucrânia uma flexibilidade tática ainda maior.
Mas por que esses mísseis ainda não foram liberados? A resposta está no medo de uma escalada.
Por mais de dois anos, a Ucrânia tem solicitado permissão para usar essas armas em território russo, mas os Estados Unidos sempre hesitaram. A principal preocupação é que, ao atingir alvos dentro da Rússia, o conflito possa se expandir ainda mais, potencialmente atraindo outros países para a guerra. Além disso, existe o temor de que a Rússia veja isso como uma provocação direta e reaja de forma imprevisível.
No entanto, a situação no campo de batalha mudou. A Rússia tem usado sua vantagem de alcance para atacar a Ucrânia com bombas planadoras, que são basicamente bombas comuns adaptadas com asas para que possam ser lançadas de aviões a grandes altitudes e atingir seus alvos com mais impacto. A Ucrânia, sem armas de longo alcance o suficiente para contra-atacar, tem sofrido com esses ataques.
Por isso, as negociações para liberar os mísseis “ATACMS” e Storm Shadow ganharam uma nova urgência. Durante a visita dos ministros à Ucrânia, um ponto importante foi discutir quais alvos a Ucrânia pretende atingir com essas armas. A Ucrânia está no meio do conflito e sabe melhor do que ninguém onde os ataques seriam mais eficazes. Esse tipo de informação foi essencial para os executivos que, posteriormente, tomaram a decisão de avançar com a liberação dos armamentos.
E é aqui que entra a reação da Rússia.
A reação de Moscou, como era de se esperar, foi imediata. O governo russo já declarou que a liberação dessas armas seria vista como um ato de agressão direta contra a Rússia, o que, segundo Putin, equivaleria a lutar contra o próprio país.
Mas, por trás da retórica, está o verdadeiro medo russo: com essas novas armas, a Ucrânia poderá atingir alvos estratégicos dentro do território russo, forçando Moscou a reposicionar suas forças e proteger infraestruturas vitais, como depósitos de armas e bases aéreas.
A Rússia já começou a reposicionar suas aeronaves para bases mais distantes, fora do alcance dos mísseis ucranianos. Mas essa mudança tem um custo. Isso significa que os aviões russos precisarão voar maiores distâncias, gastando mais combustível e reduzindo a eficácia de seus ataques.
Além disso, os depósitos de suprimentos e centros logísticos que antes estavam seguros agora estarão na mira dos mísseis “ATACMS” e Storm Shadow. Para Moscou, isso significa que suas operações militares no leste da Ucrânia podem ser seriamente prejudicadas.
E como exatamente essas armas podem mudar o curso da guerra?
Primeiro, a Ucrânia finalmente terá a capacidade de interromper os ataques aéreos russos. Até agora, os aviões russos estavam fora de alcance, o que permitia que lançassem bombas planadoras de forma relativamente segura. Mas com os mísseis de longo alcance, as bases aéreas russas que abrigam esses aviões estarão vulneráveis. Isso forçará a Rússia a operar seus aviões a uma distância maior, tornando seus ataques menos eficientes.
Em segundo lugar, a Ucrânia poderá criar uma espécie de “zona de exclusão” ao longo da fronteira com a Rússia. Isso significa que as linhas de suprimento e as bases logísticas russas que antes estavam fora de alcance agora poderão ser atacadas. Isso dificultará o reabastecimento das tropas russas na linha de frente e, com o tempo, poderá enfraquecer suas operações.
Terceiro, os mísseis de longo alcance serão cruciais para as ofensivas terrestres ucranianas, como a ofensiva em Kursk. Com a capacidade de atingir alvos estratégicos antes de avançar com suas tropas terrestres, a Ucrânia poderá enfraquecer as defesas russas e aumentar suas chances de sucesso nas ofensivas.
E, por fim, a questão da Crimeia. Embora a ponte da Crimeia, que liga o território russo à península, seja um alvo tentador, ela está no limite do alcance dos mísseis “ATAC-MS” e Storm Shadow. Além disso, destruir uma estrutura tão grande e fortificada é um desafio técnico. Mesmo que a ponte seja danificada, a Rússia já adaptou suas rotas de abastecimento, usando o “corredor terrestre” que conquistou em dois mil e vinte e três para manter o fluxo de suprimentos para a Crimeia.
Mas e então, o que podemos concluir de tudo isso?
A liberação dos mísseis “ATAC-MS” e Storm Shadow pelos Estados Unidos e Reino Unido marca um ponto de virada importante na guerra. A Ucrânia terá uma nova capacidade de atingir alvos estratégicos, e a Rússia será forçada a repensar suas estratégias. Embora esses mísseis não encerrem a guerra imediatamente, eles vão, sem dúvida, alterar a dinâmica do conflito.
Agora, resta ver como essas novas ferramentas serão usadas e se elas realmente terão o impacto que muitos esperam. O que está claro é que a guerra está prestes a mudar de forma dramática. E quem conseguir se adaptar mais rápido, terá a vantagem.