História de Isabela Henriques – Tudo Gostoso
Caso de bolo contaminado com arsênio aconteceu no RS e está sendo investigado pela Polícia Civi
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O que se sabe sobre o bolo que matou família no Natal: contaminação com arsênio pode ter sido causada por ingredientes vencidos?
Uma tragédia que aconteceu em Torres, no litoral do Rio Grande de Sul, chocou o Brasil na última semana. Três pessoas da mesma família morreram após ingerir um bolo de Natal, duas no dia 24 e uma no dia 23, e outras duas foram internadas, inclusive a mulher que preparou o bolo. O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Civil, mas exames de sangue de pessoas internadas mostraram a presença de arsênio, substância tóxica usada como veneno e que tem a venda proibida no Brasil.
Arsênio pode ter contaminado bolo que matou família durante o Natal no Rio Grande do Sul
O delegado da Polícia Civil responsável pelo caso informou que tinham diversos ingredientes vencidos na casa de Zeli dos Anjos, 60 anos, que preparou o bolo para o Natal, tais como a farinha utilizada. Além disso, após ouvir relatos da família, também foi apurada a informação de que geladeira de Zeli teria parado de funcionar por alguns dias em novembro deste ano; alguns dos alimentos armazenados, como carnes, foram descartados, enquanto outros, como frutas cristalizadas, foram reaproveitados. Por causa disso, uma das hipóteses era de intoxicação alimentar.
Porém, depois do resultado das amostras de sangue coletadas no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, a polícia investiga a origem do veneno. As análises foram feitas no sangue de Zeli, que preparou o bolo, no sobrinho-neto de 10 anos e na irmã Neuza Denize Silva dos Anjos, que morreu. Ainda é aguardado o laudo pericial feito no bolo para entender se havia presença de arsênio ou outras substâncias tóxicas, que pode ter ocorrido por contaminação cruzada ou intencional.
Assim que comeram os primeiros pedaços de bolo, os familiares sentiram o sabor apimentado e desagradável. Ao ouvir as reclamações, a própria Zeli disse para não comerem mais, mas já era tarde. Quem comeu o bolo começou a passar mal. Apenas o marido de Neuza, irmã da mulher que fez o bolo, não teve nenhum sintomas já que não tinha comido o bolo.
O marido de Zeli, que faleceu em setembro de 2024 também por intoxicação alimentar, terá o corpo exumado para saber se havia presença de arsênio, a fim de verificar se a morte pode ter relação com o caso atual.
Alimentos contém arsênio?
O arsênio é um elemento químico que está presente na natureza e é liberado no ambiente constantemente através de fontes naturais, como vulcões e poeiras. No entanto, segundo a Ficha de Informação Toxicológica da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o arsênio é um subproduto do tratamento de minérios de cobre, chumbo, cobalto e ouro.
Durante muito tempo, o arsênio foi utilizado como veneno de rato, mas teve a venda proibida em 2005 por ser extremamente perigoso. Atualmente, a principal utilização dele é na fabricação de componentes microeletrônicos, semicondutores, diodos emissores de luz infravermelha, diodos lasers, circuitos integrados e células solares. O ser humano pode ser exposto ao arsênio principalmente por água contaminada.
Diversos alimentos podem conter arsênio, como peixes, frutos do mar, carne vermelha, aves e produtos lácteos, o que se dá através da contaminação com água com alta concentração da substância. Contudo, os níveis costumam ser baixos, dentro dos limites impostos pela OMS e que o corpo humano consegue eliminar sem riscos.
Como o arsênio pode ter se tornado ingrediente do bolo?
Não há nenhuma informação concreta da Polícia Civil se o arsênio estava presente no bolo. Contudo, a contaminação pela substância tóxica não tem relação com o uso de ingredientes vencidos para o preparo do bolo. Segundo o químico Ubiracir Lima, do Conselho Federal de Química, em entrevista ao portal Metrópoles, “não há transformação química capaz de ocorrer em alimentos comestíveis que gere arsênio”. O que contém em alimentos é arsênio na forma residual, em baixas quantidades, já que ele é usado como pesticida na produção agrícola.
O químico também esclarece que é improvável que o consumo de arsênio tenha acontecido por alimentos contaminados, o que implicaria em um desvio nas práticas agrícolas, como aplicação exacerbada de pesticida. Se fosse o caso, diversas outras famílias também teriam sofrido intoxicação, já que a maioria dos alimentos são vendidos em lotes.
De acordo com Ubiracir, o mais provável é que o arsênio tenha entrado em contato com o bolo por contaminação caseira, acidental ou não. Como ele foi um veneno para ratos muito popular, não é irreal que a família pudesse ter o produto em casa, obtido ilegalmente. A substância é vendida em pó e, se tiver sido armazenada incorretamente, pode ter acontecido um engano na hora do preparo do bolo que levou à tragédia.