História de RFI
Entenda as razões para a saída da Argentina da Organização Mundial da Saúde© REUTERS – Ciro De Luca
O governo de Javier Milei anunciou nesta quarta-feira (5) a saída da Argentina da Organização Mundial da Saúde (OMS). A medida segue o caminho da decisão de Donald Trump e baseia-se na “falha” do organismo internacional ao combater a pandemia de Covid-19 ao promover “quarentenas eternas” das quais a Argentina foi uma das mais afetadas.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
“Ratifico que o presidente Milei instruiu o chanceler Gerardo Werthein a retirar a participação da Argentina na Organização Mundial da Saúde. (A decisão) sustenta-se nas profundas diferenças de gestão sanitária, especialmente na pandemia. Não vamos permitir que um organismo internacional intervenha na nossa soberania, muito menos na nossa saúde”, anunciou o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, durante coletiva na Casa Rosada, sede do governo.
O representante do governo destacou ainda que “a medida não representa uma perda de recursos financeiros nem afeta a qualidade dos serviços”. Para ser membro da OMS, a Argentina paga US$ 10 milhões mensais, além de salários e gastos de representação.
Logo após o anúncio, o governo divulgou uma nota na qual ressaltou que a OMS foi criada em 1948 para coordenar a resposta perante emergências sanitárias globais, mas “falhou na sua maior prova de fogo ao promover quarentenas eternas, sem sustentação científica, quando teve de combater a pandemia de Covid-19”. A nota sublinha ainda que “as quarentenas provocaram uma das maiores catástrofes econômicas da história mundial e, de acordo com o estatuto de Roma de 1998, o modelo de quarentena poderia ser catalogado como um crime contra a humanidade”.
Confinamento e política
Em 2020, entre março e novembro, a Argentina ficou 233 dias em regime de quarentena, considerada então a mais longa e estrita do mundo. “No nosso país, a OMS apoiou um governo que deixou crianças fora da escola e centenas de milhares de trabalhadores sem receita, levando comércios e empresas à quebra. Mesmo assim, custou-nos 130 mil vidas”, reforça o texto. “Tivermos o confinamento mais longo da história da humanidade”, acusou o porta-voz, Manuel Adorni.
“A evidência indica que as receitas da OMS não funcionam porque são o resultado da influência política não-baseadas na Ciência. Além disso, confirmou a sua inflexibilidade para mudar de enfoque e, longe de admitir erros, assume papéis fora da sua competência e limita a soberania dos países”, afirma o texto, que “chama a comunidade internacional a questionar para que existem organismos supranacionais que não cumprem com os objetivos para os quais foram criados, que fazem política internacional e que se impõem sobre os países-membro”.
Em 2020, o economista Javier Milei publicou o livro “Pandenomics” sobre a economia durante a pandemia. Mesmo sob acusação de plágio nos argumentos científicos, o livro tornou-se um documentário e impulsionou Milei à candidatura a deputado em 2021 como uma das vozes mais críticas contra o isolamento das pessoas durante a pandemia.
Inspiração em Trump
Apesar da crítica de Milei, a decisão de retirar a Argentina da OMS só começou a ganhar forma após a iniciativa de Donald Trump ao anunciar a saída dos Estados Unidos da organização assim que tomou posse em 20 de janeiro passado. Milei estava a poucos metros de Trump durante o anúncio que também leva a Argentina a avaliar a saída do Acordo de Paris sobre Clima, seguindo também os passos do chefe da Casa Branca.
Em novembro passado, durante a reunião de cúpula do G-20 no Rio de Janeiro, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, insistiu em ter uma reunião com Milei, que lhe foi negada. Chegou a cruzar-se com o presidente argentino, mas Milei rejeitou o contato.