História de Rolf Kuntz – Jornal Estadão

Crescimento com inflação, uma fórmula ainda seguida pelo presidente Lula, pode ter dado certo neste ano, mas a combinação perderá efeito a partir de 2025, segundo projeções do mercado financeiro. Os trabalhadores continuarão enfrentando uma forte alta de preços, mas sem os benefícios de uma economia vigorosa.

Depois de atingir 4,91% neste ano, a inflação oficial deverá recuar para 4,84%, mantendo-se ainda longe do centro da meta, 3%, e acima do limite de tolerância, fixado em 4,50%. Ao mesmo tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá aumentar 2,02%, num cenário bem menos próspero que o de 2024, marcado, segundo as últimas estimativas, por uma expansão de 3,49%. Esse conjunto de projeções, apresentado no boletim Focus, indica também juros básicos de 14,75% no final do próximo ano, mas no setor financeiro já há quem fale em numa taxa de 15%.

Crédito mais caro, prejudicial ao consumo, à produção e também ao emprego, será inevitável, se o governo continuar gastando de forma imprudente e o Banco Central (BC) cumprir sua função principal, conter a alta de preços. Depois de elevar a taxa básica, a Selic, a 12,25%, o Copom, Comitê de Política Monetária do BC, já anunciou mais dois prováveis aumentos no primeiro trimestre. Se esses aumentos ocorrerem, um freio poderoso será imposto à atividade econômica. O País voltará a avançar 2% ao ano, mais ou menos, e continuará perdendo posições no conjunto global. Não se percebe no mercado, no entanto, a expectativa de contas públicas muito mais arrumadas e mais próximas de um equilíbrio duradouro.

Haddad e Lula durante evento do governo Foto: Wilton Junior/Estadão

Haddad e Lula durante evento do governo Foto: Wilton Junior/Estadão

Mantida a expectativa de novos déficits fiscais, o Copom terá motivo para prolongar o aperto monetário, dificultando o crédito ao setor privado e encarecendo, ao mesmo tempo, o financiamento do Tesouro. O atual diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou mais de uma vez a disposição de cumprir a função básica da instituição, cuidar da preservação da moeda.

Responsável por sua indicação para os novos postos, Lula chegou a expressar publicamente o compromisso de respeitar sua autonomia e de evitar pressões sobre o BC. Como o BC é legalmente autônomo, a promessa talvez pareça redundante, estranha e até preocupante, mas, no caso do presidente da República, essa manifestação pode ser defensável e até desejável.

Tendo registrado suas palavras, agentes do mercado e analistas econômicos poderão mais facilmente cobrar do chefe de governo o respeito à autoridade monetária e, além disso, o necessário cuidado com as finanças públicas. O presidente poderá manter esse cuidado sem muito trabalho, se se dispuser, simplesmente, a respeitar as iniciativas mais prudentes do ministro da Fazenda.

Para isso, o presidente precisará conter seus impulsos gastadores, evitar jogadas eleitoreiras e, ao mesmo tempo, resistir às pressões do Partido dos Trabalhadores. Nenhuma dessas tarefas será cumprida sem dificuldade e sem o risco de desgastes momentâneos. Mas todo esse esforço será indispensável para se chegar a 2026 sem grandes danos às contas públicas e sem novos desequilíbrios inflacionários.

O presidente Lula vive criticando o mercado. Poderia esnobá-lo, nos próximos dois anos, se conduzisse o governo, até o fim do atual mandato, com gestão fiscal cuidadosa e sem escorregões inflacionários.

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By valeon