Blogo do Pedro Côrtes – CNN Brasil
No Brasil, a transição energética já começou. Mas esse é um cenário que muda rapidamente com a evolução tecnológica. Precisamos manter isso em nosso radar
No Brasil, a transição energética começou na década de 1930 com a mistura de etanol nacional à gasolina, inicialmente para reduzir a dependência de combustíveis importados. Ganhou força com o Proálcool em 1975, programa criado para aproveitar o excedente de cana-de-açúcar e que ganhou relevância para mitigar nossa dependência de petróleo importado.
A evolução tecnológica levou ao desenvolvimento dos veículos flex, capazes de usar gasolina e etanol em diferentes proporções.
Mais recentemente, a hibridização da frota tem sido vista como uma solução para intensificar a transição energética do país, especialmente com o uso do etanol. Há, entretanto, questionamentos sobre a longevidade dessa tecnologia.
Carros elétricos
A China investiu em carros elétricos para superar a desvantagem competitiva em relação aos veículos convencionais europeus e norte-americanos e reduzir a poluição nas grandes cidades. Aplicando os princípios estratégicos de Michael Porter, buscou diferenciação ao competir em um segmento onde os líderes não tinham supremacia e aproveitou o vasto mercado interno para obter economia de escala e praticar preços competitivos no exterior.
Combinando custos baixos, inovações e design avançado, as montadoras chinesas alcançaram liderança em custos e conseguiram destaque em diferenciação tecnológica. Aplicaram os conceitos clássicos de estratégias competitivas de Porter, algo estudado nos cursos de graduação em Administração. O pior inimigo das montadoras tradicionais se materializou em competidores que nem estavam no radar.Play Video
Europa
A Europa incentivou os carros elétricos por meio de políticas governamentais, apesar de parte de sua energia ainda ser gerada por fontes fósseis, o que pode parecer contraditório. No entanto, a descarbonização da matriz energética europeia está em curso, com países como Portugal utilizando basicamente fontes renováveis, a França utilizando energia nuclear, e iniciativas para eliminar carvão na geração elétrica como fizeram a Inglaterra e a Itália.
Esse processo torna a adoção de veículos elétricos ambientalmente mais justificável, beneficiando toda a frota à medida que a geração de energia se torna mais limpa.
Questões ambientais
Embora se critique o impacto ambiental das baterias de carros elétricos, os celulares, que têm um descarte muito mais frequente, raramente recebem a mesma atenção. O Brasil descarta anualmente cerca de 40 milhões de celulares, cujas baterias equivalem ao impacto ambiental de pelo menos 20 mil baterias de carros elétricos.
Além disso, as baterias veiculares podem ser reaproveitadas em sistemas de armazenamento de energia solar ou eólica, enquanto as de celulares, integradas aos aparelhos, têm reuso mais complicado, apesar da possibilidade de recuperação de metais nobres se descartadas corretamente. Não se ouvem críticas ao descarte de baterias de telefones celulares, especialmente por aqueles que criticam o impacto ambiental das baterias dos carros elétricos.
Há tecnologias que permitem a recuperação de baterias automotivas, ampliando sua vida útil e reduzindo a necessidade de troca. Como são baterias facilmente destacáveis, podem entrar em sistemas de recuperação de componentes e metais nobres.
A tecnologia híbrida
Os veículos híbridos combinam um motor à combustão com um ou mais motores elétricos, recuperando e armazenando em baterias a energia desperdiçada na frenagem, por exemplo.
Com isso, mesclam o uso de motores a combustão com o uso de motores elétricos e conseguem reduzir o consumo e as emissões de gases de efeito estufa.
No Brasil, os híbridos que utilizam etanol se destacam por emissões praticamente neutras, já que o CO2 emitido é reabsorvido pela fotossíntese durante o cultivo da cana.
Apesar de emissões remanescentes devido ao uso de diesel no transporte e produção do biocombustível, essa tecnologia é vista como uma solução promissora para a mobilidade sustentável no país.
A longevidade da tecnologia híbrida
Apesar da aposta brasileira nos veículos híbridos, seu futuro pode ser limitado. Segundo matéria publicada pelo The Economist (Why the hype for hybrid cars will not last), normas na Califórnia e em outros 16 estados americanos permitirão apenas 20% de vendas de híbridos até 2035, enquanto a União Europeia planeja proibir a venda de todos os carros a gasolina, incluindo híbridos, no mesmo ano.
Temos o domínio do uso do etanol automotivo, mas dependemos de tecnologia e suprimentos das matrizes das montadoras para continuar a utilizar carros híbridos. Em dez anos, talvez as matrizes das montadoras não tenham tanto interesse em continuar produzindo esses veículos. O preço das baterias dos carros elétricos tem diminuído, assim como o tempo de recarga.
Em uma década, elas poderão atingir um preço que torne os carros elétricos muito mais acessíveis. Redes de recarga serão construídas e o uso, especialmente urbano, será facilitado.
São questões que precisam ser consideradas em nosso planejamento estratégico. Estamos trilhando um caminho muito exitoso em relação à transição energética, mas esse é um cenário que tem se transformado rapidamente com o surgimento de novas tecnologias e sua rápida evolução. Isso tem que estar em nosso radar.