História de Notas & Informações – Jornal Estadão

A emissão de títulos públicos no mercado internacional é uma das maneiras que os países têm para se financiar, obtendo recursos complementares à arrecadação tributária para custear obras de infraestrutura, projetos sociais e de saúde e educação. Quanto menor o risco representado por determinada economia ao investidor estrangeiro, menor a taxa cobrada pelo empréstimo, como podem ser traduzidas essas captações.

Para o Brasil, os juros propostos pelos investidores se aproximam de 8%, como destacou reportagem recente do Estadão, que fez um paralelo entre a taxa de janeiro do ano passado, de 5,38% para títulos de cinco anos, com a obtida no único leilão feito pelo Tesouro Nacional este mês, de 7,72%. Se há um ano os juros para os papéis brasileiros já eram altos, agora são exorbitantes, antevendo uma situação crítica que o governo Lula da Silva, mirando fixamente as eleições presidenciais de 2026, teima em não enxergar para 2025.

Os juros cobrados para os títulos brasileiros estão hoje em patamar superior ao da recessão de 2015, no governo de Dilma Rousseff, como destacou a reportagem. A desconfiança generalizada na política fiscal brasileira e na capacidade do País de honrar suas dívidas num futuro próximo faz os investidores cobrarem caro para assumir o risco. No cenário atual, soa como piada a interpretação do governo, feita há apenas três meses, de que o Brasil estaria a um passo de recobrar o grau de investimento, retirado há dez anos, depois de sete anos de vigência.

Na ocasião, em outubro do ano passado, a classificadora de risco Moody’s, mesmo ainda mantendo o grau especulativo, havia elevado a nota do País diante da melhora no crescimento da economia e da perspectiva de ajustes fiscais para reafirmar o compromisso com a estabilização da dívida pública. Como se sabe, o pacote apresentado no mês seguinte frustrou não apenas o mercado interno, mas também os investidores internacionais, o real despencou ante o dólar, o capital estrangeiro debandou do Brasil e os juros para os títulos brasileiros renovaram recordes.

Embora sem o mesmo estresse de dezembro, quando o Tesouro Nacional chegou a suspender leilões de títulos em razão das taxas excessivamente elevadas, o movimento ainda está em curso. A cotação do dólar acima de R$ 6 já é aceita como padrão para 2025 e títulos com vencimento mais longo já exibem juros acima de 15%, respondendo a uma economia cujo crescimento do gasto público chegou a dois dígitos sem que as receitas demonstrassem o mesmo ímpeto para equilibrar a equação.

Lula da Silva ainda poderia estancar a sangria se focasse na redução de despesas ao invés de buscar fórmulas para fazer o déficit primário caber na meta estipulada por seu próprio governo – como a retirada do cálculo de despesas que ocorreram no mundo real, mas foram ignoradas no cálculo do fantasioso universo lulopetista. É fato que a última das quatro moratórias da dívida externa do Brasil ocorreu 43 anos atrás e que o País conta hoje com um bom colchão de reservas cambiais. Mas, para o investidor, o risco só estará afastado quando os fundamentos internos estiverem sob controle.

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By valeon