História de LUCIANA COELHO – Folha de S. Paulo
GENEBRA, SUIÇA (FOLHAPRESS) – Quando o encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, começar nesta segunda-feira (20) com seus quase 3.000 participantes, o Brasil estará em um paradoxo.
Por um lado, o país terá sua menor delegação governamental em anos, com apenas um ministro a representar o Planalto: Alexandre Silveira (Minas e Energia), cuja viagem foi adiada por causa da reunião ministerial desta segunda e seria reavaliada ante a crise política que o governo atravessa. No momento da conclusão desta reportagem, conforme apurado, sua
participação era dada como improvável.
Além dele, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) eram aguardados nos Alpes. A ministra Marina Silva (Ambiente) chegou a ser listada em painéis oficiais do evento, mas depois foi substituída pelo secretário do Clima, André Corrêa do Lago, que por sua vez também cancelou viagem.
Fernando Haddad (Fazenda) e o novo diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, que estariam entre pares naquele que é um dos principais eventos internacionais sobre economia, não chegaram a confirmar presença. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve uma participação histórica ao assumir seu primeiro mandato, tampouco aceitou o convite (seu colega Javier Milei o fez de imediato, e mesmo o recém-eleito Donald Trump discursará por link ao vivo no evento três dias após tomar posse).
Por outro lado, pela primeira vez haverá uma Brazil House no balneário alpino onde governos e empresas disputam a atenção de lideranças políticas, empresariais e sociais e sobretudo dos investidores públicos e privados que, por uma semana, circulam pelas ruas desta cidade de 11 mil habitantes todo final de janeiro.
A iniciativa, que visa promover investimentos e oportunidades no país e que até então nunca havia saído do papel a despeito das conversas de variados governos e empresas, tomou forma por uma associação entre Ambipar, BTG Pactual, Be8, Gerdau, JHSF, Randoncorp e Vale, todos participantes frequentes da reunião anual. Na agenda estão paineis sobre finanças ambientais e conservação de florestas, transição energética, sustentabilidade, ciberfinanças e segurança jurídica.
“O Brasil tem um potencial enorme para liderar discussões que são de interesse global, como transição energética, descarbonização, soluções baseadas na natureza, nova economia”, diz Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, para quem o país apresenta excelentes oportunidades para investidores do mundo todo.
“Assim, faz sentido criar um espaço para protagonizar estes debates e mostrar o que temos de melhor a oferecer em termos de negócios, aproveitando o grande número de lideranças globais que circulam por Davos. São desafios complexos, que exigem união de forças entre diversos agentes.”
Os espaços montados por países e empresas na Promenade, a principal rua de Davos, concorrem com os mais de 200 painéis oferecidos pelo próprio Fórum Econômico Mundial no centro de congressos que abriga o evento. Mais de 50 chefes de governo e Estado e líderes de organizações internacionais e multilaterais participarão.
Embora o line-up esteja mais modesto do que em outros anos, há expectativa por Trump, Milei, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o vice-premiê chinês, Ding Xuexiang. Outros grandes países emergentes, como África do Sul e Indonésia, também estarão representados por seus presidentes.
Para a edição deste ano, que recebeu o título de “Cooperação na Era da Inteligência”, os temas dominantes são novas tecnologias (notadamente inteligências artificiais generativas), a crise ambiental e a transição energética, além dos tradicionais debates sobre economia global, cooperação internacional, multilateralismo e segurança.
“O encontro anual de 2025 visa tratar dos desafios prementes das incertezas geoeconômicas, tensões comerciais, polarização cultural e ansiedade com o clima”, explica um porta-voz do Fórum. Para a instituição, reunir tantas lideranças governamentais, empresariais e civis de mais de 130 países, visa “forjar maior colaboração e aproveitar o momento de rápido avanço tecnológico para impulsionar os padrões de produtividade e de vida no planeta”, além de contingenciar os riscos de um mundo fragmentado.
O governo em Berna banca 25% dos 9 milhões de francos suíços (R$ 60 milhões) despendidos com a segurança do evento estrelado, sendo a própria organização responsável por 50% (os demais 25% são divididos entre os governos locais). O investimento trouxe retorno para além da semana de hotéis e restaurantes lotados pelo evento.
Em seus 52 anos, o Fórum idealizado pelo economista alemão Klaus Schwab, hoje presidente do conselho de trustees da organização, já serviu de palco para forjar acordos e alianças globais, o que vem se tornando mais difícil com o esfacelamento do multilateralismo. Nos últimos anos, prioridades são listadas, consensos são elaborados, mas pouca ação se desenrola a partir disso.
O mais interessante em Davos, contudo, é a oportunidade de ouvir de forma informal quem desenha o futuro, seja ao trombar com prêmios nobeis no banheiro ou no café, ouvir banqueiros reunidos avaliarem o cenário global de forma mais ferina do que fazem em relatórios ou dividir a van com acadêmicos que norteiam debates cruciais (neste ano estarão Steven Pinker e Jonathan Haidt). Nesse sentido, a aura alpina segue intacta.